Minha mãe perdeu meu pai em Camboriú. Passeavam com minhas tias quando ele se distraiu e ficou para trás. Elas olharam e o viram. Após um minuto, olharam de novo e puff. Seu Oclides, que jamais usou celular, havia sumido.

Nunca descobrimos ao certo quanto tempo durou o desaparecimento. Ele falava em 30 minutos. Ela, em horas. Quando finalmente o encontraram, aguardando com a habitual serenidade, Dona Theresinha estava uma fera. Dali em diante, nós, os filhos, ríamos do acontecido: “A mãe agora só viaja com o Oclides se ele andar com um chip.”

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Como a fruta não cai muito longe do pé, eu saí igualzinha. Nas viagens, sou sempre a que fica para trás.
Há alguns anos, quando ainda nos localizávamos com mapas de papel, fui conhecer Nova York. Na estação do metrô, me encantei com um grupo de músicos e quando vi que minhas amigas haviam entrado no vagão, já era tarde. A porta se fechou e fiquei só. Elas, assustadas lá dentro, me lembravam com gestos o nosso acordo: se alguém ficasse para trás no embarque, todas se reuniriam na próxima parada.

Está tudo dominado, pensei. Pego o metrô seguinte. E fiz sinal de positivo para acalmá-las. Esperei com a tranquilidade de quem aguarda a abertura da Feira Rural para comprar tomates. Mas quando o trem chegou, fui a primeira a me jogar para dentro. Aquele bicho não me enganaria de novo.

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O problema é que, contrariando minha expectativa, o tempo passou, e passou, e passou e a coisa demorou muito até parar. Desci aliviada já procurando as gurias. Para então perceber, ai ai ai, que eu não tinha ideia de onde estava.

Fui socorrida por uma moça que entendeu meu inglês de colégio: “Você está perdida”, me disse sacudindo a cabeça. “Você pegou o trem errado. Aqui é o Queens e esta linha vai para a Jamaica.” Era inverno no Hemisfério Norte, nevava lá fora e, por alguns segundos, com medo do desconhecido e da minha ignorância, me perguntei como eu havia conseguido pegar o metrô na Times Square e estar agora às portas da Jamaica, a nação do Bob Marley. Teria eu batido a cabeça e delirava? Fumado?

Foi com o coração na mão e ainda fingindo total autocontrole que retornei. A aventura me deixou duas lições. A primeira: se você for do tipo distraído, sempre agarre na mão de alguém quando estiver na plataforma do metrô de um pais estrangeiro. A segunda: em Nova York há um lugar chamado Jamaica. É uma baía, não a terra do reggae. Não fui, mas é capaz de ser um passeio interessante.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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