Tenho acompanhado a celeuma em torno da possível instalação de uma filial da Havan em Santa Cruz do Sul. É provável que não haja na cidade alguém que não tenha conhecimento disso, não o tenha acompanhado ou inclusive que não tenha opinião a respeito.
Por vezes, nesse tipo de embate “teórico-existencial”, escapam coisas simples e óbvias, que de tão óbvias não são ditas. A primeira coisa óbvia, nos dias atuais: ninguém em sã consciência deixaria de acolher investimento. Que governante, que cidade, que comunidade, depois de anos ouvindo falar e lendo sobre demissões em massa e desemprego, diria, acerca de um empreendimento, que “não interessa”. Com base em que um investimento não interessa?
Isso hoje não é caso de opção. Há gente demais querendo trabalhar, implorando por emprego. Logo, nada mais a dizer sobre isso. A impressão que se tem é que Santa Cruz está querendo inventar a roda no que tange a acolher a Havan. A empresa está presente em 17 estados, e tem cerca de 120 megalojas. Pretende abrir 20 por ano.
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O Estado deve receber de cinco a dez em 2019. Santa Cruz seria uma delas. E aí se criam dificuldades. Só Santa Cruz estará certa na decisão? Os outros estão todos equivocados? Tudo o que setores de Santa Cruz cogitam ou veem como ameaça foi superado, faz anos, em outros lugares. Logo, não se perde tempo discutindo o que outros já superaram. E mãos à obra!
É claro que a Havan enxerga em Santa Cruz o que a maioria (deveriam ser todos) enxerga: terra de oportunidades. Que outra razão haveria para uma empresa (e vale para pessoas, oriundas dos mais diversos recantos) vir a Santa Cruz se não fosse porque aqui vislumbra oportunidades? De ampliar, de crescer, de construir.
Santa Cruz sempre foi empreendedora e acolhedora: acolheu alemães, italianos, ingleses, franceses, irlandeses, japoneses, chineses. Todos que vieram sempre foram bem acolhidos. Isso teria mudado? Há os que entendem que a empresa é voraz, e vai acabar com o comércio local. Argumento um tanto preso à idade da pedra. Há os que são fiéis ao comércio local e há os que se rendem às facilidades de compra pela internet, ou hipermercados e megalojas.
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Isso é da liberdade de compra. Alguém não querer comprar na Havan é uma coisa; outra bem diferente é não querer que outros comprem. E liberdade é termo oportuno na questão. A Havan tem por tradição instalar em algumas de suas unidades réplica da Estátua da Liberdade. É um chamariz de marketing, claro – e que, aliás, funciona bem. Mas também inspira associações. Na bandeira do Estado de Minas Gerais (no qual a Havan também atua) consta verso de uma Écloga do poeta romano Virgílio: “Libertas quae sera tamen”. Ou: “Liberdade ainda que tardia”. Liberdade: de pensamento, de amarras (as ideológicas por vezes funcionam como um torniquete, sufocando comunidades inteiras), de ser e pensar. Liberdade para ir, vir, investir, viver a vida. Antes que seja tarde.