Com uma produção nacional das mais evidentes do ano que agora finda, a Associação dos Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul também encerra a sua temporada 2015 de exibições. Que Horas Ela Volta? (2015), de Anna Muylaert, com Regina “Esquenta” Casé como protagonista, será exibido hoje, a partir das 20 horas, no auditório do Sindicato dos Bancários (Sindibancários) de Santa Cruz do Sul (Rua Sete de Setembro, 489), com entrada franca. Uma hora antes, no mesmo local, haverá uma espécie de hap-py hour com associados, simpatizantes, patrocinadores e apoiadores convidados, para comemorar o bom ano e anunciar que uma nova sessão depois desta de hoje, só no ano que vem, após o Carnaval.
Regina Casé é a pernambucana Val. Ela se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida a sua filha, Jéssica (Camila Márdila). Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica lhe telefona pedindo ajuda para ir a São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos. Só que, quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente pela mansão, como não deveria, a situação se complica.
Que Horas Ela Volta? ganhou alguns prêmios, foi selecionado para o Festival de Berlim e foi o candidato brasileiro ao Oscar. Foi exibido no Festival de Sundance 2015, onde Regina Casé e Camila Márdila ganharam o Prêmio Especial do Júri na categoria de interpretação de cinema mundial. Segundo o Ranking dos Melhores Filmes Nacionais da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), está em 71º lugar. É o filme mais recente da lista.
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CRÍTICA
Para o jornalista Inácio Araújo, crítico de cinema da Folha de São Paulo, o tema é quase uma obsessão recente da produção cinematográfica brasileira: a empregada doméstica como evidência da persistência do escravismo numa sociedade em que a elite resiste, desde sempre, ao trabalho físico. Val, a empregada, é tratada (quase) como uma pessoa da família. Ao entrar na história a filha da empregada, começam a ser explicitadas situações que ninguém quer ver explicitadas. Ou que, de acordo com Araújo, “ninguém nem mesmo sabe que existem”. Para ele, é o filme “mais arriscado” de Anna Muylaert, pela ambição.
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Colunista da Folha, o psicanalista e dramaturgo italiano Contardo Calligaris, radicado no Brasil (Porto Alegrre) desde o final dos anos 1980, disse que gostou muito deste novo filme da Anna. “É um retrato tocante e fiel da nossa realidade de hoje.” Entre “sins” e “nãos”, é inegável a boa escolha da direção da Amigos do Cinema para a última sessão do ano.
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