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ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Apontado como líder da facção Os Manos, Chapolin retorna ao sistema prisional gaúcho

Chapolin estava em penitenciária federal

Apontado pela polícia como líder da facção Os Manos no Vale do Rio Pardo, Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, de 41 anos, teve seu retorno ao sistema prisional gaúcho autorizado pela Justiça. Após seis anos cumprindo pena no sistema federal – primeiro na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e até recentemente na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia – ele deu entrada às 13h30 da última quarta-feira na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

Na época de sua transferência para fora do Estado, que ocorreu em 28 de agosto de 2018, Chapolin deixou uma mensagem para traficantes da região. Em áudio que circulou em aplicativos de mensagem, ele exigiu fidelidade de comparsas e ameaçou de morte tanto quem o traísse quanto os familiares destes. Na gravação, Chapolin dá a entender que seriam considerados traidores aqueles que se aliassem a indivíduos de outras facções ou trouxessem à região drogas cuja procedência não fosse do grupo Os Manos, bem como aqueles que não pagassem suas dívidas. A punição seria a morte. (Confira abaixo a mensagem completa).

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Trouxe gente de fora para botar material na região, isso é traição. Pegou material de gente de fora para botar na região, isso é traição. Quis conspirar contra os irmãos que estão de frente ou quis expor os nomes dos meus irmãos que estão tocando a caminhada de frente, é traição. Entendeu? Não pagou as contas, é traição. Entendeu? Tentou dividir e diminuir nosso embolamento, é traição. Quando eu voltar vai morrer o traidor e toda a família, menos criança. Essa é a lei minha e para quem quiser gritar aos quatro cantos, ninguém vai botar lei onde eu botei as bandeiras, onde eu organizei, onde eu fiz o melhor pela minha região. Me traiu, morre o traidor, mais a família junto. Só não morre criança.

A autenticidade do áudio foi confirmada na época. “A voz é dele”, afirmou uma das principais e mais experientes autoridades policiais da região, o delegado regional Luciano Menezes. Segundo ele disse em entrevista à Gazeta na oportunidade, a suspeita é de que o áudio tenha sido deixado como um recado para quem trabalha com o criminoso, a fim de evitar que outra facção tomasse conta do tráfico local.

Em 4 de maio do ano passado, o delegado regional voltou a mencioná-lo durante depoimento no julgamento do faccionado Máscara. Segundo Menezes, Chapolin pedia para seus subordinados gravarem vídeos das execuções. “Ele era um indivíduo muito temperamental e mandava matar as pessoas que desobedeciam. O Chapolin gostava de ver as execuções e queria que seus faccionados gravassem os vídeos para ele assistir de dentro da cadeia, na época”, disse o chefe da Polícia Civil.

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O fuzil preferido

Entre os fatos que chamaram a atenção nos últimos tempos envolvendo o nome do líder da facção está a prisão de um estudante universitário em 27 de outubro de 2017. No loft onde ele morava, no Bairro Avenida, em Santa Cruz, um arsenal de guerra foi encontrado. Foram localizados oito fuzis calibre 556, sete fuzis 762, 20 pistolas 9 milímetros, uma pistola .45, dezenas de carregadores e 7,3 mil munições de diversos calibres.

Entre as armas estava o fuzil FAL calibre 762, personalizado, que seria o modelo preferido de Chapolin. Todo o material bélico apreendido foi avaliado em R$ 3 milhões. Hoje, a arma do líder faz parte do arsenal da Polícia Civil. Um ano depois, em 25 de setembro de 2018, agentes do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), de Porto Alegre, cumpriram mandado de busca e apreensão em um apartamento da Avenida do Imigrante, em Santa Cruz do Sul.

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Entre os itens apreendidos estava o celular de Cássio Alves dos Santos, atualmente com 36 anos e também apenado da Pasc, apontado como líder da facção em Santa Cruz do Sul. A partir das informações obtidas nesse aparelho, ao longo de cinco anos, alguns dos principais segredos da facção Os Manos foram descobertos pelos investigadores.

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O material embasou uma denúncia de 108 páginas do Ministério Público, que foi aceita na íntegra em 28 de agosto do ano passado, pela 2ª Vara Estadual de Processos e Julgamento dos Crimes de Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro. Para exemplificar a liderança de Chapolin, a Polícia Civil apurou um áudio enviado por ele a Cássio Alves em 29 de junho de 2018. Ele informa quais são as funções dentro da facção, especificando em quem pode confiar e quem se responsabiliza pelo quê.

Denúncia do MP apontou conexões com Jarvis Pavão

Em 23 de junho de 2018, dois meses antes de ser transferido ao presídio federal, de dentro da Pasc, por mensagem de celular, Chapolin ordenou que Cássio Alves providenciasse a entrega de R$ 100 mil em espécie a uma ex-companheira, no interior da Catedral São João Batista, em Santa Cruz. O episódio foi descoberto pela Polícia Civil e documentado como uma das evidências do crime de lavagem de dinheiro realizado pela facção Os Manos.

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Para o MP, como consta na denúncia, havia associação da facção gaúcha com organizações criminosas de fora do Estado, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo. “Se der algum problema grave de traição, vocês me dão o toque que eu mando descer o PCC, que são fechado comigo, entendeu?”, disse Chapolin, em trecho apurado.

A denúncia apontou ainda um enredo de outras operações, investigações e condenações que mostra a abrangência da facção liderada por Chapolin e apresenta as conexões dele com o homem considerado como um dos principais narcotraficantes brasileiros: Jarvis Chimenez Pavão, de 61 anos. Conhecido como “Senhor das Drogas”, ele está preso no Presídio Federal de Brasília após ser extraditado do Paraguai em 28 de dezembro de 2017, em megaoperação transnacional.

Na Operação Argus, da Polícia Federal, 26 pessoas foram condenadas, dentre elas Chapolin e Pavão, pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre, por associação ao tráfico e tráfico internacional de drogas. Elas foram acusadas de integrarem um esquema que utilizava empresas de transporte para trazer cocaína ao Rio Grande do Sul.

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