Em meio a tantas datas comemorativas, previstas no calendário anual – algumas mais importantes, outras mais badaladas e a maioria apenas para constar -, o dia 24 de janeiro, Dia do Aposentado que se confunde com o Dia da Previdência Social, como em outros anos, praticamente, passou “batido”. Isso que, se nenhum percalço acontecer, interrompendo a jornada antes da “data de validade” ou da expectativa de vida, em algum dia a maioria das pessoas, de alguma forma, estarão aposentadas.
Hoje, aposentadoria não deve mais significar “fim de linha” ou, como dizia a letra de uma música de Raul Seixas, “ficar sentado, de boca aberta, no meio da sala, esperando a morte chegar…”. Aposentadoria não significa, também, assumir aquela nova identidade, um novo nome – “Jáque”, criado por familiares, amigos, etc. “Já que estás aposentado (não fazendo nada, pensa ou até diz a pessoa que pede o favor ) poderias ir ao banco, levar as crianças para o colégio, pagar uma conta, levar o cachorro pra dar uma volta e outras tarefas…” É claro que não custa nada, de vez em quando, realizar alguma dessas tarefas ou todas, mas como favor. A não ser que a pessoa realmente queira assumir, com muito prazer ou até como missão de vida, essas atribuições.
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A população dos países de todo o mundo está envelhecendo. No Brasil, além de não ser diferente, na última década, a proporção de idosos passou de 8,8% para 11,1% do total da população, numa expansão mais rápida do que em muitos países europeus. É o resultado de conquistas do passado – o ex-presidente Lula talvez pense que é por causa dele –, como diminuição na mortalidade infantil, avanços na medicina e melhoria nas condições gerais de vida. Some-se a isso a redução na taxa de natalidade e, possivelmente, a partir de 2039, atingido o pico de 220 milhões de pessoas, a população brasileira deverá começar a encolher. Ao mesmo tempo, o total de idosos começará a ultrapassar o de jovens de 15 a 29 anos.
Com base nesses números e outros de ordem financeira, apresentados pelo governo federal, que alega o crescimento exponencial do déficit da Previdência Social no Brasil – representantes de servidores públicos e professores de universidades federais rebatem o discurso oficial sobre a necessidade de mudanças no sistema –, o fato é que os brasileiros estão discutindo as mudanças que poderão ser implementadas na Previdência Social a partir da PEC 287/2016, envida ao Congresso Nacional pelo Governo Federal, no final do ano passado. Todos estão fazendo suas contas diante da possibilidade da ampliação da idade mínima para aposentadoria e do tempo mínimo de contribuição.
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Essa preocupação com a futura aposentadoria da população não é exclusividade do Brasil. Em 2014, a diretora do FMI, Christine Lagarde, afirmou que “os idosos vivem demasiado e isso é um risco para a economia global. Há que tomar medidas urgentes”.
É claro que a afirmação gerou comentários e protestos, principalmente nas redes sociais. Mestres e doutores universitários, principalmente de viés ideológico de esquerda que pensam que só eles se preocupam com as pessoas, o que a realidade desmente, fizeram uma leitura demagógica ou canalha mesmo da afirmação.
O que, certamente, a diretora do FMI quis dizer de forma realista é que a pessoas vivem mais tempo e, portanto, as previdências públicas vão ter que se preparar para arcar cada vez mais tempo com os aposentados. As medidas urgentes de que ela fala são sobre como resolver essa equação. Há alguns anos, a expectativa de vida do aposentado era de três a quatro anos; hoje, é comum a pessoa viver mais tempo aposentada do que o tempo em que ela contribuiu para a previdência oficial..
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Quem já é aposentado, dependendo só da previdência oficial, tem sentido a respectiva aposentadoria diminuir gradativamente em relação ao salário mínimo. Pessoas se aposentavam com seis salários mínimos, por exemplo, hoje não recebem nem quatro. A tendência é que cresce, cada vez mais, o grupo de aposentados que ganham apenas um salário mínimo.
Se, de um lado, diminuem as despesas básicas como alimentação, educação, vestuário e outros itens, desde que, é claro, os filhos já tenham saído de casa e sejam independentes financeiramente, de outro, aumentam os gastos com saúde e medicamentos, além da necessidade de gastos com lazer. Então, se a pessoa não tiver outra fonte de renda – plano de previdência privada ou rendas de investimentos – vai ter que ajustar seu orçamento, procurar desempenhar alguma atividade remunerada – 46,9% dos aposentados brasileiros continuam trabalhando por necessidade –, depender de filhos ou ficar em situação de risco, mesmo.
Segundo uma pesquisa da Hartford, até mesmo nos países mais desenvolvidos, a maioria das pessoas, atingida a idade de aposentadoria, pretende continuar na ativa, simplesmente porque não estão financeiramente preparadas para essa fase da vida.
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Por isso, os autores do livro “O Melhor vem Depois” – o consultor e professor Júlio Sérgio Cardozo e a jornalista Andrea Giardino – insistem que é preciso planejar a aposentadoria desde cedo, já no início da vida profissional. Não só concentrar-se no aspecto financeiro, o que apenas 4% da população ativa do Brasil faz, mas em outras questões, pois aposentadoria é uma nova fase da vida, o segundo tempo do jogo. A gente sempre acha que ainda é cedo para se ocupar com essas coisas. Mas a vida passa rapidamente e, sempre preocupados com coisas mais imediatas – carreira, filhos, compra de casa, carro, aproveitar a vida, etc. – deixamos para pensar na aposentadoria quando estamos… nos aposentando.
Enfim, a aposentadoria deve ser um campo aberto de inúmeras possibilidades. Desde o solitário e monótono kit aposentadoria – pijama ou bermuda, chinelos, cadeira de balanço, jornal, palavras cruzadas, TV com controle remoto… -, o que é bom, mas não necessariamente o dia todo, até achar outras formas produtivas de passar o tempo, com atividades que reforcem a autoestima e o senso de pertencimento.
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Então, o Dia do Aposentado deve ser um alerta, principalmente, para quem ainda não chegou lá. Viver só o presente pode ser legal para quem morre cedo. Tudo pode caminhar bem ao longo da vida, sem imprevistos. Mas, lá no fim, pode terminar mal se a pessoa não deu atenção ao planejamento da aposentadoria. Isso se faz com educação financeira. É como cuidar da saúde – não é recomendável pedir ajudar ou recorrer ao médico apenas depois que as doenças já se manifestaram. Cuidar da educação financeira é como cuidar do futuro. E já pensar no futuro, mesmo em início da atividade profissional, é vital porque é lá que a pessoa vai passar o resto de sua vida.
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