Colunistas

Antes que elas desapareçam

Da minha janela, vejo duas araucárias. Todas os dias, confiro a distância se ainda estão lá. Temo que daqui a pouco sejam derrubadas para dar lugar a uma casa de arquitetura contemporânea, garagem para dois carros, piscina de concreto, imensas vidraças e um jardim de plantas exóticas. A considerar o ritmo de novas construções, não tenho dúvida de que isso vai acontecer.

Tempos atrás, juntamos do chão um punhado de pinhões. Fervemos, abrimos… e não foi possível comer. Não havia quase nada dentro, e quando havia, estava apodrecido. Acabaram jogados no canteiro dos fundos, para “virar adubo”. E esquecidos. Até percebermos aquelas plantinhas diferentes emergindo entre lírios e temperos. Eram três mudinhas de Araucaria angustifolia crescendo no nosso pátio.

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Foi uma surpresa. A literatura diz que o pinheiro brasileiro tem apenas 0,05% de probabilidade de germinar de forma espontânea. E a criatura derrubou as estatísticas e deu as caras por aqui. E não uma. Mas três.

Desde então, cuido dos meus bebês coníferas como se eles representassem um milagre, uma promessa. E enquanto cuido, penso: onde vamos plantá-las? Evidentemente, neste pequeno pátio não é possível. Elas levarão uns 20 anos para chegar a uma altura mais ou menos segura. E neste mundo onde se vive apenas o hoje, como se isso fosse bonito, quem vai proteger minhas araucárias quando eu sair de cena e elas ainda forem jovens indefesas? Mesmo que eu encontre um bom lugar, que certeza terei de que não serão reduzidas a lenha ou apenas descartadas pelo imediatismo da moda? Nenhuma, constato. Nenhuma.

Minha preocupação tem fundamento. Temos permitido a deformação total de nossas árvores para passar fios, como se não houvesse alternativa. Que cenário lamentável ver as pobres plantas com galhos decepados sem piedade. Os que sobram, parecem braços erguidos para o alto a pedir bom senso para nós, os donos do mundo. Até hoje me incomoda passar na esquina da Gaspar com a Juca Werlang e ver o que sobrou das canafístulas. Não é admissível que não consigamos aliar tecnologia, segurança e natureza.

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Se as canafístulas e tantas outras que embelezavam a área urbana foram mutiladas, não posso mesmo ter muita esperança com minhas coníferas. A maioria parece considerá-las um estorvo. O crescimento lento é um entrave à exploração comercial, e o desmatamento extremo vem diminuindo a qualidade genética das remanescentes. O pinheiro brasileiro, que surgiu na Terra há uns 200 milhões de anos, se encontra na categoria “criticamente em risco”. Está a um passo de desaparecer.

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Guilherme Bica

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