No começo da noite da última quinta-feira, dia 30 de julho, o aposentado Otávio João Wachholz de Siqueira viveu os momentos de maior tensão dos seus 69 anos de vida. Após ter nascido em Sobradinho e rodado o País e o mundo, morando em grandes cidades como Aracaju, capital do Sergipe, e Balneário Camboriú, ponto turístico de Santa Catarina, ele e a esposa decidiram optar por seguir a vida em Santa Cruz do Sul, uma cidade “tranquila, de família e boa para envelhecer”. Mudaram-se no começo do ano e, nesses primeiros meses, Wachholz passou por um sequestro e ficou três horas com os bandidos, entre a vida e a morte.
O engenheiro agrônomo aposentado saía de um estabelecimento no Bairro Santo Inácio, por volta das 19 horas da última quinta-feira, acompanhado da esposa, Dulcidia Schereder, de 63 anos, da nora e uma neta de 2 anos e meio. Enquanto as mulheres aguardavam na esquina, Wachholz foi buscar o veículo, um Honda Fit vermelho, alguns metros à frente.
O homem acha que os criminosos estavam escondidos atrás de uma das árvores próximas ao carro. “Devem ter visto um idoso de cabelos brancos e achado um bom alvo”, conta. Wachholz entrou no carro, sentou no banco e, quando fechava a porta, viu os três homens chegando. Lembra que o da frente vinha com um revólver, que aparentava ser calibre 38, e os outros dois, mais novos, caminhavam atrás.
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Os bandidos puxaram o aposentado para fora do carro. Ele conta ter cogitado reagir, mas lembrou logo de tantos exemplos de tentativas malsucedidas, e preferiu encarar. Era a sua vez. “Os três me puxaram para fora e me jogaram no banco de trás, onde estava a cadeirinha da minha neta. Prontamente colocaram o revólver nas minhas costas. Está doendo até agora as batidas da arma em minhas costelas. Eu dizia ‘rapaz, para com esse revólver aí, eu tô quieto’, mas eles não paravam. Gritavam para eu não levantar a cabeça, não olhar para trás”, relembra.
Com certa dificuldade e até com a instrução da vítima no carro, que é automático, eles conseguiram arrancar. Alguns minutos depois eles pararam em um local próximo da mata. Puxaram o aposentado novamente para fora do veículo e lhe arrancaram a aliança, o relógio e a carteira. Pegaram também seus cadarços para amarrar mãos e pés. Tiraram a cadeirinha da neta e algumas coisas que estavam no porta-malas e jogaram no mato. Amarrado, Wachholz foi preso na escuridão do bagageiro.
Risadas, assalto e acidente no Vale do Taquari
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A partir daí começaram os momentos de maior tensão. Agoniado com o local, ele tentou gritar. Disse ser cardíaco e estar com falta de ar. Um deles arrancou um pedaço da tampa do porta-malas e assim Otávio passou a ter visão do que estava acontecendo. “Eles foram pegando mais velocidade. Gritavam, em meio a risadas, ‘tá a 180 (quilômetros por hora). Olha só, esse carro do velho é bom mesmo’. A qualquer momento achava que eles perderiam o controle.”
A esperança do homem era de que uma barreira policial pudesse salvá-lo. Mas eles passaram pelo posto da RSC-287 e pelo pedágio, onde ele lembra dos criminosos até terem feito brincadeiras com a moça que os atendeu. Logo eles chegaram a Venâncio Aires. Pelas conversas, Otávio entendeu que procuravam uma lotérica para assaltar. “Notei que não eram profissionais. E isso me assustava. Poderiam agir de forma irracional. Por isso permaneci em silêncio.”
A vítima ainda lembra dos criminosos terem gritado para mulheres nas ruas, fazendo piadas e rindo. Como não encontraram nenhuma lotérica em Venâncio, foram até Lajeado. Chegando lá, relembra o aposentado, entraram em contato com alguns amigos. Ficaram por alguns minutos dando voltas nas ruas principais da cidade até encontrar a farmácia que viria a ser o alvo. Dez minutos depois os sequestradores voltaram correndo e o carro partiu. Logo a polícia apareceu e a perseguição começou. “Quando chegaram na rodovia, as sirenes pararam e eu perdi as esperanças outra vez. Eles seguiram em alta velocidade na estrada e fazendo muitas curvas. Como me batia muito no porta-malas, perdi a consciência por alguns minutos. Mas lembro da hora da batida”, afirma Wachholz.
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Eles perderam o controle do veículo e o carro saiu do asfalto, caindo em uma vala que havia no canto da pista. “Por sorte ele não capotou. Mas a batida foi forte. Com a força do acidente, eu apaguei e não lembro de nada até a polícia me achar”, afirma o aposentado. Segundo conta a BM de Lajeado, enquanto algumas pessoas corriam para ajudar o carro acidentado, os três bandidos fugiam para o meio do mato. Um deles foi preso no dia seguinte em Venâncio Aires. Os outros dois ainda não foram encontrados.
Após ser retirada do veículo, a vítima foi encaminhada ao Hospital Bruno Born, em Lajeado, e prestou depoimento na Delegacia de Polícia. Retornou a Santa Cruz por volta das 2h30 de sexta-feira, após a pior noite de sua vida. “Apesar de tudo isso, não sou de drama. Vou seguir em Santa Cruz e bola pra frente.”
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