Como ia dizendo, estava difícil de fechar o negócio do gado e voltara a Porto Alegre com a cabeça cheia de marimbondos.
Decidi reformular a proposta ao sr. Delapiéve. Propus que eu ficaria com todo o gado, em torno de 700 cabeças. Mas iriam todos para a balança e eu pagaria terneiros, terneiras, touros, bois, novilhos, novilhas, vacas solteiras e vacas com cria ao preço do quilo vivo da vaca de descarte, com metade à vista e o resto em 90 e 120 dias.
O homem acabou concordando. Feito isso banhei todo o gado, que estava meio carrapateado, e comecei a classificação ajudado por três peões que eu havia contratado. Separei lotes de vinte animais por peso, categoria, pelagem e assim por diante. Feito isso contratei o Guarany Remates, acertando que a comissão de venda seria paga pelos compradores. Fizemos propaganda por um mês, ao cabo do qual foram todos os animais para o Parque de Exposições de Santiago.
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Por sorte, a época estava muito favorável para gado magro. Como o leilão reunia muitos animais, veio muito comprador de longe. Ofereci um churrasco ao meio-dia, lá no Parque , para os possíveis clientes. No horário do início, as arquibancadas estavam lotadas e o remate decorreu rápido, com pista limpa. Praticamente empatei o que pagara e estava feliz por poder começar no agronegócio com muita qualidade.
Não me apressei em comprar matrizes de uma só vez. Ia esperando as oportunidades, sempre tendo o cuidado de só comprar animais que conhecessem “mio mio”. Trata-se de uma erva que medra naquela região e adjacências, extremamente tóxica e mortal. O gado que nasce na região conhece a erva e não a come. Mas os que a não conhecem acham que é pasto normal, ingerem-na e morrem em questão de horas.
Aos poucos fui povoando o campo até que, passado um ano, recebi um chamado do Sr. Delapiéve. Queria me vender toda a fazenda. Eu não tinha bala para um negócio desse vulto, apesar de estar indo superbem na advocacia. Maristela, então, se propôs a vender um apartamento que tinha em P. Alegre, o qual estava fechado. Mas o apartamento só dava para pagar parte do campo. Seus pais, então, venderam uma área e inteiraram o dinheiro.
Feito o brique, como se diz na campanha.
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Comecei, então , a investir em benfeitorias. Padronizei as invernadas em 100 hectares mais ou menos cada uma. Isso facilitava o manejo. Perfuramos um poço artesiano, puxamos energia elétrica de longe e construímos uma casa nova na sede da Fazenda.
Dois anos depois, por vez primeira, levei meus terneiros de 9 meses de idade e cerca de 220 quilos cada um para a Feira de Terneiros de Santiago. Para iniciar, formei vinte lotes com dez terneiros cada. Ainda me emociono até as lágrimas. Ao término dos julgamentos eu, um desconhecido como pecuarista, fui chamado para receber o troféu de Melhor Lote de Terneiros, oferecido pelo Sindicato Rural.
Aquilo mudou minha vida.
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