Embora ainda sejam poucos os pais e responsáveis que optaram pelo retorno das atividades na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Santa Cruz, a instituição começa a se adequar à nova realidade. A entidade retomou o atendimento presencial nesta semana, de forma escalonada, nas áreas da educação e da assistência social. Na saúde, o trabalho não chegou a ser interrompido, por ser um serviço essencial.
Atualmente, a Apae de Santa Cruz do Sul atende aproximadamente 460 pessoas, sem limitação mínima ou máxima de idade. Desses, cerca de 20% retornaram para as atividades presenciais. Nos que puderam voltar, a felicidade é visível. A diretora Cisele Sehn de Borba destaca que esse reencontro é extremamente importante para os atendidos.
“Os amigos que eles têm estão aqui dentro e o fato de poderem socializar, estar em um espaço que gostam, se justifica por eles não terem uma convivência tão grande na sociedade. Além da falta do professor que eles têm como referência, ainda existe a falta dos amigos”, diz.
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O escalonamento das turmas foi feito pela diretora e pela coordenadora pedagógica Sandra Regina Kirst. Além disso, os equipamentos de proteção, como máscaras, aventais e álcool gel, foram disponibilizados pela instituição. “Temos desde a Educação Infantil até as turmas de mercado de trabalho. Todas as turmas de escolarização e letramento têm em média dez alunos por sala. Então, seguindo os protocolos, dividimos as turmas em dois grupos – um vem numa semana enquanto o outro faz as atividades remotas em casa”, explica Regina.
Alguns responsáveis tiveram receio de encaminhar os filhos para os atendimentos presenciais, pois muitos usuários da Apae têm comorbidades. “Nossos atendimentos prioritariamente são para pessoas com deficiência intelectual e múltipla, mas dentro dessas deficiências existem as comorbidades. A pessoa pode ter um problema cardíaco, ou de hipertensão, obesidade, as comorbidades são as mais variadas possíveis. Muitos optaram por não retornar em função disso, porque quando tem uma, duas ou três comorbidades associadas o problema se torna bem maior”, observa a diretora.
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A Apae é conveniada com o SUS e cinco prefeituras, o que garante parte do sustento da entidade. Porém, antes da pandemia, eventos realizados também agregavam na renda. Agora, sem as ações, a entidade conta também com doações. “Sempre tínhamos muito lucro com eventos, mas chegam doações, e também temos a colaboração dos associados mensalistas”, salienta a presidente da Apae de Santa Cruz, Maribel de Souza Dockhorn. A instituição tem um brechó, no qual são vendidas roupas oriundas de doações e que complementam a renda da associação.
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Uma turma com ênfase na autonomia
São diversos os atendimentos disponibilizados pela Apae de Santa Cruz do Sul. Na área da assistência social, há os grupos de convivência. Sentado no sol e tomando um chimarrão, Ricardo Müller, de 26 anos, comemora o retorno, mas diz que tem saudades das festas da associação. “Agora não tem boate porque a Covid não deixa”, lamenta. Já na saúde, são oferecidos atendimentos de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e neurologia, dentre outros.
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Na turma de Trabalho, Emprego e Renda, que faz uma preparação para o mercado de trabalho, Alexandre Nogueira Simon, de 22 anos, conta que quer trabalhar para ter o próprio dinheiro. “Nada é difícil para mim. Desde pequeno eu venho, conheço tudo, conheço o colégio inteiro.” Xandi, como é chamado, diz que estava sentindo muita falta de frequentar o espaço. “Estava ficando só em casa, fazendo as coisas do colégio que a professora mandava”, completa.
Com três alunos em uma sala e mantendo todos os protocolos, a professora da turma de preparação para o mercado de trabalho, Cristina Petry, diz que os jovens podem ingressar no grupo com 16 anos, mas não há idade para concluírem. “A gente tenta simular uma empresa, com rotina de trabalho. Trabalhamos com eles sobre documentação, autonomia – que é um dos objetivos principais –, higiene e horários”, detalha.
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