Em um tempo no qual todas as relações humanas passam pelo uso da tecnologia, uma das necessidades mais ancestrais do ser humano – a da relação com outra pessoa – também migra para esse ambiente. Na próxima quarta-feira, casais irão comemorar seus relacionamentos no Dia dos Namorados. Na psicologia, é consenso dizer que todos precisam de alguém, necessitam de relacionamento, e isso é algo natural para o ser humano.
Então, quem ainda estiver sozinho na próxima semana talvez seja porque não encontrou o seu par perfeito. Faltou afinidade, encantamento ou oportunidade. A Gazeta do Sul conta hoje histórias de corações que estavam solitários e encontraram na tecnologia a aliada para descobrir o amor. Se o seu coração bate apertado, triste por estar solitário, seja bem-vindo ao namoro 4.0: o mundo dos relacionamentos que começaram por meio de aplicativos ou redes sociais e usam a tecnologia para encurtar as distâncias.
Do aplicativo ao “felizes para sempre”
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A história de Gabriela Zucchetti Kessler e Diego Guedes Madeira começou com um match. Match, no Tinder – aplicativo mundial de relacionamentos –, significa combinar. Combinar é a senha para marcar o primeiro encontro e ver se tudo aquilo que se diz no aplicativo combina com a fotografia e a presença física de quem foi selecionado. É a linha de largada para começar uma paquera.
Gabriela explica que criou o perfil no Tinder aconselhada por uma tia. Ao lado da mãe, ela observou perfis escolhidos em um raio de 60 quilômetros de distância, a partir da casa delas, em Santa Cruz. Na época, Diego estava em Venâncio Aires. “Nós conversamos pelo aplicativo por uns dois dias. Aí passamos a usar o WhatsApp e combinamos uma festa, em Santa Cruz”, diz Gabriela.
Diego conta que estava solteiro há algum tempo. Usava o aplicativo para encontrar paqueras. “Eu tenho uma dificuldade muito grande para identificar a fisionomia. Eu fui na festa com dois amigos, e um deles conhecia a Gabriela. Pedi para ele me ajudar a reconhecê-la”, recorda. O encontro ocorreu, e o sorriso da atual esposa logo o cativou: “Ela é só dentes”, elogia.
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No dia seguinte haveria uma festa em Venâncio Aires. “Estava combinado há tempo esse evento. Fiz de tudo para ela vir para cá, tanto que eu fui buscá-la em Santa Cruz”, menciona Diego. Gabriela foi, e a combinação entre eles continuou. Tempo depois vieram o pedido de namoro e um emprego em Ponta Grossa, no Paraná. A vida começou a ser de casal, e logo veio o casamento oficial, celebrado em Santa Cruz do Sul, em uma cerimônia íntima para amigos e familiares.
Agora, eles moram em Porto Alegre. Vivem felizes, convictos de que o uso da tecnologia acertou em cheio o coração de ambos. “Foi o primeiro e único homem que eu conheci pelo aplicativo. Depois que começamos a namorar, o Tinder foi excluído. Temos redes sociais, cada um tem a senha do outro, não tem estresse nem invasão de privacidade”, explica Gabriela. O relacionamento do casal amadureceu e motiva ambos a seguirem juntos, como eternos namorados.
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Substituto da paquera?
Para o marido de Gabriela, o aplicativo pode, sim, desempenhar um papel fundamental na paquera. Antes de conhecer a esposa, ele conta que utilizou o Tinder por aproximadamente um ano. Diego considera-o bom, um facilitador de relacionamentos. “Muitas pessoas que talvez nunca se conhecessem agora se conhecem com mais facilidade”, justifica.
No caso de Gabriela, o app trouxe o amor para a vida de Diego. Na relação deles, encontrá-la no sistema foi fácil. Difícil foi convencê-la a namorar com ele. “Foram várias investidas, e eu acredito que isso até foi um dos motivos para que tudo desse certo. As relações via aplicativo são muito superficiais; quanto maior a dificuldade para conquistar, mais a gente valoriza depois”, ressalta Diego.
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Conforme a psicóloga santa-cruzense Gisele Maria Severo, o mundo contemporâneo é outro. A inteligência artificial, tão presente na rotina cotidiana, é parte das relações e caminha ao lado dos relacionamentos amorosos. De acordo com ela, as ferramentas de interação, de encontro e de paquera, como as usadas por aplicativos e redes sociais, conseguem aproximar pessoas, ajudando a minimizar a necessidade que humanos têm de estar próximos uns dos outros. “O ser humano não tolera a indiferença, não consegue ficar sozinho. Quem está solteiro é porque não achou aquela pessoa que fez o coração bater mais forte.”
A psicóloga explica que a tecnologia tornou-se uma facilitadora do processo de conquista, mas não substitui o contato, a boa fala, a cortesia e tudo mais que faz parte de um relacionamento amoroso. O sucesso na utilização dessas ferramentas, segundo ela, também está ligado à essência do indivíduo. “Assim como em qualquer relacionamento, primeiro é preciso que a pessoa se conheça. O autoconhecimento é a chave para todos os processos, inclusive os relacionamentos amorosos. Quem se conhece realmente pode combinar com outra pessoa”, recomenda a psicóloga.
Namoro a distância ainda funciona?
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Pâmela Caroline Köester garante que sim. Desde que ela conheceu o namorado, João Nathan Maria, em dezembro de 2017, o casal namora à distância. Ela mora em Mato Leitão, ele morava em Estrela, na época. “Era pertinho, em meia hora de carro nós estávamos juntos”, conta Pâmela.
Há seis meses João passa a semana em Porto Alegre, onde faz faculdade de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). “Nem sempre a gente se vê aos fins de semana. Não é sempre que o João vem para Estrela, nem sempre eu consigo ir vê-lo em Porto Alegre. Nós temos compromisso”, frisa.
Pâmela diz que os dois contam tudo um para o outro. Durante o dia, cada acontecimento, cada nota de prova na faculdade ou evento vivenciado pelos dois pauta a comunicação do casal. “A gente passa o dia mandando mensagens pelo telefone. Esse é o segredo, nunca somos surpreendidos por nada, pois sabemos de tudo um do outro”, ensina a namorada do João Nathan.
O casal é livre para seus compromissos, mas tem responsabilidade um para com o outro. Sempre que há uma reunião de amigos, de colegas de faculdade, João participa, mas avisa primeiro a Pâmela. Da mesma forma ela sai com as amigas, faz programas de “menina” e não se culpa por isso. “Existe uma conexão que é interna, que está no sentimento de cada um. Relacionamento a distância dá certo sim, mas se trata de uma escolha”, avalia a psicóloga Gisele Maria Severo.
Para não dizer que não falei das flores
Se os encontros começam no mundo virtual e o sentimento passa primeiro pelo match para depois se tornar material, enviar flores no Dia dos Namorados ainda vale? Sim, e muito.
Conforme o gerente da Floricultura Paisa Mundy, no Centro de Santa Cruz, Eduardo Freitas, a loja receberá uma carga extra de 3 mil rosas importadas na semana que vem. O reforço no estoque irá se transformar em buquês, entregues para namoradas e namorados. O gerente revela que a data – 12 de junho – é uma das mais importantes no calendário de vendas da floricultura. “A nossa expectativa é muito boa. Muita gente encomenda buquê, cestos, arranjos com bebidas, chocolate e flores. O dia é de festa também para nós”, descreve.
Quem atua na produção dos buquês é a florista Ana Paula Pereira Waich. Ela revela que o segredo para fazer o coração de quem recebe as rosas bater mais forte está na montagem do buquê. “É preciso juntar as flores em espiral. Aí, ao terminar, o buquê terá a forma arredondada.” O preço dos buquês varia de R$ 15,00 a R$ 500,00.
Não é preciso ter vergonha
A produção desta reportagem teve dificuldade de encontrar pessoas dispostas a dizer abertamente que se conheceram por meio de aplicativos. A psicóloga Gisele Maria Severo frisa que, no mundo contemporâneo, é normal usar esses “atalhos” para namorar. “Estamos em uma nova era, onde tudo está envolvido nessa tecnologia. Com isso, as coisas vão se modificando e quem não acompanha acaba ficando para trás.” Vergonhas à parte, o site do Tinder no Brasil revela que o aplicativo contabiliza 2 bilhões de visualizações por dia ao redor do mundo. O sistema opera em mais de 190 países e coleciona mais de 30 bilhões de matches, ou seja, combinações entre os seus usuários.
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