Neste domingo, dia 26, Porto Alegre comemora seus 251 anos. Se as celebrações estarão concentradas por lá, os festejos reverberam pelo Estado: afinal, é capital de todos os gaúchos. E, definitivamente, os atrativos culturais e artísticos são inegáveis para público de todas as idades, ainda mais a partir do esforço recente de revitalização do centro histórico, onde, literalmente, tudo começou.
A ocupação do local no qual posteriormente a atual cidade surgiria, a partir de meados do século 18, iniciou-se justamente pela orla. A Rua dos Andradas, no começo (e para sempre) nomeada Rua da Praia, foi o caminho natural a ligar do ponto em que os primeiros casais açorianos se fixaram, ao longo do sopé do morro em direção ao leste, circundando o lago Guaíba. Pouco a pouco, o cimo do morro tornou-se local para o erguimento dos prédios públicos, da primeira igreja matriz católica e de outros logradouros.
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Assim surgiu também o caminho sobre a crista do cerro, a estrada de saída para os lados de Viamão.
As primeiras quadras estabelecidas ao longo do Guaíba, que são o atual centro histórico, testemunharam os grandes acontecimentos locais. Ao longo da Rua da Praia desfilou toda a história, ponto de encontro e de congraçamento entre moradores e visitantes, nacionais ou estrangeiros, que acorriam em grande número, atraídos pela curiosidade em torno da província mais meridional do Brasil.
Nesta edição, nesta página e nas páginas 2 e 3, o Magazine, em dez paradas, convida o leitor a um mergulho no tempo, na história e na cultura de uma das cidades mais bonitas, aprazíveis e magnéticas, em âmbito de Brasil e até de mundo. São dez boas e belas razões para amar (ainda mais) a Porto Alegre de todos nós.
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Quem chega a Porto Alegre em algum momento, ao circular pelo centro histórico ou pelas imediações, terá seu olhar atraído pela chaminé de 117 metros da Usina do Gasômetro, em localização estratégica na orla do Guaíba e em uma ponta avançada a oeste do espaço urbano, à margem da Avenida Mauá. Erguida em 1937 para amenizar problemas de emissão de fuligem decorrentes da usina na verdade alimentada a carvão mineral, segue imponente como cartão-postal da capital.
Em seu entorno, no gradativamente revitalizado Cais Mauá, do antigo porto, cujos armazéns se estendem ao longo do Guaíba, e na área de lazer em direção, ao sul multidões desfrutam de um dos mais aprazíveis ambientes sociais e de convívio com a natureza. Tombada como patrimônio histórico, a majestosa chaminé, na área central, inspira outras cidades no País e no mundo a seguir esse exemplo de revitalização de um ambiente que já foi importante na socioeconomia. A usina foi desativada em 1974, há quase 50 anos, mas o que nunca será desativado são o significado e a simbologia de um empreendimento que, se antes gerava energia, hoje segue como orgulho dos gaúchos.
No centro da Praça vizinha à Usina do Gasômetro, o brigadeiro Antônio de Sampaio (1810-1866), impávido, aponta convicto para o leste. É a estátua desse militar cearense, herói da Guerra da Tríplice Aliança, que tem seu nome eternizado neste belíssimo espaço urbano arborizado junto à Rua da Praia. Quem vem do Gasômetro em direção ao leste terá à sua esquerda os prédios igualmente referenciais do Museu do Trabalho, integrados ao mesmo terreno. No passado, era denominada de Praça da Harmonia e banhada, literalmente, pelas águas do Guaíba, que chegavam até pertinho da Rua da Praia, antes do aterramento que permitiu ampliar as ruas Sete de Setembro e Siqueira Campos e abrir a Avenida Mauá, ao longo do cais.
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A Praça Brigadeiro Sampaio é a mais antiga da cidade, e hoje sedia eventos culturais, artísticos e de múltiplos públicos. É usada inclusive pelas tropas da Marinha, cujas construções são vizinhas a ela, para atos solenes. A partir dela, e até a Rua General Bento Martins, estarão o prédio da Capitania, o Museu da Brigada Militar, o Quartel-Geral do Comando da Brigada, o Comando Militar do Sul e o Museu dessa instituição.
Quem se desloca pela Rua da Praia será surpreendido por uma imponente construção: a Igreja de Nossa Senhora das Dores, desde meados de 2022 transformada pelo Papa Francisco na primeira basílica da capital. Sua pedra fundamental foi lançada em 1807, quando as águas do Guaíba chegavam até junto da Rua da Praia (logo, diante das atuais escadarias do templo). Nem a família real portuguesa ainda havia empreendido a viagem ao Brasil, nem os portos brasileiros estavam abertos às nações amigas, e o fundamento da Igreja das Dores já estava sendo instalado. Escravos foram responsáveis pelas tarefas da construção. Mais adiante veio a Revolução Farroupilha, e as obras foram interrompidas.
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No final das contas, a igreja levou 97 anos para ser concluída. No início, sua frente nem sequer era para o norte, e sim para a Rua Riachuelo, ao Sul, uma vez que do outro lado estava apenas a Rua da Praia e, claro, o Guaíba. Suas duas torres de 50 metros e sua belíssima escadaria de 65 degraus, a partir da Rua da Praia, formam um conjunto que em 1938 foi tombado pelo patrimônio histórico. Muitos eventos costumam ser organizados junto à escadaria, entre eles a festa junina que mobiliza centenas de pessoas a se espalharem pelo local, degustando quitutes e quentão. A Igreja das Dores é um dos grandes orgulhos da capital.
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A Praça da Alfândega é, indiscutivelmente, o ambiente mais democrático e popular do centro histórico de Porto Alegre. Ela hospeda, por exemplo, a Feira do Livro, permitindo que esse evento cultural seja um dos únicos em espaço aberto em toda a América Latina. É essa simbologia de suas bancas de livreiros espalhadas junto aos jacarandás e a inúmeras espécies de árvores que conforma um dos charmes da capital.
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O primeiro prédio da Alfândega foi construído em 1820, num tempo em que as águas do Guaíba ainda chegavam até a Rua da Praia, de tal modo que a atual praça era extensão do estuário, e um ancoradouro ficava junto à rua. Antes disso ela já reunia mascates, de tal modo que era chamada de Largo da Quitanda. E quando a alfândega deixou de funcionar naquele local, com o posterior aterramento do Guaíba, o espaço seguiu como um dos mais movimentados e frequentados do centro. E assim continua hoje, cercado de imponentes prédios, muitos transformados em centros culturais, como o Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), o Memorial do Rio Grande do Sul, o Arquivo Histórico, o Farol Santander e o Conselho Estadual de Cultura. Numa das alamedas, o Monumento ao General Osório recepciona os visitantes, com bancos e canteiros ajardinados à sombra do arvoredo.
O célebre arquiteto Théo Wiederspahn assina o projeto de um imponente prédio erguido entre 1916 e 1933 para ser, no centro de Porto Alegre, o Hotel Majestic. Acabou por ser um de seus frequentadores, ou hóspedes, que emprestaria seu nome ao espaço cultural hoje instalado no local. A Casa de Cultura Mario Quintana, com seus ambientes voltados às artes e ao lazer, celebra um dos mais populares e conhecidos poetas gaúchos, nascido em Alegrete e radicado na capital, onde atuava junto ao Correio do Povo. Mario Quintana é um personagem que teve sua obra, marcada pelo lirismo e por uma fina ironia, projetada para todo o Brasil. Ao longo de muitos anos, ali morou e elaborou sua poesia.
Seu quarto segue preservado, com a mesma disposição dos móveis e objetos pessoais, bem como há um espaço dedicado a Wiederspahn, e também à cantora Elis Regina. Atualmente, salas de cinema e de exposições, auditórios, cafés, livraria e vários outros ambientes concentram atividades e eventos na CCMQ. Um amplo hall interliga a Rua da Praia à Sete de Setembro, facilitando o acesso e propiciando ao público espalhar-se entre as duas vias, como um ponto de passagem natural, conectando diferentes plateias na rotina cotidiana do centro de Porto Alegre. É um pulmão cultural dos gaúchos.
A Catedral Metropolitana de Porto Alegre, construída entre 1921 e 1972, demarca um dos espaços urbanos mais fortemente fixados na história estadual. Sobre o morro, do qual se descortina olhar único sobre o estuário do Guaíba, foram erguidos já nos primórdios os prédios da administração da Capitania del Rey, o hoje Rio Grande do Sul. Junto fora construída a antiga Matriz, dedicada a Maria, Madre de Deus, primeira igreja do núcleo urbano. O novo templo denomina-se Igreja Matriz de Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre, e está ao lado da sede do governo estadual, o Palácio Piratini, e da Assembleia Legislativa. Diante dela fica a Praça Marechal Deodoro, conhecida como Praça da Matriz, cercada por vários estabelecimentos públicos ou privados, entidades e organismos.
Estão nas proximidades, por exemplo, o icônico Theatro São Pedro, a Biblioteca Pública, o Tribunal de Justiça, o Palácio da Justiça e o Memorial do Ministério Público, entre outros. No centro da Praça da Matriz está o monumento em homenagem a Júlio de Castilhos, presidente do Rio Grande do Sul na virada do século 19 para o 20. É, na atualidade, ponto de concentração de movimentos populares, diante da proximidade com o Piratini, o Executivo; e a Assembleia, o Legislativo; e, claro, o Judiciário.
A Rua da Praia (ou, mais exatamente, a Rua dos Andradas, em homenagem a José Bonifácio de Andrada e Silva, o cognominado patriarca da Independência do Brasil, e a seus irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco) tem pouco mais de dois quilômetros de extensão, entre o Gasômetro e a Praça Dom Feliciano, junto ao complexo da Santa Casa. E, na verdade, nem vestígio de praia mais existe ao seu largo. Nos primórdios, ligava de fato da prainha do Guaíba ao restante do centro, tendo sempre as águas do estuário banhando-a à esquerda. O aterramento afastou a água, e com ela a praia. Mas ficou para sempre no imaginário a situação original. Se na ala oeste ela abriga casas de comércio e estabelecimentos públicos, militares, residenciais, mais ou menos em sua metade, a partir da Praça da Alfândega, assume outro perfil.
Ao longo da praça, um pavimento com ondulações faz lembrar de Copacabana. E a partir do cruzamento com a Rua General Câmara (ou melhor, a Rua da Ladeira), a Rua da Praia transforma-se em fervilhante calçadão. Logo ali, no estabelecimento na Andradas, 1.234, fica nada menos do que o Edifício Santa Cruz, que homenageia (isso mesmo) Santa Cruz do Sul, tendo sido construído por um banco originado nesta cidade. Ainda é o prédio mais alto da capital. E depois seguem o burburinho e o comércio popular até o final, já na subida do morro. É uma artéria vital de Porto Alegre.
Com sua construção tendo se iniciado em 1833, há 190 anos, o Theatro São Pedro, junto à Praça da Matriz, é um dos colírios dos porto-alegrenses e de todos os gaúchos. Paira imponente na paisagem do centro histórico e, claro, sediou prestigiosos eventos culturais ao longo das décadas. Inaugurado em 1858, o prédio é em estilo neoclássico, e há indicativos de que Philip von Normann teria sido o responsável pela execução das obras, enquanto o arquiteto Emil Julius Textor assinou a decoração interna.
Emil Textor, vale referir, fixou-se na Colônia de Santa Cruz por volta de 1866, tendo sido arquiteto na região, sócio fundador do Club Allemão, depois Club União; proprietário de serraria, juiz de paz, entre outras funções. Nascido na Alemanha em 1836, Emil faleceu em 1918, aos 81 anos. E no entorno do Theatro São Pedro ainda se pode visitar outros prédios importantes do ambiente cultural da capital, como a Biblioteca Pública, estabelecida em 1871 e aberta em 1877, que concentra cerca de 200 mil volumes, além de sediar exposições artísticas e eventos. O edifício atual, na esquina das ruas Riachuelo com General Câmara, começou a ser construído em 1912, com projeto de Affonso Hebert. Além deles, inúmeros museus e diversas galerias convidam a um mergulho no que de melhor se produziu em arte no Estado e em outras regiões do País e do mundo.
Pense o leitor numa esquina (sim, uma esquina) reconhecida como patrimônio de uma cidade, por lei. Essa é a Esquina Democrática, assim definida, tombada em 17 de setembro de 1997, há um quarto de século. Esse entroncamento é a junção da Rua da Praia (ou dos Andradas) com a Avenida Borges de Medeiros, no centro da capital. A Borges é o elo de ligação do entorno do Mercado Público e dos órgãos municipais da área com a Cidade Baixa e as saídas estratégicas para o Sul ou para o Leste, facilitando o acesso à Avenida Ipiranga, que por sua vez desafoga o tráfego na direção das grandes instituições de ensino.
Desde o século 19, o encontro da Rua da Praia com a Borges é como uma confluência de grandes rios, no entrecruzar de povos e ideias. E é pelas ideias que a Esquina Democrática se impôs, ao sediar alguns dos grandes momentos e movimentos da vida civil e política estadual e brasileira. Se a essas ideias ainda se acrescentar o fermento representado pela mítica Livraria do Globo, que ficava ali, a 20 passos do cruzamento das ruas, esse espaço da cidade se eterniza de vez. Hoje, no prédio da antiga livraria, na qual, vale citar, trabalhou o escritor Erico Verissimo, funciona uma loja da Renner. Nela, um café, no terceiro andar, promove um encontro com a obra do autor do clássico O tempo e o vento.
Depois de cruzar pela Esquina Democrática, nada mais… democrático do que encerrar esse passeio pelo centro histórico e seu universo multicultural no Mercado Público de Porto Alegre. Fundado em 3 de outubro de 1869, há mais de 150 anos, esse ponto de comércio cumpre um papel vital no abastecimento e na circulação das grandes novidades, nacionais e estrangeiras, em alimentos e bebidas. Uma ida ao Mercado Público é garantia de suprimento com variedade em praticamente todas as opções gastronômicas.
Restaurantes estabelecidos no local, como o também já histórico Gambrinus, aberto em 1889, e comércio variado de antiguidades fazem sucesso. Peixe fresco, hortaliças e frutas, carnes de todas as variedades imagináveis, os importados, da queijaria à charcutaria e aos vinhos, bem como as melhores cachaças nacionais, tudo está ali, em alguma das bancas, à espera do visitante. O segundo andar, atingido por um incêndio há quase dez anos, em julho de 2013, hoje está novamente aberto ao público, com o atendimento de restaurantes. Podendo ser acessado com facilidade a pé ou de carro de praticamente todas as áreas do centro histórico, o Mercado Público é como um grande aglutinador, num congraçamento que traz o que há de melhor no mundo à capital gaúcha.
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