Os jovens que leem estas narrativas pensam que jamais vão ter lembranças desse calibre. O tempo presente não lhes permite vislumbrar cenas que, vistas a uma certa distância, parecem inimagináveis, ridículas. E eram mesmo. Invenções, as mais estapafúrdias, apareciam como soluções mágicas, tentando burlar qualquer fundamento lógico ou técnico. Mas, enfim, não custava tentar.
Falemos da televisão, essa caixa encantadora, misteriosa, que desembarcou nas pequenas aldeias na década de 1960. Pouquíssimas pessoas tinham, inicialmente, um aparelho em casa. Como nossa família era amiga dos donos da venda (que quer dizer casa comercial), era lá que tínhamos acesso a esse encantamento. Acompanhávamos alguma novela, as farsas das lutas livres, as aventuras da cadela Lassie, Bonanza, mais ou menos por aí.
Lentamente, as famílias um pouco mais abonadas começaram a adquirir o seu televisor. Ter esse aparelho e mais uma geladeira era a suprema glória material possível. Comprado o eletrodoméstico, começava o primeiro espetáculo sem precedentes: instalar a antena. Alguém subia no telhado e outro ficava embaixo, na frente da tv, orientando a posição, gritando “vira mais, piorou, volta para a primeira posição, agora foi demais”, até que o ponto de menos chuvisco ficava acertado.
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Quando havia antena interna, a coisa era pior. Aquelas duas hastes não tinham sossego, não havia hora em que alguém não ia lá, puxava para cima, inclinava uma, inclinava as duas, mas o chuvisco persistia. Certo dia, acho que alguém foi lá limpar as hastes com bombril, e não deu outra: o sinal melhorou sensivelmente ao toque daquela esponja fina de aço. Estava feita a descoberta: bombril melhora a imagem. A notícia se espalhou e bombril vendeu como nunca. Não havia quem não enfeitasse as aspas com esse objeto milagroso, nascido do puro acaso. Podiam as panelas não mais ostentar o brilho habitual, no entanto a imagem da televisão estava garantida.
Quem morava em baixada, tinha que instalar a antena em local mais elevado, de onde os fios, driblando todos os obstáculos intermediários, eram estendidos até as casas. Era outro espetáculo. Muitas vezes sustentados por magras taquaras, qualquer ventinho manhoso balançava a estrutura e a imagem virava uma desgraça. E não podiam ficar muito baixos para que algum boi com chifres um pouco mais avantajados não frustrasse o lazer predileto dos telespectadores.
Muito antes da televisão a cores, elas já eram visíveis nas telas das tevês preto e branco. Alguém teve a simples mas genial ideia de colar celofane na tela e o invento estava dado: a tv exibia imagens coloridas. O mesmo programa numa casa era azul, na outra rosa, na outra verde, em outra ainda meio avermelhado, enfim, um universo de cores dava um toque estético a esse aparelho que deslumbrava por sua capacidade de espalhar ilusões e prometer felicidades. E ainda havia a possibilidade de uma mosca impertinente se enfiar entre a tela e o celofane, tornando os programas mais vivos, mais animados.
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Lá pelas tantas apareceu a antena parabólica, uma geringonça que veio adornar telhados, pátios, disciplinadamente apontando para um suposto satélite portador das imagens enviadas pelas emissoras. Hoje, tudo vem por cabos e outros mecanismos que abreviaram os sofrimentos, a não ser que surja um problema e você precise ligar para o 0800 da operadora e ficar sabendo que existe algo pior do que dor de dente.
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