O cineasta russo Andrei Tarkovski (1932-1986) era cristão. Justo, portanto, que Stalker traduza sua fé, mesmo que o livro dos irmãos Strugátski, Piquenique na estrada, origem do seu filme, seja laico. De qualquer modo, filme e livro formam uma parábola sobre a presença do sobrenatural no mundo ordinário: num tempo indefinido, o “Stalker” do título leva um escritor e um professor a um território interditado pelas autoridades.
A exibição é nesta terça-feira, 26, a partir das 20 horas, na sede do Sindicato dos Bancários (Sindibancários, na Rua Sete de Setembro, 489), com entrada franca. Com ele, a Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul encerra o ciclo Tarkovski. O filme será comentado, após a sessão, pelo psicanalista Ernesto Söhnle, que também é pós-doutor em Letras, com ênfase em Psicanálise.
Pelas primeiras imagens, sabe-se que a enigmática “Zona” fica numa cidade com usinas nucleares. Mas foi outro o motivo que levou o governo a proibir o ingresso na Zona: a invasão daquele espaço por alienígenas, o que explica os procedimentos do “stalker” para testar a ausência de gravidade em determinados pontos do percurso, atirando aleatoriamente porcas de ferro.
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Seja como for, a meta dessa jornada é um quarto sobrenatural onde os visitantes poderão concretizar seus desejos mais íntimos. Um homem que perdeu o irmão na Zona, conta o Stalker, desejou ficar rico e, de fato, ficou, mas se enforcou em seguida – talvez pela culpa de não ter desejado que o irmão fosse poupado da morte, em vez de ambicionar fortuna. Stalker, acima de tudo, trata de altruísmo, do sacrifício pelo outro – e o próprio guia tem uma filha mutante e paranormal com poderes telecinéticos, pela qual o ‘stalker’, um ex-presidiário, arrisca-se na misteriosa Zona.
Em Stalker, os viajantes não sabem o que desejar. O escritor, em crise criativa, busca na Zona um tema inspirador. O professor, um cientista, quer decifrar o enigma, mas desconfia que a realização de desejos coletivos pelo “quarto” pode levar ao caos. Planeja explodir o lugar. Stalker, ao contrário, é presciente como a Zona que visita. Lamenta que não seja possível mudar pessoas nem libertá-las (a “zona” é vista por ele como um espaço de pacificação, apesar do aspecto caótico de um lugar atingido por um meteorito).
A hipótese desse teorema de Tarkovski é apresentada num prólogo monocromático. Dirige o espectador para uma tese policromática dentro de uma zona que contrasta com o mundo exterior – deteriorado, consumido pela ferrugem. Com a crença euclidiana em seu teorema, o cineasta faz o escritor chegar ao fim da jornada com a coroa de espinhos do Cristo na cabeça. Detalhe: o ator que interpreta o escritor, Anatoly Solonitsyn, Tarkovski e sua mulher acabaram sacrificados por causa de Stalker: morreram todos de câncer após a filmagem em locações contaminadas por uma indústria química.
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Curiosidades*
Na insígnia dos capacetes dos policias podemos ler duas letras : AT. Essas são as iniciais do nome do diretor, Andrei Tarkovski.
A zona do filme foi inspirada em um acidente nuclear que aconteceu perto da cidade russa de Chelyabinsk em 1957. Uma área enorme foi poluída por poeira radioativa e depois abandonada. Obviamente, não houve menção na época a essa área esquecida.
Os negativos originais foram destruídos por causa de um erro no laboratório. O filme teve que ser filmado de novo, começando do zero, com um novo diretor de fotografia.
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A primeira versão de Stalker foi mantida na casa da editora Lyudmila Feyginova durante anos. Um incêndio destruiu o filme e também a matou.
Perto do fim do filme, a esposa do Stalker fuma cigarros de um pacote que tem a mesma insígnia dos capacetes dos policias. A insignia é AT, ou seja, Andrei Tarkovski.
*Fonte: adorocinema.com
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