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Aposentadoria: tempo de mudanças e muitas possibilidades

No dia  24 de janeiro, comemora-se o Dia Nacional do Aposentado. Pouco  comemorada, a data é apenas  lembrada  por alguns protestos, promovidos por associações de aposentados, mas sem força para influir ou, ao menos, obter a atenção de governantes. À parte essas mazelas, a data foi escolhida porque, nesse mesmo dia, em 1923, foi assinada a Lei Eloy Chaves, que criou, na época, a caixa de aposentadorias e pensões para os empregados de todas as empresas privadas das estradas de ferro. Foi uma mudança da Previdência Social que, até então, atendia apenas os funcionários do governo federal. A lei, também, foi base para muitas outras legislações e normas que foram criadas nos últimos anos.

Nos primeiros dias, semanas, meses ou, até, nos primeiros anos da aposentadoria, é só alegria, tranqüilidade, prazer para aproveitar os dias livres. Acordar mais tarde e ficar assistindo televisão até altas horas da noite, sabendo que poderá recuperar o sono perdido, no dia seguinte. O fato de não ter mais compromissos diários – hora para chegar, nem sempre para sair; prazos de tarefas estourados; volume de serviço exagerado; dificuldades de relacionamentos com colegas, superiores, clientes… – pode dar a falsa impressão de que, agora sim, a pessoa  está completamente livre.  

Para quê? Para esperar apenas a vida passar? Ou, como diz Armelino Girardi, criador do site DESaposentado, assumir o nome de “Jáque” para familiares, vizinhos, amigos: – já que estás aposentado, não fazendo nada, podes pagar isso, fazer aquilo, buscar ou levar alguém ou alguma coisa, etc.? Depois de um tempo, entretanto, os dias começam a ficar mais longos – e as noites, também – e daí, muitos aposentados começam a sentir um vazio existencial  e a sensação de inutilidade, procurando afogar esses sentimentos depressivos em copos ou garrafas de bebidas alcoólicas.

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Ao se aposentar, muitas pessoas, não abandonam as máscaras profissionais que usavam nas empresas, em detrimento da autêntica identidade pessoal. Tendo exercido cargos de comando, não perdem oportunidade, em qualquer situação ou evento, de manifestar seu perfil autoritário. Outras, não conseguem deixar de usar, diariamente, o uniforme da fábrica, ou, então, de comparecer ao ex local de trabalho, do qual foram desligadas.  

São casos extremos de pessoas que não só vestiram a camisa de sua empresa como assumiram a pele dela. Em vez de entender a aposentadoria como um processo que faz parte da vida – uma oportunidade de mudança -, alguns poderão optar por continuar vivendo como se ainda estivessem na ativa. A perda de sobrenome corporativo pode ser tão cruel quanto uma separação. 

Para os homens, a adaptação à vida de aposentado é mais difícil porque, durante muito tempo, tinham o papel exclusivo de trabalhar para prover e garantir o sustento da casa. Com o tempo, podem sentir-se inúteis e entrar em depressão. Já as mulheres aposentadas, submetidas, durante a vida toda, a jornadas diárias duplas ou até triplas, conseguem adaptar-se mais facilmente a essa nova etapa, pois, na verdade, deixam de fazer alguma, podendo dedicar-se com mais tempo e prazer a outras. 

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Ao se aposentarem, as pessoas estão começando a fazer mais do que apenas participar de clubes de terceira idade, aulas de dança, viagens… Muitas querem continuar produtivas nos anos extras de vida, ainda mais que, de acordo com  levantamento do IBGE, a expectativa de vida do brasileiro está aumentando e coloca uma questão, replicando o perguntavam quando crianças: o que você vai ser quando se aposentar? 

Mesmo sendo uma situação aguardada há muito tempo, quando a aposentadoria  fica mais próximo, algumas pessoas se assustam porque tem muito apego à empresa e às pessoas com quem conviveram, às vezes durante muitos anos, o que torna difícil o momento da separação. Preocupadas com isso, muitas empresas oferecem a seus funcionários programas de preparação para a aposentadoria. Esses programas visam convidar as  pessoas, prestes a aposentar-se, a fazer uma reflexão sobre o que pretendem fazer nos próximos anos e planejar suas ações, não só na área financeira, geralmente muita afetada, mas em vários aspectos da vida prática de um aposentado, o que inclui sua família, seus vizinhos, seus amigos. No Japão, a preocupação com o aposentado é tão grande que um psicólogo criou um estudo, chamado de Síndrome do Marido Aposentado – em inglês, Retired Husband Syndrome. Com a presença constante do marido em casa, muitos casais entram em crise por não saberem conviver o dia inteiro, começando por pequenas implicâncias até terem problemas maiores.

Para quem não teve a oportunidade, nas empresas, existem institutos que promovem cursos específicos para quem já se aposentou ou está pensando em aposentar-se. Em Curitiba (PR), Armelino Girardi, criador e mantenedor do site www.desaposentado.com.br  promove cursos de preparação para aposentadoria, em formato de EAD ou presencial. Esses cursos visam capacitar  as pessoas para a transição de vida e de carreira, bem como despertar um novo sentido à existência daquelas pessoas já aposentadas.     

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Por isso, no início da aposentadoria, é recomendável fazer uma pausa, como se fosse um intervalo de um jogo, entre o primeiro e o segundo tempo. Porque, na verdade, a aposentadoria deve ser encarada como um segundo tempo da vida, aberto a muitas possibilidades, igual a águia que, em algum momento de sua vida, renova, com muita dor, as garras dos pés e o bico, já gastos pelo uso.  É possível, por exemplo, encontrar uma carreira aos 70 anos. Segundo o psicólogo Ken Dychtwald, conhecido como o “Guru do envelhecimento da América”, “talvez, as fantasias dos anos 90 eram apenas um sonho”. Existem  duas razões principais  que levam profissionais aposentados a procurem algo para fazer e que lhes renda dinheiro:

1) necessidade para complementar a renda, principalmente  para pessoas menos qualificadas, profissionalmente; e,

2) o próprio mercado que, muitas vezes, procura esses profissionais quando a atividade exige mais responsabilidade, disponibilidade e respeito ao horário, além de poder contar com conhecimentos e experiências nem sempre registradas em manuais. Não há limites para o que uma pessoa pode fazer, exceto os de sua própria mente.

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Dados da pesquisa “O Preparo para Aposentadoria no Brasil”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), constatou que oito em cada dez brasileiros não tem preparação para a aposentadoria. Além disso,  um arrependimento bastante comum entre os aposentados foi não terem economizado mais enquanto estavam na ativa. Em muitos casos, estarão em situação de vulnerabilidade social se dependerem da ajuda financeira de filhos/filhas e genros/noras. Sem considerar os inúmeros casos em que o aposentado ajuda ou é a única fonte de renda de uma família, muitas vezes aumentada com a presença de genros, noras e netos, além dos próprios filhos e filhas.  As recomendações  aos candidatos à aposentadoria são: 1) não se precipitar para aposentar-se; 2) diversificar as fontes de renda; 3) levar em conta os gastos familiares; 4) ser realista com as despesas futuras.

A maioria das pessoas já leu ou, amenos, já ouviu falar sobre a importância de começar a poupar e investir, de modo a garantir uma aposentadoria mais segura, financeiramente. Mas, quando se é jovem ou se está começando uma atividade profissional, a aposentadoria parece ser assunto muito distante. Só que os anos passam e quando a pessoa se dá conta já está contando os dias, meses ou até anos  que faltam para aposentar-se. Aí,  pode ser tarde ou, no mínimo, mais difícil conseguir fazer um “pé de meia” para esta nova etapa da vida. Assim, o especialista em educação financeira, Antônio de Júlio, listou 5 motivos pelos quais a melhor hora de investir na aposentadoria é agora: 1º) tempo: quanto mais a pessoa dispor, mais fácil será juntar uma boa grana; 2º) disciplina: o hábito de poupar ajuda a pessoa a policiar-se financeiramente; 3º) estilo de vida: o que a pessoa quer fazer quando se aposentar – viajar, onde morar, etc.; 4º) demografia: com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros, no futuro a tendência é de que existam mais pessoas idosas que dependam da previdência oficial; quer dizer, o que está ruim pode ficar pior; 5º) acesso: hoje em dia, só não investe quem não quer; dizer que para poupar precisa de muito dinheiro é desculpa. 

No início de um novo ano, ainda dá tempo de fazer mais uma promessa: começar a garantir a saúde, não só física e mental, como também a financeira para os anos que virão em seguida, seja lá com que idade for.  Na aposentadoria, não se precisa  mais correr tanto, nem se deve parar de vez com tudo. Pode-se juntar todos os conhecimentos e experiências, acumulados durante o período  de trabalho e da própria vida, e usar o tempo disponível para ocupar-se com atividades significativas e que tragam prazer. Às vezes, até dinheiro. Aposentadoria pode significar, pois, um tempo de muitas possibilidades. Ou nenhuma. Tudo irá depender de como a pessoa vai lidar com essa nova condição.

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