Mesmo depois da delimitação estabelecida pelo geoprocessamento de Santa Cruz do Sul, ainda há controvérsias sobre o que é Bairro Arroio Grande, Ana Nery e até mesmo Bonfim. A certeza que se tem é que a região do lado sul do mapa do município cresce mais a cada dia, tornando-se um centro comercial que vibra na onda do desenvolvimento, impulsionado pela proximidade da região às grandes indústrias que se instalaram em Santa Cruz do Sul.
Antes, a maior parte do território que se dividiu se chamava Bairro Arroio Grande. Hoje, o Arroio Grande é o sexto bairro mais populoso do município, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), totalizando 5.652 habitantes. É chamado informalmente de Bairro Cidade pelo seu potencial econômico. Para o vereador Francisco Carlos Smidt, essa é uma denominação carinhosa que reflete a sua amplitude. “O Arroio Grande contempla todas as necessidades das famílias em termos de comércio e prestação de serviços”, observa.
Entretanto, não só é um bom lugar para o bom fluxo dos negócios, com destaque para avenidas importantes, como a Barão do Arroio Grande e a Deputado Euclydes Nicolau Kliemann, mas também é opção bastante procurada para as tantas pessoas que desejam fixar suas residências em Santa Cruz.
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Com a chegada dos primeiros adquirentes de terras, grande parte evangélicos, começa a ser construída a história do Bairro Arroio Grande. O livro Cadastros dos prazos coloniais, escrito por volta de 1855 por Johann Martin Buff, traz informações sobre os primeiros moradores do local.
Conforme pesquisa de José Augusto Borowsky, até 2011 não havia a atual divisão dos bairros e o Arroio Grande começava logo após o viaduto do 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), estendendo-se até o Arroio do Almoço – antiga divisa com Rio Pardo. A área foi concedida pelo governo da então província, em 1840, a Antônio Martins da Silveira Lemos e Bernardo José Machado. Em 1855, começaram as vendas das chácaras. Os primeiros a comprar foram os evangélicos Andreas Berlt e João Christóvão Moring, ambos vindos de Utzberg, na Alemanha.
O Arroio Grande desenvolveu-se às margens da Estrada Geral para Rio Pardo, que hoje é a Avenida Deputado Euclydes Kliemann. A origem do nome do bairro é o Arroio das Pedras, que nasce na região de Linha São João da Serra e é afluente do Rio Pardinho. No passado, era chamado de Arroio Grande.
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A Comunidade Evangélica Apóstolo Paulo, vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), está situada no Ana Nery, mas no limite com o Bairro Arroio Grande. Por muitos anos, antes da atual divisão, o prédio do templo ficava no Arroio. A edificação e a atuante comunidade fazem jus à história datada da metade do século 19, que diz respeito aos primeiros compradores de terras na região do Arroio Grande, evangélicos vindos da Alemanha.
Foi na década de 1970, porém, que os moradores começaram a se mobilizar para ter um espaço onde pudessem realizar os cultos. Arquivos e fotos da Comunidade Evangélica Apóstolo Paulo apontam que em 1979 houve uma das primeiras reuniões dos casais fundadores do antes nomeado Núcleo Apóstolo Paulo. Depois disso, o primeiro prédio, ainda pequeno, apenas para realizar as celebrações, foi inaugurado em 15 de maio de 1981. Somente em 8 de dezembro de 2013 ficou pronto e foi aberto aos fiéis o atual templo, situado na Rua Pereira da Cunha, número 169.
Uma das pessoas que fizeram parte dessa mobilização foi Traudi Lindermann, de 92 anos. Junto ao marido Werner, já falecido, participava dos encontros de casais que deram início à fundação da Comunidade. “Éramos dez casais, mas antes já tínhamos culto em salas cedidas. Depois começou a ser construído o primeiro prédio, pequeno, mas foi muito bom, era uma época muito boa. Mas a igreja demorou muitos anos”, recorda.
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Traudi relata que tudo foi conquistado a muitas mãos. “Muita gente não tinha carro, não podia ir até o Centro e ônibus domingo era difícil. A gente queria ter os cultos mais perto. Todos ajudaram muito, nossa turma da Oase era muito unida”, rememora.
Isolde Teresinha Birk, 77 anos, e o esposo Selvino Birk, de 72, moram na Rua Pereira da Cunha, bem em frente à Praça Presidente Costa e Silva, que divide os bairros Ana Nery e Arroio Grande. A maior parte da vida eles viveram no Arroio Grande, mas após a nova divisão de bairro, hoje vivem oficialmente no Ana Nery. As correspondências ainda vêm com confusões, cada vez com um bairro.
A moradora conta que mudou-se para o local há 72 anos, junto dos pais. “Meu pai era ferreiro e abriu uma ferraria aqui na esquina. Quando viemos morar para cá, isso era tudo mato. Mato não, capoeira! Na época que passava o trem ali no meio da praça”, recorda. Casados desde 1974, os dois fizeram do local o lar onde criaram os dois filhos e onde recebem as netinhas. “É um lugar bonito, em frente à praça”, diz Selvino.
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Com o passar do tempo, viram o que era quase desabitado se transformar em um centro comercial cheio de opções e com pessoas vindas de diversos lugares para estabelecer residência. “É bom de morar, tranquilo. Tem lojas, farmácias, mercado. A gente quase nem precisa ir até o Centro para fazer uma compra”, completa Isolde.
Desde 1989, a Telas Arroio Grande escolheu a região para se estabelecer. Hoje situada na divisa dos bairros Arroio Grande, Bonfim e Ana Nery, carrega consigo a marca que o ambiente de bom desenvolvimento do Arroio Grande deixou para a empresa e outros estabelecimentos locais. O proprietário Jorge Vanderlei Lopes, de 59 anos, relata que, há três décadas, criou a empresa como forma de sustentar a família.
O lugar escolhido para estabelecer o negócio foi ao lado da própria casa. “O Arroio Grande é praticamente o coração de Santa Cruz do Sul. Aqui estamos perto do Bairro Centro e também do Distrito Industrial, tanto que nós expandimos nossa empresa para o Distrito. Temos um pavilhão também lá, onde pulsa a parte industrial. E é um excelente lugar para morar, perto de tudo e com uma boa vizinhança”, ressalta. Lopes enfatiza que a empresa se estabeleceu devido ao trabalho sério e honesto que é realizado. “Sempre entregando o que prometemos, com capricho, atendendo bem. Tem que ter seriedade”, complementa. Atualmente, a Telas Arroio Grande tem 30 funcionários diretos, além de 11 representantes estaduais e um internacional.
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Um dos mais tradicionais pontos comerciais do bairro é um mercado, inaugurado em 1974 e situado na Avenida Deputado Euclydes Nicolau Kliemann. Foi passado de geração em geração, e quem administra o estabelecimento hoje é Áurea Maria Schuck, de 47 anos. “Eu cresci aqui, nasci aqui. É um excelente lugar.” Porém, conforme Áurea, agora o tradicional mercado pode estar ameaçado, devido ao anúncio da futura construção de um viaduto. “Estamos com bastante medo, tanto que temos outros comércios aqui do lado, e um já saiu. Já está ruim e agora, com o viaduto aqui, estou com receio e pensando em mudar”, observa a empresária.
Importantes empreendimentos fixaram-se no Bairro Arroio Grande. Na década de 1960, com a formação do Distrito Industrial, que abriga diversas grandes empresas e fica muito perto da região do Arroio, houve uma expansão imobiliária na região, o que permanece até os dias de hoje.
Antes, o acesso ao Distrito Industrial era feito pela estrada velha que levava a Rio Pardo. Porém, com a ampliação do número de indústrias, foi aberta uma nova via, a partir do Posto Arroio Grande, que é a Avenida Castelo Branco, asfaltada em 1971.
De acordo com o presidente da Sociedade das Empresas Imobiliárias de Santa Cruz do Sul (Seisc), Flávio Bender, o Bairro Arroio Grande representa uma fatia bem ampla do mercado imobiliário, muito embora o “boom” na região tenha ocorrido do término dos anos 1980 até o final dos anos 1990. “Naquela época era inclusive chamado de Bairro Cidade, pois é um bairro com toda infraestrutura necessária e proximidade do nosso Distrito Industrial, o que facilita no deslocamento dos que lá trabalham.”
Bender salienta que o local é muito escolhido por cidadãos que querem fixar moradia devido sua proximidade das indústrias e do Centro de Santa Cruz do Sul. “O Bairro se tornou também um local de bastante empreendimentos do ‘Minha casa minha vida’. Foram edificados muitos prédios de apartamentos e geminados.”
Quanto à procura na parte comercial, conforme Bender, o motivo é a grande concentração de moradores, que leva os comerciantes a se estabelecerem nas vias de acesso ao bairro, como a Avenida Euclydes Kliemann e a Barão do Arroio Grande. “Não é só o Bairro Arroio Grande. Na realidade chamamos de Arroio Grande mais bairros, tais como São João e Aliança, entre outros”, esclarece.
*Colaborou José Augusto Borowsky
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