Começo falando de uma experiência real. Já formado em geologia, me inscrevi no concurso para trabalhar na Petrobras. Quando vi meu nome entre os aprovados, imaginei que resolvera a vida. Assim, depois de um curso de especialização em Geologia do Petróleo, disponibilizado pela própria Petrobras, passei a atuar no campo petrolífero do Recôncavo. No início daqueles anos 80 tudo parecia muito bom, as condições de trabalho, o salário, a estadia e, sobretudo, as perspectivas. Todavia, enquanto descrevia as amostras, os questionamentos se achegavam.
Do fundo dos poços não emergiam apenas testemunhos de rocha, vez ou outra impregnadas por óleo. Subiam preocupações com a família e perguntas quase estranhas. Ficava a pensar se era isso o que estaria a fazer daí a dez, vinte, quem sabe trinta anos… Posteriormente, já não mais na Petrobras, me dei conta de que não se deveria seguir apostando no petróleo e no carvão como fontes de energia. Sim, mesmo reconhecendo que o petróleo nos proporciona um grande número de produtos importantes em nosso dia a dia e que a Petrobras oportuniza significativas pesquisas e programas de conteúdo ambiental, o fato é que eu contribuí para o aquecimento global.
Relatei essa experiência para fazer uma pergunta: aquilo que estamos fazendo, e para o que nos formamos, fortalece o cenário das mudanças climáticas? Ainda há poucos dias, idôneos institutos de pesquisa colocaram o ano de 2023 no pódio do aquecimento global, porém não nos iludamos, 2024 pretende assumir esse lugar. Lugar feito de estragos, transtornos e até morte, a exemplo dos temporais dos últimos dias.
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Responder à pergunta acima implica em nos postarmos criticamente perante um modelo civilizatório, pois tendemos a minimizar o processo degradatório e achar que através da tecnologia e racionalidade humana vamos encontrar soluções, nem que estas exijam altos investimentos e tempo, o que nos traz um certo conforto justificatório. Voltemos ao meu caso como geólogo que prospectava petróleo. Poderia dizer que cumpria com meu dever e seguia ordens. Lembro que éramos felicitados quando os poços se revelavam promissores. Dificilmente nos damos conta de que também o “meu” trabalho pode estar contribuindo para os extremos climáticos, até porque tudo está interligado e nossa ação interage em misteriosas combinações que, por sua vez, acionam outros mecanismos com reflexos planetários e locais.
Assim situados, em resposta à questão acima levantada, não para nos desvencilharmos de culpas, mas para nos exercitarmos virtuosamente se nos apresenta um convite proximal que vem do Cinturão Verde, corpo de nosso corpo. Com o lançamento, nessa sexta-feira, ao final da manhã, do “Movimento Cinturão verde 30 anos”, no contexto de uma cidade socioambiental, se nos oportuniza praticar, individual e coletivamente, um novo aprendizado/ação.
Esse exercício talvez nos alavanque em tudo o mais que estivermos fazendo e estudando. Assim, você e eu, todos nós, somos convidados a nos integrar, cada um a seu modo e vontade, ao Movimento pela preservação e recuperação do Cinturão Verde de nossa cidade. E para isso, precisamos ir além do tradicional “fazer”, ou seja, há que se formatar um novo processo de aprendizagem, apesar de nossos desacertos, como o meu de prospectar petróleo, quando poderia ter aprumado esforços geológicos num sentido mais promissor.
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Não se trata de algo fácil. A busca por um novo conhecimento que nos impulsione em coletiva ação integratória, ao tempo que nos fascina, envolve incertezas, relativização de padrões e procedimentos. Estamos preparados para aprender a reaprender, e assim agirmos resolutivamente, até porque há muito a ser feito?
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