O fluxo intenso de trânsito nas rodovias tem sido ameaça constante ao mundo natural, o qual a civilização acaba invadindo. Animais selvagens foram encontrados atropelados nos últimos dias às margens de estradas da região. Várias pessoas fizeram registros fotográficos dessas ocorrências, lamentando o descompasso entre a circulação de veículos e a rotina da luta pela sobrevivência de várias espécies selvagens em seu habitat.
Um dos relatos foi feito pelo entregador de medicamentos Giovane Rosa dos Santos, 52 anos, que se desloca com frequência entre Pantano Grande, sua cidade natal; Rio Pardo e Encruzilhada do Sul. Na última terça-feira, dia 22, Giovane retornava de Encruzilhada do Sul, onde havia ido a compromisso profissional, para Pantano Grande quando se deparou com animal selvagem morto no acostamento da BR-471. Estava na altura da localidade de Dois Cerros, já em território de Pantano Grande, a cerca de 18 quilômetros desta cidade.
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Ele parou sua Fiorino para fotografar o animal. Em uma rede social, postou foto que fez na ocasião, dizendo-se triste por constatar o fato: “Animal muito lindo (Jaguatirica) morto à beira da 471… Dois Cerros Pantano Grande”, informou.
Para a Gazeta do Sul, por telefone, Giovane observou que mais tarde encontrou um segundo exemplar igualmente atropelado, a cerca de 1,5 quilômetro daquele local. E este estava bastante machucado, de tal modo que preferiu não fotografá-lo. “Talvez até fosse um casal ou andavam em bando”, refletiu. E acrescentou que, como circula quase que diariamente pela região, fazendo entregas de medicamentos sob demanda de empresa de Recife (PE), vê com muita frequência animais atropelados. “É uma pena, isso”, diz.
Giovane não soube precisar quando o animal de Dois Cerros teria sido morto. “Alguém comentou em minha página que já tinha visto ele deitado ali no acostamento naquele domingo anterior”, refere. Casado com Márcia Cristina, também de Pantano Grande, e pai de Rômulo, 27; Ranyel, 21; e Raynan, 12, Giovane diz que costuma prestar máxima atenção em seus deslocamentos justamente para evitar que venha a fazer mal a animais selvagens, em especial nos trechos de mata ou menos habitados.
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Felídeo de porte médio
Consultado pela Gazeta do Sul, o biólogo e professor Andreas Köhler, da Unisc, após conferir a foto tirada por Giovane Santos, confirma tratar-se de uma jaguatirica. O biólogo acrescenta que este animal é um felídeo de porte médio, menor do que a onça e o puma, mas maior que as outras espécies de felídeos no Rio Grande do Sul. Pode medir de 67 a 101 cm e cabeça e corpo e pesar entre 8 e 15 quilos.
A pelagem apresenta coloração variável, de acinzentado ao amarelado, e é coberta por rosetas geralmente abertas, formando bandas longitudinais nas laterais do corpo, e com cauda relativamente curta, de 30 a 44 cm.
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Köhler cita o estudo “Mamíferos do Rio Grande do Sul”, organizado por Marcelo de Moraes Weber, Cassiano Roman e Nilton Carlos Cáceres, para a editora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), segundo o qual a espécie ocorre em toda a América do Sul, com exceção de Chile e Uruguai, e até nos Estados Unidos. A presença de densa cobertura vegetal é requisito para sua ocorrência.
Sua dieta inclui pequenos roedores e marsupiais, além de répteis, anfíbios, peixes e crustáceos, e eventualmente mamíferos de maior porte, como pacas, cutias e tatus. É considerada espécie vulnerável à fragmentação e alteração de seus habitats e à redução da disponibilidade de presas, o que ocorre com o avanço da civilização nos espaços naturais e a devastação dos ambientes.
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Quem também se deparou com um animal atropelado à beira de rodovia foi o produtor rural e influenciador digital Giovane Luiz Weber, colaborador da Gazeta do Sul. Há 14 dias, retornando de viagem ao Paraná, se deslocava entre Erechim e Passo Fundo quando viu, à beira da estrada, um animal selvagem atropelado. Parou para registrar a cena.
O biólogo e professor Andreas Köhler igualmente verificou as fotos feitas por Weber e constatou tratar-se de um graxaim, dos quais existem dois grupos, o graxaim-do-mato e o graxaim-do-campo.
Weber, que se desloca com frequência pelos três estados da região Sul do Brasil, enfatiza que é muito rotineiro encontrar animais selvagens atropelados em acostamentos e no leito de rodovias. “É o ônus que o mundo natural paga pelo avanço da nossa civilização para seus habitats”, frisa.
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