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Armênia: a primeira nação cristã

O Monte Ararate, em território turco, como visto a partir da capital armênia, Yerevan

Antes de partir em direção ao norte da Armênia, a primeira frase que escutei do erudito guia David foi: “Bem-vindo a um dos dias mais interessantes da tua vida”. O decorrer daquele ensolarado final de semana mostraria que ele tinha razão. A Armênia possui uma cultura ancestral monoétnica em um território montanhoso, histórico e turbulento da Ásia Ocidental.

O país já estava estabelecido nove séculos antes de Cristo e atingiu seu auge no século 1 a.C., quando o monarca armênio Tigranes, o Grande (140-55 a.C.), reinava do Cáucaso até Jerusalém. No ano 301, a Armênia se tornou o primeiro país do mundo a adotar o cristianismo como religião oficial. Desde então, pouco mudou no rito da Igreja Ortodoxa Apostólica Armênia, que permaneceu independente das igrejas ortodoxas orientais e do mundo cristão ocidental. Os belíssimos monastérios e igrejas presentes pelo país, capitaneados por cerca de 700 padres, representam um museu vivo do protocristianismo que, segundo os nativos, teria sido fundado pelo apóstolo Bartolomeu. Alguns brincam ao dizer que os armênios já eram cristãos antes de Cristo.

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O maior ícone da nação fica, curiosamente, na vizinha Turquia. Presente nos símbolos nacionais, na literatura e na moeda local, o sagrado Monte Ararate (5.137 metros) é o pano de fundo da capital Yerevan, encravada na fronteira entre os dois países. Embora não haja referência bíblica específica no livro do Gênesis, a montanha foi historicamente identificada com o local onde a arca de Noé teria encalhado após o dilúvio.

Enchentes e terremotos, aliás, seguem assombrando a pequena nação. Pelas estradas armênias, observei os estragos causados pelas cheias de maio de 2004 na região norte do país. Catástrofes naturais, como as 35 mil mortes causadas por um terremoto em 1988, fazem parte da longa e sofrida história da Armênia, assim como os massacres provocados por invasões estrangeiras. Romanos, persas e otomanos foram responsáveis por ataques regulares. O pior deles aconteceu durante a Primeira Guerra, quando os turcos perpetraram o Genocídio Armênio, matando 60% da população de 2,5 milhões de habitantes. Boa parte pereceu, sem água e sem comida, em uma marcha forçada pelos militares otomanos na direção dos desertos da Síria.

O morticínio (1915 – 1923) causou um êxodo sem precedentes. Hoje, há 2,5 milhões de habitantes no território armênio e mais de 10 milhões de nativos e descendentes vivendo em outros países, em especial na Rússia, Estados Unidos e França. Expoentes de etnia armênia incluem o cantor Charles Aznavour, o tenista André Agassi, Kim Kardashian, a cantora Cher, o pai da cirurgia plástica, Varaztad Kazanjian, e os inventores Raymond Damadian (ressonância magnética), Luther George Simjian (caixa eletrônico) e Gabriel Kazanjian (secador de cabelo).

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Outro curioso efeito do extermínio foi a proibição de freiras no país desde a década de 1920. A Igreja da Armênia vetou a ordenação de mulheres para que a população crescesse mais rapidamente. Casar e ter filhos se tornou uma prática obrigatória.

A história mostra que civilizações antigas convivendo em uma mesma região tendem a entrar seguidamente em confusão. A Armênia não é exceção. Dos conflitos com otomanos, romanos e persas ao quiproquó atual com o Azerbaidjão em torno do exclave de Nagorno-Karabakh (nesse caso, o Azerbaidjão parece ter razão), a história do país está repleta de batalhas sangrentas. Internamente, o problema não é menor.

Em 1999, uma organização terrorista armênia entrou no parlamento com fuzis Kalashnikov e abriu fogo. O primeiro-ministro Vazgen Sargsyan foi uma das vítimas fatais. Vicissitudes à parte, a Armênia é uma nação simpática e culturalmente rica, que vale a pena estudar e visitar.

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No pequeno vilarejo de Sanahin, surpreendi-me ao ver um monumento de concreto sobre um caça MiG-21. Descobri então que aquele é o local de nascimento dos irmãos Artem e Anastas Mikoyan. Artem (1905-1970) é um dos inventores dos aviões MiG (abreviação de Mikoyan-Guryevich), que revolucionaram a aviação militar com flexibilidade e agilidade inéditas. O irmão dele, Anastas (1895-1978), foi o membro mais longevo do politburo soviético, de Stálin a Brezhnev. Como um dos pontos altos da minha visita, ficou a agradável conversa com a neta de Artem Mikoyan, que hoje cuida do pequeno museu dedicado aos famosos irmãos armênios.

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