A sala do apartamento 701 de um antigo prédio da Thomaz Flores, próximo à Rua do Moinho, poderia ser apenas mais uma sala qualquer em um edifício comum. É nela, contudo, que reside uma senhora capaz de inspirar o mais pessimista dos viventes: Olga Frantz Hillesheim. Aos 102 anos, completados na última quarta-feira, Olga é provavelmente a mais antiga das leitoras da Gazeta do Sul. Junto com a televisão, as visitas dos amigos e o mate de todas as tardes, o hábito de folhear o jornal faz parte de uma rotina tranquila, vivida por alguém que não tem mais pressa e é capaz de achar graça nas mais difíceis desventuras.
Nascida em Santa Cruz em 1915, Olga leva uma vida feliz, embora nem sempre tenha sido fácil. Quando ainda era solteira, trabalhou em uma antiga fábrica de doces que funcionava na cidade. “Eu e um monte de meninas passávamos o dia enrolando balas”, recorda sem nenhuma dificuldade. Quando casou, passou a se dedicar aos cuidados do lar e depois de oito anos ao lado do marido, teve que aprender a se virar sozinha. O companheiro faleceu em um acidente, deixando para Olga o dever de criar três filhos. Para se virar, trabalhava auxiliando o irmão alfaiate. E o que na época foi doloroso, hoje já é motivo de brincadeira.
“Acho que vivo tanto porque nunca me incomodei com homem”, comenta, entre gargalhadas. “Fui muito feliz com os três pequenos, cuidava deles dia e noite e eles eram muito obedientes. Até hoje são muito queridos e me fazem visitas sempre.” O mais novo dos três, que residia em Salvador, faleceu em junho do ano passado. Mas Olga busca sentido na perda. “Cada um tem a sua hora, ele está mais descansado do que todos nós”, garante. Ela tem outros dois filhos, sete netos e três bisnetos.
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Questionada sobre sua saúde, a resposta é rápida. “Ihhh, eu tô muito bem, não tenho uma coisinha para reclamar.” Sua cuidadora diurna, Clarinda Margarida Siebreneichler, confirma. “Ela usa andador para caminhar por conta de um problema no joelho e já quebrou o fêmur, mas está ótima”, completa. Apesar de não ser dada à boêmia – garante que não sabe fumar cigarros e nunca bebeu –, Olga gosta de festa.
Para 2019, plano é fazer uma festa maior
Quando chegou aos 100 anos ela ganhou uma grande celebração e, este ano, comemorou com um chazinho entre familiares e amigos. De presente, recebeu dezenas de arranjos de flores, que coloriam a sala na tarde de ontem. Já para 2019, o plano é aumentar os festejos. “No ano que vem podíamos fazer uma festa na rua, com música pra todo mundo dançar. Já pensou?”.
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Depois de alguns minutos conversando com a Gazeta do Sul, a entrevistada foi ficando cada vez mais à vontade: pediu para sair bonita nas fotos e se orgulhou ao dizer que tem história para mais de uma página. Hoje, quando o jornal chegar cedinho à sua casa, vai poder se ver entre as imagens que tanto gosta. Além da coluna do Ike, onde encontra os rostos conhecidos nas fotos, ela garante que adora o Mix e o Magazine. “Gosto de ver os artistas e as coisas sobre arte. Não leio tudo porque é muita coisa, mas passo os olhos por todas as reportagens.”
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