Num sábado, visitando meu sogro em Santiago, após um churrasco, aquela ressolana medonha de janeiro me fez ficar com vontade de me banhar numa sanga bem fresquinha, com águas límpidas .

Perguntei a ele se não sabia de um pedaço de campo para eu  comprar. 

– Embarca na caminhonete, que vou te mostrar um campo que está à venda, disse meu sogro. O local distava 24 quilômetros de Santiago e 7 quilômetros da BR–287, já no novel município de Unistalda. Maravilhei-me com a beleza desse campo, com seus capões de arvoredo nativo, uma bela sanga serpeando por sobre um fundo basáltico e seixos, dois belos açudes, uma fauna silvestre impressionante. A área tinha 209 hectares, o que é pouco naquela região, mas para mim era um “latifúndio”. Indaguei do preço, não achei caro e na segunda já fechei negócio. Fiquei por lá mais uns dias, completamente embevecido e apaixonado pelo campo. A propriedade, no entanto, não tinha uma sede, nem mangueiras. O vendedor me disse que um lindeiro, Sr. Santo Gatiboni Delapiéve, me deixaria usar seus equipamentos para o manejo do gado.

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Em seguida comprei 160 boizinhos de sobreano, coloquei dois cochos cobertos para o sal e o Sr. Delapiéve me disse que seus peões reparariam a tropa para mim, mediante uma gorjeta módica.

Mas logo vi que meu gado era meio “multirracial” e não tinha um padrão definido. Decidi deixar esse gado pegar mais um “estado” e vender. Foi o que fiz e, aí sim, adquiri 140 fêmeas angus e brangus, bem definidas, e três touros brangus, rústicos, mas de excelente genética.

Seu Delapiéve tinha uma boa sede, com casas, galpão, mangueiras, mas as cercas deixando muito a desejar. Certo dia me ligou: – Estou muito velho , 80 anos, e quero lhe arrendar minha fazenda e lhe vender todo o gado, as ovelhas e os 15 cavalos e éguas.

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Saí de Porto  Alegre na madrugada seguinte e me fui para lá. Por via das dúvidas, levei junto um amigo veterinário e dono de uma fazenda para me assessorar.

Não que o gado do Sr. Santo fosse ruim, mas não tinha padrão e alguns animais já tinham muita idade, sendo problemático criá-los a campo, sem pastagens de aveia e azevém no inverno.

A área era de 870 hectares e ele queria o valor locatício anual de 3.800 quilos de boi gordo por quadra (87 hectares). Propus 3.000 quilos por quadra, à vista os três primeiros anos. Puxa para cá, puxa para lá e acertamos por 3.400 quilos.

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Mas a bronca para acertar tudo eram os animais. Eu queria o negócio, mas estava determinado a não ficar com a grande maioria, para não dizer nenhum. Iria repassar tudo e adquirir gado padrão.

A noite foi chegando e não houve acerto quando ao valor do gado e ao rebanho. Voltei triste para Santiago.  Meu sogro me convenceu a “não esquentar a moringa”, que era só dar um tempo e o “brique” ia sair.

Achei melhor deixar a coisa maturar e voltei a Porto Alegre. Com a cabeça cheia de marimbondos.

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