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Segunda gravidez

Apresentadora Mariana Ferrão fala sobre parto normal

A jornalista e apresentadora do programa Bem Estar, da Rede Globo, Mariana Ferrão emocionou seus seguidores na última semana com um relato detalhado do seu parto natural na gravidez do segundo filho. Mariana já era mãe de Miguel, que nasceu de cesárea, e pretendia que João viesse ao mundo da forma mais natural possível. 

Na última segunda a jornalista postou um desabafo no Instagram. “Perdi a conta de quantas vezes me disseram que eu não poderia ter um parto normal…” O primeiro foi normal?” Não, foi cesárea. “Ah, então o segundo também vai ser”. ” Por que você não marca logo?”. Quanta gente falando a mesma coisa, quantos médicos que foram ao programa e me disseram a mesma coisa! No final, cansei de ser sincera. Já estava falando pra todo mundo que o Miguel tinha nascido de parto normal também.”

Já na quarta-feira, 2, ela postou o relato que emocionou os seguidores nos perfis do Facebook e do Instagram. Leia abaixo o texto na íntegra. 

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“Vai fazer uma semana… 40 semanas e 4 dias e eu pedia um sinal. Abri o livro ‘Parto com amor’, que a Isa tinha me emprestado: o relato era de uma mãe que no dia em que entrou em trabalho de parto havia almoçado com uma amiga que não tinha filhos e que ficou desesperada em saber que ela estava tendo contrações à mesa. Hum, quem sabe?! – pensei já que tinha almoço marcado com a Marina.. No cafezinho, depois de eu contar que estava com cólica e dor no interno de coxa, a Marina disse: “Pelo amor, hein, o João não vai nascer aqui”. Contei pra Marina a história do livro e ela disse: ‘Será?’.

Mas o dia acabou e nada.

40 semanas e 5 dias. Acordei cedinho e fui caminhar no Ibirapuera. Chorei no carro angustiada: ‘E se eu não entrar em trabalho de parto? E se eu tiver de marcar cesárea depois que completar 42 semanas?’. O André [André Luiz Costa, repórter e marido de Mariana], tentando me acalmar, disse que ainda tinha tempo, mas que eu devia estar preparada também para o que eu não queria…

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Enquanto ele fazia o treino de corrida, fui andar e decidi ouvir uma das meditações que o Kalim tinha me sugerido (bringing all expectations to an end). O nome não poderia ser mais sugestivo.
Num inglês difícil de entender, Rupert Spira resume: ‘a expectativa é a própria negação daquilo que você tá esperando’. Caiu como uma luva: João já tava aqui, a vida toda dele dentro de mim. Tudo que eu precisava tava dentro de mim. Foi um conforto enorme me conectar com aquela presença, com aquela luz, com a paz que esta sensação me trouxe.

Saí do parque com um sorriso no rosto e com bastante cólica na barriga.

Meio dia fui pra drenagem. Às 13h15 tava almoçando com o André no Nino, um restaurante que a gente queria conhecer fazia um tempo. Comi um pargo delicioso e enquanto esperava o manobrista buscar o carro, vi uma borboleta amarela. Passei numa loja que sempre quis entrar e nunca tinha tido tempo. Comprei enfeites pro quartinho do João – um grilo falante, a própria consciência, um globo terrestre e uma caixinha de música com um macaquinho rodopiante. Ano do Macaco, certo? Criaturas alegres, divertidas, que gostam de nos pregar peças. João tava me dizendo que ele viria do jeitinho dele, não adiantava eu tentar advinhar quando.

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Abri um livro de poemas que estava em cima do balcão:

‘Anjo meu
Permita-me ser
graciosa com você
mais do que sempre fui
desnude sua alma
para termos uma existência
em conjunto
com menos mistério
plenos de amor e confiança
eis a base de nossa aliança’

Da loja, fui pra fisioterapia de períneo

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Tava conversando no carro com a Bia Câmara e contei pra ela a minha história com borboletas amarelas, que desde que minha mãe morreu, em 99, borboletas apareciam na minha vida em momentos importantes. Ela disse: ‘Ai, Mari, super acredito em sinais e o Antônio tá aqui mamando com um macacão amarelo’. Ouvi isso ao mesmo tempo que entregava o carro para o manobrista com um crachá enorme: João! Fazia mais de 4 meses que tava frequentando o prédio e nunca tinha visto aquele manobrista.

‘É novo’, a Mirca confirmou. ‘Não conheço nenhum João’.

Contei pra Mirca que tinha marcado para o dia seguinte acupuntura para induzir o trabalho de parto. ‘Você não vai fazer’, ela foi categórica.

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Quando saí da sessão, o interno de coxa puxava minha perna que mal conseguia andar. Parecia que tava rasgando tudo. Meu celular tava sem bateria e eram 5 da tarde. Bom, se eu sentar no carro e a dor não passar, volto para o consultório da Mirca… Mas a dor passou e o trânsito colaborou. Num dos raros faróis fechados que peguei, vi a mensagem da Helô com uma foto do João dela: ‘De João pra João, vem tranquilo, parceiro’. Liguei pra Helô e fomos conversando até eu chegar em casa.

Miguel chegou em seguida da escola, sentei no tapete pra brincar de carrinhos. A cólica tava mais forte e a dor na perna também. As contrações voltaram.

Mais um alarme falso? Já tinha tido vários nos últimos dias.

Mas sentia que desta vez, a coisa toda ia começar. Liguei pro André. ‘Você já ligou pra médica? Vou tentar sair o mais rápido possível’.

Mandei mensagem para a médica. ‘E as contrações, de quanto em quanto tempo?’. Vou tomar um banho e medir a frequência.Saí do banho às 19hs. Liguei de novo para o André. ‘Tô saindo’. Vem porque tô achando que o negócio tá apertando. A enfermeira me ligou: ‘A doutora disse que está no trânsito por causa do show do Rolling Stones e ficou sem bateria. Pediu pra te dar outro celular, você anota?’ Claro. ‘Não entra no banho’. Acabei de sair. ‘Não entra no banho’. Mas eu acabei de sair. Por que? Pode parar tudo? ‘Não, você pode relaxar e nascer no banho’. Dei risada. Não, não tá assim ainda… Na verdade, eu tava querendo ainda me policiar para não me frustrar no caso de mais um alarme falso. Era muito bom pra ser verdade. Estava mesmo chegando a hora.

Eu já tinha mandado mensagem para a Mirca que também estava a caminho de um atendimento no Morumbi: ‘Se você quiser, aviso que não vou e vou direto para a sua casa’. Não, dá tempo. Me liga depois.

O André chegou. Fiquei mais calma. Deu tempo de dar o jantar para o Miguel, dar banho.
A Mirca tinha acabado o atendimento. ‘Tô indo para aí’. Não, eu vou jantar ainda. Passa na tua casa, come alguma coisa. ‘Tá bom’.

Logo depois fui colocar o Miguel para dormir. ‘Deixa a porta aberta, amor, porque qualquer coisa peço substituição aqui na historinha’. Sentei na cadeira, apoiei a perna na cama do Miguel, comecei a ler. Peraí, filho. Ufa. Passou a primeira contração forte. Seguimos a história (não consigo lembrar qual era) e logo em seguida, veio a segunda… Amor, amor. Preciso de substituição. Miguel me olhou com uma carinha, pedi um beijo e falei para ele me desejar boa sorte. Ele me deu um beijo molhado, igualzinho aos beijos que minha mãe me dava. Aquilo me deu uma força, uma força!

Coloquei meu prato no micro ondas enquanto telefonava para a Mirca. ‘Tô indo’

Abaixei o som da Regra do Jogo (se a novela tava me irritando era porque era sério mesmo. Normalmente me irrito quando não consigo escutar a novela). Comi duas garfadas – veio outra contração. Outras duas garfadas – mais uma contração.

A Mirca chegou. Eu tava apoiada no sofá, me segurando pra passar por mais uma. “Deita no sofá que eu vou fazer ultrassom nas suas costas’.

O André tava assustado. ‘Vamos?’

Calma, vou fazer ultrassom nela. Dá tempo de você jantar. Jantar e tomar banho, se quiser.
Ele comeu, tomou banho.

E eu só pensava que desta vez não íamos chegar cedo demais ao hospital. Era tudo o que eu queria. Chegar na hora certa, sem muito tempo para procedimentos-padrão. Saímos de casa.
No carro, as contrações pioraram muito por causa do desconforto da posição. A Mirca foi fazendo massagem na lombar o tempo todo e me dizendo: pelo andar do trânsito temos mais três até lá. Agora, só faltam duas. Vocaliza, vocaliza que ajuda.

Quando saímos ela brincou: ‘Agora tem a do elevador. Parto normal sem contração no elevador da maternidade, não é parto normal’

A do elevador foi inesquecível. Cheguei na triagem gritando: ‘Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah’.

A moça parecia não ter pressa nenhuma. Eram 22h20. Entre uma contração e outra ainda deu tempo de falar um oi para uma amiga do meu tio João que me reconheceu.

Quando o André subiu com as malas, a Mirca me perguntou se eu queria sentar ali mais pra frente do corredor já que estávamos bem na passagem e os meus urros tinham ganhado muita plateia.

Mal sentamos, passou uma enfermeira: ‘Paciente da Doutora Diana?’ Sim. Ela nos colocou na salinha de pré-parto. O mesmo cenário da cesária do Miguel. Ainda bem que não dava tempo de pensar em nada entre uma contração e outra.

Uns cinco minutos depois a doutora Diana chegou: ‘Vou te examinar’.

Não sei se consigo deitar.

Consegue, só um pouquinho.

Tudo bem com o bebê. Você já está com sete centímentros de dilatação.

7? Uhuuu!

O número parecia grande o suficiente. Sabia que a dor dali pra frente não poderia ser tão pior. Lembrei da conversa que tive com a Celine, doula: ‘Imagina que você está escalando um vulcão. Veja o quanto já ficou para trás. Olha quão pouco falta para chegar ao cume’. Santo deserto do Atacama que me ensinou que dá pra chegar aos 6.600 metros de altitude – um pouco sem ar, um pouco sem consciência – mas a vista vale a pena, vale muito a pena!

Você quer entrar no banho? Vou providenciar uma bola.

Sentei na bola, a Mirca segurando meu tronco, sua voz me guiando pela escuridão da dor. A doutora Diana segurando o chuveirinho quente na minha lombar. A bola pressionando o meu períneo que sentia cada vez mais pressão.

A enfermeira Patricia chegou. Assumiu o chuveirinho.

Dali a pouco a doutora Diana voltou: ‘Tá com fome’.

Sede. Muita sede. Boca seca, seca.

Há quanto tempo eu já estava no banho? Há quanto tempo sentia aquela dor? Quanto dura uma contração? 9 meses?

Meus ombros chegando a orelha de tão tensos. A Mirca dizendo: ‘Você tá indo muito bem, garotinha’

Eu tinha vontade de rir. Bem? Isso é ir bem? Nos intervalos eu tinha muita vontade de rir.

A doutora Diana voltou: ‘Como está aí?’

Tá F**A! – aquele foi o palavrão mais bem aplicado de toda minha vida. E aliviou mesmo, como a Doutora Ana já disse algumas vezes no Bem Estar. Um palavrão bem aplicado ajuda muito a aliviar a dor.

Aliviou, mas voltou.

Eu quero anestesia. Anestesia, por favor.

O André: ‘Mari, você tá indo muito bem. Tô orgulhoso de você. Você não quer anestesia’.

Há quanto tempo já estamos no banho, pensava.

Mais duas contrações.

Anestesia, por favor.

Não, respira. Você tá ótima.

Eu tinha escrito no meu plano de parto que não queria analgesia e tinha instruído todo mundo a negar a anestesia quando eu pedisse.

Podia ficar brava com eles?

Então eu quero sair do banho.

‘Vou te examinar de novo’

Dilatação total – 10 centímentros.

Jura? Jura? – claro que as indagações não saíram… Então eu posso? Então eu vou conseguir ter um filho de parto natural depois de uma cesária?

O João vinha descendo. Eu sentia. Doía.

A doutora Diana perguntou: ‘Você quer ir para o Centro Cirúrgico?’

Precisa?

Não.

Então prefiro ficar aqui.

Você quer colocar música? Você disse que ia preparar uma playlist do parto….

Eu fiz.

Fez? O André surpreso!!!

Fiz, mas não sei se quero música.

A Mirca: ‘Se você fez, as músicas vão te remeter a bons momentos, vão te ajudar.’

Pega meu celular.

Ligamos a playlist.

Não lembro qual foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira…

Mas ajudaram.

Uma força brutal e… Splash!

Tomei um susto com a bolsa espatifando no chão.

‘Líquido clarinho, tudo certo’

Eu apoiada na barra da cama, o João parecia preso no mesmo lugar.

‘Você quer experimentar fazer força no banquinho. Acho que vai ser bom’

Sentei no banquinho.

Não lembro quantas vezes fiz força, só lembro quando comecei a sentir vontade de fazer força.
Os puxos. Os puxos. Tá chegando. Tá chegando – era só o que pensava – Tá acabando.
Mais uma força. E a única coisa que consegui falar foi:

Vem, João.
Vem, João.

O André apoiando minhas costas.

A Mirca tirando fotos.

A Doutora Diana massageando e alargando a passagem com vaselina com aquele olhar sereno.

Vem, João.

Ele saiu. Meia noite e nove.

Lágrimas nos olhos. Agora. De novo. E sempre. Eu (re) nasci no meu parto, no parto do João.

Obrigada, filho!
Obrigada, filho!
Obrigada, filho!

Não me lembro quantas vezes disse isso, enquanto o segurava pela primeira vez.”

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