Ao longo dos anos, Ken Loach e seu roteirista Paul Laverty vieram depurando um estilo único, adequado a um tema preferencial – os efeitos do capitalismo sobre os que ocupam a base da pirâmide social. O estilo é límpido, simplificado ao extremo, de modo que nenhum exibicionismo venha contaminar a veia política da história que se está contando. Pode-se dizer que com Eu, Daniel Blake, essa maneira de se expressar tenha atingido a sua quase perfeição, seu ponto de chegada formal. Não por acaso venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado. Um tema pode ser nobre, mas se não é versado na forma que lhe cabe, de nada serve.
O filme é o cartaz de hoje da Associação dos Amigos do Cinema de Santa Cruz do Sul, a partir das 20 horas, no auditório da sede do Sindicato dos Bancários (Sindibancários, na Rua Sete de Setembro, 489), com entrada franca. Possui a força de indignação que expressa o lamentável estado do mundo atual. Se países periféricos, como o Brasil, sofrem na montanha-russa da instabilidade política e fragilidade econômica, países desenvolvidos, como o Reino Unido, não escapam ilesos.
No caso, o que se discute em Eu, Daniel Blake tem muito a ver com um país como o Brasil, que de repente acordou achando que gasta demais com o seu nada exemplar sistema previdenciário. Pois bem, os ingleses durante muito tempo se orgulharam do seu sistema de saúde e da sua seguridade social. O que se pode ver é que nem mesmo lá, um farol para o mundo civilizado nesse setor, as coisas andam bem. Depois das reformas de Thatcher, a Inglaterra nunca mais foi a mesma.
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O enredo é simples. Após sofrer um ataque cardíaco, Blake (Dave Johns) quer apenas retornar ao trabalho e receber benefícios a que tem direito. Mas enreda-se no labirinto kafkiano da burocracia, cujo único fim (todos sabemos) é dificultar ao máximo a vida das pessoas. Viúvo, e em meio a suas agruras, Blake ainda consegue forças para ajudar uma mãe solteira (Hayley Squires), um aceno do cineasta à antiga solidariedade proletária. Num mundo competitivo, mediado pelo dinheiro e pelas coisas, a dignidade é a matéria-prima mais escassa. Loach a irriga, como a uma planta rara.
* Com informações da Agência Estado.
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