Neste domingo, o acidente que levou a estudante Gabriele Schulte a perder a vida depois de 30 dias na UTI completa um ano. Para os pais da jovem, Fábio e Débora Schulte, foi um ano de saudade.
Além de aprender a conviver com a dor e a ausência da filha caçula, o casal não se conforma com o fato de o culpado pela colisão, que já foi indiciado pela Polícia Civil de Santa Cruz do Sul, responder em liberdade. Esta semana, a segunda audiência do processo que tem Leonardo Kroth como réu foi adiada por causa da ausência de uma testemunha. A nova data ficou para abril de 2020.
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“É um martírio para nós. Faz um ano do acidente no domingo e o motorista vai continuar solto até o ano que vem. Isso que é a nossa tristeza”, comenta Fábio. A mãe de Gabriele conta que os amigos da filha dizem ver Leonardo dirigindo pela cidade com frequência. Ela pede que o caso não seja esquecido. “A gente vê que continuam ocorrendo acidentes com jovens e não queremos nunca que caia no esquecimento o que aconteceu com a nossa filha.”
Mas, para a equipe da 2ª Vara Criminal do Fórum de Santa Cruz do Sul, onde corre o processo, o caso está tramitando de forma rápida, se considerada a sua complexidade. De acordo com o órgão, a existência de diversas testemunhas arroladas torna o processo um pouco mais demorado que o comum e difícil de ser resolvido nas primeiras audiências.
Quanto ao fato de Kroth responder em liberdade, a 2ª Vara informou que esse é o procedimento previsto em lei, já que não houve prisão em flagrante, ou seja, no dia do acidente. O mesmo vale para a cassação da carteira de habilitação do réu, que só poderia ocorrer após o julgamento do processo, como pena acessória a uma possível condenação.
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Kroth foi indiciado quase cinco meses após o acidente pela 1ª Delegacia de Polícia de Santa Cruz. Na época, a delegada Ana Luísa Aita Pippi, que comandou a investigação, explicou que as averiguações foram desafiadores, porque começaram 30 dias após o acidente. Antes disso, tratava-se apenas de uma ocorrência com lesão corporal – sem morte –, por isso, era preciso que Gabriele manifestasse vontade de abrir uma investigação contra Kroth para que a polícia pudesse agir.
Apesar dos desafios, a delegada conseguiu reunir as provas necessárias e indiciou o jovem por homicídio doloso na modalidade de dolo eventual – quando se assume o risco de matar. Na tarde dessa quinta-feira, 7, a reportagem da Gazeta do Sul procurou Leonardo Kroth, mas ele não respondeu até o fechamento desta edição.
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Entenda o caso em cinco momentos
1 – No fim da madrugada de 10 de novembro de 2018, Gabriele Schulte, de 19 anos, pegou carona com Leonardo Kroth, 20, para voltar de uma festa que estava acontecendo na sede campestre do União Corinthians, na Zona Norte de Santa Cruz do Sul. Antes de ir para casa, eles pretendiam lanchar em um posto na Rua Carlos Trein Filho com amigos que também haviam saído da confraternização.
2 – Por volta das 6h35, na Rua Coronel Oscar Jost, nos fundos do Parque da Oktoberfest, Leonardo perdeu o controle do carro, um Golf Prata, e bateu contra um poste. O choque ocorreu em cheio na lateral direita, onde Gabriele ocupava o banco do carona. O poste chegou a se quebrar. Mais tarde, as imagens de câmeras de segurança próximas mostrariam que o veículo estaria em alta velocidade, a ponto de ficar ricocheteando contra o poste após o impacto.
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3 – Gabriele foi socorrida naquela manhã e encaminhada para atendimento no Hospital Santa Cruz. Leonardo chegou a ir com a jovem até lá, mas acabou sendo liberado. Nesse dia, ele não foi submetido ao teste do bafômetro, nem passou por exame de sangue que pudesse atestar se estava embriagado. Mais tarde, a polícia ouviu 12 testemunhas, entre enfermeiros, bombeiros e médicos, além de amigos de Leonardo que estavam na festa, os quais confirmaram que ele teria bebido e também teria contado isso para um bombeiro e uma médica do hospital.
4 – No dia 10 de dezembro, depois de um mês internada em estado grave na UTI do Hospital Santa Cruz, Gabriele morreu. O óbito foi atestado às 10h40. Com o falecimento da jovem, a Polícia Civil deu início à investigação do acidente, que levaria quatro meses até ser concluída.
5 – Em 4 de abril deste ano, a delegada Ana Luísa Aita Pippi concluiu o inquérito sobre e indiciou Leonardo Kroth por homicídio doloso, na modalidade de dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Além das imagens do local e depoimentos de testemunhas, um laudo para atestar a velocidade do veículo foi solicitado ao Instituto Geral de Perícias (IGP). O trajeto de 52 metros percorrido pelo carro nas imagens foi medido pelos peritos. Eles concluíram que o automóvel estava a 88 quilômetros por hora, mais do que o dobro do permitido para a via. O cálculo ainda tem uma margem de erro, o que significa que a velocidade real poderia ser de 83 até 94 quilômetros por hora.
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