Um desdobramento às vésperas do julgamento colocou um ingrediente a mais em um dos casos de homicídio mais emblemáticos da história recente de Santa Cruz do Sul. Após quase dois anos foragido da Justiça, Diogo Francisco da Silva, de 23 anos, foi preso em uma operação traçada em sigilo pela Brigada Militar (BM) na manhã da última quarta-feira, por volta das 8h30.
Ele é o autor confesso do assassinato de Cleison dos Santos, o Cleisinho, de 21 anos, em 12 de março de 2022, no Loteamento Santa Maria, Bairro Dona Carlota, em Santa Cruz. O cadáver foi encontrado por moradores das redondezas três dias depois do crime, enterrado em uma cova rasa. Na quarta, os policiais descobriram que Diogo estava escondido em um imóvel da Rua Doutor Campos, no centro de Anta Gorda, no Vale do Taquari.
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Ao ver a BM, ele tentou fugir, mas a guarnição conseguiu alcançá-lo, imobilizá-lo e algemá-lo. Posteriormente, Diogo foi conduzido ao Presídio Estadual de Encantado. Seu julgamento está marcado para esta quinta-feira, às 13h15, no Fórum de Santa Cruz do Sul. A sessão será presidida pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse.
A defesa do réu será feita pelo defensor público Arnaldo França Quaresma Júnior, que comentou o julgamento. “É um caso que gerou repercussão, mas a Defensoria Pública vai atuar como sempre, independentemente do fato, de forma técnica e pautada no que está no processo. Não vamos sair uma linha do que está nos autos e vamos respeitar a decisão dos jurados, que é soberana”, salientou Arnaldo.
Em seu segundo júri após assumir como promotor em Santa Cruz, Gustavo Burgos de Oliveira representará o Ministério Público. Ele destacou a busca da Promotoria por justiça. “Esse júri será emblemático para a nossa comunidade, pois ocorreu um assassinato brutal de um jovem, mediante degola, com posterior ocultação de cadáver. O Ministério Público confia na costumeira justiça que vem sendo feita pelo corpo de jurados da nossa comarca. Postularemos a condenação do réu.”
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Responsável pelo inquérito, o delegado Alessander Zucuni Garcia irá prestar depoimento na sessão. Sete jurados vão ser sorteados para compor o conselho de sentença. Diogo é réu por ocultação de cadáver e homicídio duplamente qualificado. As duas qualificadoras, que podem resultar em aumento da pena, foram elencadas pelo uso de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Réu alegou legítima defesa na fase policial
Diogo Francisco da Silva escapou do Presídio Estadual de Candelária no dia 5 de outubro de 2022. Desde então, vinha sendo procurado pelas forças de segurança. Na ocasião, teria aproveitado um dos dias de visita a detentos para fugir pelo telhado da casa prisional, não sendo mais visto pelos policiais penais. O acusado aguardava a fase de instrução do processo e cumpria prisão preventiva desde 20 de abril de 2022, quando foi encontrado por policiais civis no interior do município onde ficou detido.
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Na época da captura, optou-se pela permanência de Diogo em Candelária, por entender que ele poderia sofrer represálias de alguns apenados em Santa Cruz, em decorrência da brutalidade do assassinato de Cleisinho. O fato é que a casa prisional no município vizinho tem menos segurança que o Regional, no Bairro Faxinal Menino Deus. Na oportunidade, em depoimento ao delegado Alessander, Diogo alegou legítima defesa.
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Ele confessou que cometeu o homicídio, mas somente o fez porque a vítima teria uma faca. Após luta corporal, ele acabou pegando o instrumento de Cleisinho e o atingiu. Contudo, a história não convenceu o delegado Alessander. “Mesmo que tivesse acontecido dessa forma, no momento em que a vítima perde a faca e corre para fora, cessa o perigo para o autor. Ainda assim, o acusado corre atrás e acaba acertando Cleison”, alegou na época o chefe da 2ª Delegacia de Polícia.
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Ainda que não fosse recapturado, Diogo seria julgado à revelia, pois já havia sido citado na fase de instrução e intimado de sua sentença de pronúncia ainda quando estava no Presídio Estadual de Candelária. Por isso, o caso seguiu o trâmite normal e uma data para seu julgamento foi marcada pela juíza Márcia Inês Doebber Wrasse.
Com a prisão, no entanto, sua presença no dia do júri foi confirmada e ele deve ser conduzido até Santa Cruz pela Polícia Penal. A Justiça trabalha para que a segurança no perímetro do Fórum seja reforçada, em virtude de qualquer animosidade que possa causar algum tipo de intranquilidade no andamento da sessão.
Desdobramentos cruéis
Conforme investigações da Polícia Civil, Diogo flagrou sua companheira com Cleison na cama, em 12 de março de 2022. Movido por ciúmes, teria encurralado a vítima e acertado golpes de faca no jovem, que nem sequer esboçou reação. Cleisinho foi degolado com uma facada no pescoço e também levou outra nas costas. Depois, foi enterrado em uma cova rasa no Loteamento Santa Maria. No dia 15 de março de 2022, após registro de desaparecimento, moradores encontraram o cadáver.
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O caso gerou ampla repercussão e provocou desdobramentos cruéis. Em vingança à morte do rapaz, na mesma tarde em que o corpo foi encontrado, quatro homens foram até a casa do pastor Alex Fabiano Ramos Corrêa, de 48 anos. Ele era pai da companheira de Diogo que foi flagrada com Cleison na cama. Segundo a apuração policial, após recusar-se a dar aos criminosos a localização do genro, Alex foi morto a tiros na frente de casa, na Rua Guarda de Deus, Bairro Santuário.
Os quatro homens identificados pela Polícia Civil como integrantes do bando que o assassinou foram indiciados por homicídio duplamente qualificado. As qualificadoras, que podem resultar em aumento de pena, foram a impossibilidade de defesa da vítima e o motivo torpe. Atualmente, os quatro estão em liberdade e os seus nomes são mantidos em sigilo pelas autoridades. Ainda não há confirmação de data para o julgamento deles.