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Aposentadoria e pensões superam a renda do tabaco na região

Fonte de renda para milhares de famílias do Vale do Rio Pardo, as aposentadorias e pensões também têm grande representatividade na economia dos municípios. Para se ter uma ideia, o valor repassado anualmente para beneficiários da região é 70,8% maior que a safra de tabaco. Enquanto os benefícios atingem cerca de R$ 1,3 bilhão, o fumo rende R$ 769,9 milhões por ano, conforme estimativa da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).

Para o levantamento, foram consideradas aposentadorias e pensões de 378,9 mil pessoas dos 15 municípios que integram a Associação de Municípios do Vale do Rio Pardo. O número significa que 21% da população dessas localidades está amparada pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Em alguns municípios, os valores repassados pela Previdência são até mais altos que os orçamentos previstos pelas prefeituras. Sinimbu, por exemplo, tem 2.982 segurados. Por mês, o INSS paga mais de R$ 3 milhões no município. Em um ano, a quitação do benefício chega a R$ 40 milhões – R$ 10,3 milhões a mais do que prevê o orçamento anual da Prefeitura de Sinimbu. O total de aposentados e pensionistas representa em torno de 28,6% da população sinimbuense, estimada em 10,4 mil pessoas, e coloca o município entre os mais têm beneficiários no Vale do Rio Pardo.

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APOSENTADORIAS NA REGIÃO

Boqueirão do Leão – População: 7.912 | Beneficiários: 101 | Valor Mensal (R$): 112.137,65

Encruzilhada – População: 25.726 | Beneficiários: 4.964 | Valor Mensal (R$): 5.293.705,56

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Gramado Xavier – População: 4.212 | Beneficiários: 732 | Valor Mensal (R$): 672.586,70

Mato Leitão – População: 4.201 | Beneficiários: 976 | Valor Mensal (R$): 1.013.989,92

Passo do Sobrado – População: 6.372 | Beneficiários: 1.535 | Valor Mensal (R$): 1.540.380,99

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Santa Cruz – População: 126.084 | Beneficiários: 29.097 | Valor Mensal (R$): 41.084.124,22

Vale do Sol – População: 11.650 | Beneficiários: 2.904 | Valor Mensal (R$): 2.803.884,40

Venâncio Aires – População: 69.859 | Beneficiários:16.606 | Valor Mensal (R$): 18.941.675,83

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Candelária – População: 31.476 | Beneficiários: 7.628 | Valor Mensal (R$): 8.107.203,89

Herveiras – População: 3.063 | Beneficiários: 667 | Valor Mensal (R$): 658.642,64

Pantano Grande População: 9.932 | Beneficiários: 1.364 | Valor Mensal (R$): 1.667.916,16

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Rio Pardo – População: 38.934 | Beneficiários: 7.151 | Valor Mensal (R$): 8.893.066,27

Sinimbu – População: 10.400 | Beneficiários: 2.982 | Valor Mensal (R$): 3.079.206,11

Vale Verde – População: 3.434 | Beneficiários: 623 | Valor Mensal (R$): 604.136,94

Vera Cruz – População: 25.700 | Beneficiários: 5.780 | Valor Mensal (R$): 6.739.940,59

Total –  População: 378.955 | Beneficiários: 83.110 | Valor Mensal (R$):  101.212.597,87

APÓS VIDA DE TRABALHO, O MERECIDO DESCANSO

O alívio do trabalho pesado na fumicultura chegou com a aposentadoria há oito anos para José Salvador da Silva, de 68. Os pouco mais de R$ 880,00, somados ao mesmo valor do benefício da esposa, Cassilda Maria da Silva, de 63, representam não só o sustento da casa como também o descanso almejado por ele, que já se sentia esgotado dos esforços dedicados à agricultura. “Se não fosse a aposentadoria, o que seria de nós, de mais idade? O trabalho na roça é puxado. Uma pessoa mais velha não consegue manter o mesmo ritmo”, avalia o morador de Linha Inverno, interior de Sinimbu.

De olho nas notícias, José não concorda com as propostas de alteração na Previdência. “Acho errado que agora querem aumentar a idade mínima para se aposentar. Dei graças a Deus quando pude, porque sofri demais.” Embora não tenha abandonado totalmente a atividade rural – ele ainda ajuda o filho na lavoura –, é a aposentadoria que liquida as contas da casa. “O meu dinheiro todo vai para pagar as contas. O da minha mulher usamos para o rancho, farmácia e o que mais precisar. Fiz um empréstimo consignado para construir uma varanda, então, minha aposentadoria já vem com R$ 200,00 a menos.”

Por sorte, o casal não precisa investir muito na compra de remédios, que geralmente levam boa parte da renda dos mais idosos. “Só gasto R$ 19,00 quando não tem no posto de saúde”, comenta Cassilda, que faz tratamento para pressão alta e diabetes. “As contas que temos são crediário, porque trocamos alguns móveis da casa há pouco tempo”, acrescenta Salvador. Além dos dois idosos, as aposentadorias ainda sustentam dois filhos que residem na moradia. “Eles ajudam. Um é produtor rural e o outro trabalha numa estofaria. Mesmo assim, são as aposentadorias que mantêm a nossa casa”, salienta.

ABUSOS DE FAMILIARES SÃO MOTIVO DE PREOCUPAÇÃO

Em muitos casos, as aposentadorias dos mais velhos se tornam fundamentais para a manutenção de famílias inteiras e o valor, embora baixo, precisa sustentar filhos e outros parentes dos beneficiários. “São os idosos que suprem os lares. O que acontece com frequência é um filho ficar responsável por retirar os rendimentos e administrá-los com a condição de ser cuidador do pai ou da mãe. Se o idoso está sendo assistido, não há problema nisso. Porém, ainda existem muitos casos de negligência familiar e abuso financeiro”, revela a assistente social da Prefeitura de Sinimbu, Rosilda Escobar dos Santos.

Segundo ela, a dificuldade é um dos temas abordados durante as visitas domiciliares de agentes e nos encontros de grupos de terceira idade. “É uma questão muito delicada para trabalharmos, porque são raras as vezes em que o idoso relata o problema. Ele tende a apaziguar a situação porque teme ficar sozinho”, comenta. Quando verificado o abuso ou a negligência, a assistência social busca resolver o impasse e, se preciso, encaminha para o Ministério Público.

EM NÚMEROS

– R$ 1,3 bilhão é o valor que o INSS paga por ano para aposentados e pensionistas de 15 municípios da região.

– O valor é 70,8% mais alto que o rendimento da última safra de tabaco, de R$ 769,9 milhões, das mesmas localidades.

– 21,9% é o percentual de aposentados dos municípios que integram a Amvarp.

RENDA EXTRA NA HORA CERTA PARA DANI

Ainda sem condições de se aposentar, a moradora de Vale do Sol Dani Beling, de 56 anos, pôde contar com o benefício da pensão do falecido marido em um dos momentos mais difíceis da sua vida. Paciente de câncer, há cerca de dois anos precisou realizar uma cirurgia. Além do desgaste emocional e do problema de saúde, ainda sentiu na pele a redução do trabalho e, consequentemente, da renda mensal como cabeleireira. Com isso, apoiou-se no dinheiro do INSS e até hoje é ele que sustenta a casa. “Perdi muitas clientes naquele período. Hoje em dia a maior parte da minha renda vem da pensão, de um salário mínimo. No fim do mês, não sobra quase nada”, disse.

Diferente de Dani, Ardilo Reis, de 65 anos, de Linha Castelhano, interior do município, busca guardar a aposentadoria. Como o filho ajuda com a alimentação dele e da esposa, também aposentada, as despesas mensais são baixas. “Mas a gente gasta ali, gasta aqui e quando vê, já foi. Tenho meu carro também para manter, então, guardo dinheiro para, quando precisar de um valor mais alto, ainda ter à disposição”, conta. O destino do salário mínimo que a esposa recebe como benefício, entretanto, fica a critério dela. “Ela compra mais coisas para ela, presentes para os netos. De vez em quando, ajudamos os filhos também”, acrescenta.

ATÉ AS PREFEITURAS RECEBEM MENOS

Se parte do valor depositado na cnta de osegurados do INSS todos os meses chegasse aos cofres das prefeituras, os chefes do Executivo sentiriam um alívio e poderiam até afrouxar os cintos para melhor atender às demandas. Na maioria dos municípios, os valores repassados pela Previdência são bem mais altos que as verbas com as quais prefeitos contam mensalmente.

Em Sobradinho, no Centro-Serra, o orçamento anual para 2016 é de R$ 41,8 milhões, já as aposentadorias e pensões pagarão até o fim do ano R$ 51,7 milhões. O mesmo acontece com Arroio do Tigre e Vale do Sol. No primeiro, o orçamento é de R$ 31,2 milhões e os benefícios chegam a R$ 41,6 milhões. Em Vale do Sol, enquanto a Prefeitura dispõe de um orçamento de R$ 31,1 milhões para este ano, o valor que será pago aos aposentados e pensionistas do município vai superar R$ 36,4 milhões.

Segundo o prefeito Clécio Halmenschlager, o dinheiro possibilitaria o asfaltamento de mais de 35 quilômetros de estrada, com uma pista de seis metros de largura. Por mês, o repasse do INSS poderia comprar dez caminhões novos ou realizar a drenagem urbana de todo o município para evitar alagamentos.

“Há dois anos estamos com a ponte do acesso a Vale do Sol danificada. Ainda não conseguimos o dinheiro para a reforma. Com o valor mensal de aposentadorias e pensões, conseguiríamos construir sete delas”, salienta. Em Vale do Sol, há mais de 2,9 mil beneficiários, os quais representam 24,9% da população local, de 11,6 mil pessoas.

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