Há quem diga que depois da tempestade, vem o tempo bom. No caso da vera-cruzense Raíssa Magalhães, 10 anos, a calmaria veio de forma gradual. Um avanço aqui, outra melhora ali e, a cada novo passo, apenas um desejo: gana por viver. Foram cinco meses de luta. Cinco meses de vitórias diárias. Cinco meses em que a pequena grande mulher superou as dores do corpo, fechou os olhos para as cicatrizes e ignorou as dificuldades para falar. Ela se manteve focada no tratamento. E as boas novas se apresentaram como presente de Natal.
Agora falta pouco para Raíssa trocar o quarto gélido do hospital pelo aconchego do lar, em Linha Fundinho, no interior de Vera Cruz. A pequena deixou a localidade em 17 de julho, dia em que, após ser surpreendida por uma explosão no fogão à lenha, sofreu queimaduras em até 55% da superfície corporal. “Eu me lembro que ela veio correndo com o corpo em chamas até o meu quarto. Desesperada, peguei-a pelos braços e apaguei o fogo que já estava sobre os cabelos e rosto”, lembra a mãe, Rute Magalhães.
Pouco tempo depois, Raíssa estava em chamas novamente. Desesperada, a doméstica conseguiu ligar para a Brigada Militar e ao Corpo de Bombeiros. A menina já não tinha mais forças para caminhar e foi levada em caráter de urgência ao Hospital Vera Cruz, já quase inconsciente. “A equipe médica me deixou claro que ela corria risco de vida.”
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Algumas horas mais tarde, Raíssa foi levada às pressas para o Hospital Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, onde ficou até o início deste mês. Quem acompanhou o transporte da menina até a Capital foi o pai, Josiel Magalhães. “Eu só pensava que precisava salvar a vida dela. Não importava como”, comenta, ao resgatar uma memória dolorida. Os pais receberam força incondicional da família e de amigos, que oraram e encaminharam vibrações positivas. Tudo pela saúde da pequena Raíssa, que não desanimou um segundo sequer. “Eu nunca tinha visto ela assim. Era uma vontade de permanecer ali com a gente difícil de explicar, sabe? O mundo orou por ela. Nosso Deus é ‘tremendo’”, salienta o pai.
Transferida para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) no último dia 10, ela segue internada na Enfermaria Pós-UTI e seu estado de saúde ainda inspira cuidados. Os avanços, porém, são percebidos com mais frequência. Tanto que, na tarde dessa quinta-feira, Rute recebeu permissão para segurar a filha no colo.
Com todo cuidado de mãe, afinal a pele da primogênita ainda requer muitos cuidados, ela finalmente pôde desfrutar daquele abraço que há muito tempo quis oferecer à pequena. E a resposta da filha fez transbordar de alegria e afeto aquele momento, em que tee direito a fotinho em forma de coração. “Ela ficou tão feliz, tão feliz. Impossível conter a emoção”, diz a mãe.
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Em frente, pequena Raíssa
Que a jornada no hospital transformou a vida de todos os Magalhães, já não há mais dúvidas. Para Raíssa, porém, as mudanças vão além. Além de descobrir uma força para viver, a pequena decidiu mudar os seus planos. Antes do acidente, almejava ser veterinária. Agora, a opção é outra. “Quero ajudar as crianças queimadas, assim como todo mundo me ajudou”, conta ela para a mãe enquanto as horas correm no quarto do hospital. Rute, toda orgulhosa, lembra dos elogios proferidos pela equipe médica. Todos comentam que Raíssa colaborou e continua colaborando para que os procedimentos e o tratamento como um todo adquiram o resultado esperado.
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“Ela é um exemplo de vida para nós (família), para os médicos e qualquer pessoa que um dia cruzar o seu caminho”, frisa. Mas a jornada nas dependências do hospital está quase no fim. Conforme o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a expectativa é de que a paciente tenha alta em até duas semanas. Em frente, Raíssa. Falta pouco para você retornar à escola, brincar na sua casinha de bonecas e retomar as atividades na igreja. Logo, logo, você estará em casa e vai poder resgatar, com esse brilho nos olhos e experiência de superação, a magia de ser criança.
Trajetória no hospital
Durante a internação no Hospital Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, Raíssa passou por vários procedimentos de alta complexidade para desbridamento (retirada de tecido desvitalizado) e enxertia pela equipe de cirurgia plástica. Conforme a coordenadora da UTI de trauma pediátrico do HPS, Luciana Barcellos, no decorrer dos dias, ela recebeu acompanhamento multidisciplinar com médicos, intensivistas pediátricos, cirurgião plástico, cirurgião pediátrico, vascular, fisioterapia e enfermagem especializada. Nesse período, esteve acompanhada 24 horas pelos pais ou parentes maiores de idade.
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O apoio psicológico também não ficou de fora. A criança contou com atendimento específico de uma equipe formada por psicólogo, psiquiatra e serviço social. Por ter queimado a traqueia, ela também foi submetida a uma traqueostomia. Essa intervenção cirúrgica consiste na abertura de um orifício na traqueia e na colocação de uma cânula para a passagem de ar. “Após esta longa jornada, Raíssa saiu da UTI do HPS capaz de ter uma qualidade de vida adequada. É claro que vai precisar de acompanhamento psicológico e de cirurgia plástica, mas temos a certeza de que ela foi uma grande lutadora e o caso dela, uma vitória para a equipe da UTI de trauma”, ressalta Luciana.
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