Com 99 anos, José Maria Vedoy da Silva é o único pracinha vivo da região. Como soldado, integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial e esteve na batalha de Monte Castelo, uma das mais relevantes no histórico do conflito. Ele combateu na Itália entre julho de 1944 e agosto de 1945, quando a rendição do Eixo, formado por Alemanha, Itália e Japão, já estava encaminhada.
Como servia em Santa Maria, José viajou de lá até o Rio de Janeiro, junto com companheiros de outras regiões do Estado, para embarcar no navio que levaria as tropas até Nápoles, ponto de partida rumo ao front. Depois da chegada, Vedoy jamais voltou a ver boa parte dos colegas. Na maior parte do tempo, ele permanecia em uma fração com outros 11 soldados, separados uns dos outros por 20 metros.
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Uma das coisas que Vedoy lembra da chegada foi o aviso do sargento: “Vocês não podem olhar para trás. Têm que olhar sempre para a frente”. O veterano recorda que algumas cidades onde combateu sequer haviam sido reconstruídas após a Primeira Guerra e, agora, estavam sendo novamente bombardeadas.
Um dos temas de homenagem nesta Semana da Pátria é a participação dos gaúchos entre as fileiras da FEB. De acordo com o comandante do 7º Batalhão de Infantaria Blindado (7º BIB), coronel Fernando Barcellos da Rosa, Santa Cruz do Sul contribuiu com 53 soldados. Na soma da região foram 68. De Santa Maria saíram 98. “Eles se colocaram em risco por outras pessoas. São verdadeiros heróis”, comenta Barcellos.
Aniversário de 100 anos será na terra natal: Boqueirão
Há dois anos , José Maria mora no Bairro Jardim do Cedro, em Lajeado, com o filho Darci Vedoy, de 65 anos. Com a esposa Erna Berghahn da Silva, que faleceu há 33 anos em decorrência de um câncer, teve nove filhos. Hoje acumula 26 netos e 16 bisnetos. Ele chegou a ter outras três esposas. No dia 28 de março de 2021, pretende comemorar o centenário com a família na localidade onde nasceu e se criou: Passo de Pedras Brancas, interior de Boqueirão do Leão.
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Seu Dedé, como é popularmente conhecido, sustentou a família por meio da agricultura. Em 1965, ele recebeu a Medalha de Campanha, como reconhecimento pelos serviços prestados em defesa da pátria. Já em 2004, foi laureado com a Medalha da Vitória. O 7º BIB homenageou-o em 2018. O patriotismo do eterno pracinha continua intacto. Na frente da casa dele, tremula a bandeira do Brasil.
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Desafios em combate
A memória já não é a mesma de anos atrás, mas Vedoy se esforça para contar detalhes do que viveu no campo de batalha. Um fato marcante é a utilização da pá – uma das ferramentas transportadas pelos soldados, junto com uma picareta – para cavar buracos onde se abrigava das bombas. “O picão ficou para trás em um dos combates”, brinca. Um desafio era o frio intenso da Europa, com campos cobertos de neve. Os norteamericanos, salienta Vedoy, forneciam suprimentos para as fileiras aliadas.
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Imagens marcantes não se apagaram, como das famílias de civis tentando se proteger dos tiros e dos companheiros feridos nos hospitais de campanha. “Aprendi muita coisa. As mortes pesam na consciência. Mas era a vida do inimigo ou a minha”, comenta. Nas madrugadas, Vedoy precisava se revezar na ronda do acampamento. Nas folgas, a mochila servia de travesseiro e ele se deitava até embaixo dos caminhões. Havia uma única farda, lavada quando o pelotão encontrava algum curso d’água.
A comida era enlatada, fornecida pelos Estados Unidos. “Tinha salsichão e um feijão muito bom”, enfatiza. De armamento, cada soldado carregava um fuzil com capacidade máxima de 15 tiros e algumas granadas. Os aviões, os canhões e os jipes com metralhadoras forneciam apoio. “Em Monte Castelo, as forças inimigas se renderam porque acabou a munição deles. Era um morro grande, pelado de tanto tiro. Era um lugar estratégico para se defender”, relata. Analfabeto, Vedoy dependia de um parceiro para escrever cartas à família. Quando retornou, sem nenhum arranhão, em 14 de agosto de 1945, foi recebido com homenagens no Colégio Madre Bárbara, em Lajeado.
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