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Dia do Amigo

Amigos das redes sociais também são verdadeiros e confiáveis?

No auge das redes sociais, a máxima “sortudo é quem consegue encher uma mão com amigos de verdade” tem ainda mais importância. Geralmente, os contatos virtuais ficam restritos a telas de computador, celular ou outros equipamentos eletrônicos. Deixam de criar contato físico para manter a velha e boa relação, conhecida como amizade. E, nessa condição, quem pode ser considerado amigo? O Dia do Amigo, comemorado nesta segunda-feira, 20, traz também a reflexão acerca do valor de uma amizade verdadeira, a qual depende apenas de qualidade e não de quantidade. Afinal, qual o sentido de ter mais de mil amigos no Facebook se nem todos mantêm um relacionamento confiável?

Diante da ampla possibilidade de amizades que a internet oferece, na rede social, o usuário já é considerado amigo somente pelo fato de ter sido aceito na página de alguém, comenta a psicóloga Cíntia Haag Schacht, ao referir-se à superficialidade da interação. Entretanto, ela discorda do conceito criado por quem usa a ferramenta. “Amigos virtuais são apenas contatos virtuais. Amigo de verdade se faz através de amizade construída lentamente e no contato pessoal com o outro. As redes sociais podem, sim, servir de meio para tal quando há distância entre os envolvidos, mas não substitui o contato pessoal. Não podemos jantar com um amigo pelas redes sociais, ou ir ao cinema, ou tomar um chimarrão”, exemplifica.

Conforme a psicóloga, muitas vezes o grande número de contatos virtuais está relacionado a uma necessidade de ser visto e reconhecido, o que se concretizaria através de ‘curtidas’. “As curtidas estimulam o superego. O superego tem o ideal de eu. Ele diz como você tem que ser, manda mensagens como ‘não faça isso’, ‘pare de comer’, ‘seja assim’”, ressalta.

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Psicóloga Cíntia Haag Schacht
Foto: Divulgação

 

Há alguns anos, Alex Borges da Fontoura, de 42 anos, trabalhou como gerente em uma casa noturna de Santa Cruz do Sul. Na época, era adicionado no Facebook com frequência e a lista de contatos chegou a 4,2 mil pessoas. Ele acredita que, por causa da função que exercia, os frequentadores da festa se sentiam na liberdade de adicioná-lo na rede social. “Aceitava muita gente sem mesmo conhecer pessoalmente em virtude do meu trabalho na noite. Na posição que eu ocupava seria até indelicado e antipático de minha parte caso não aceitasse os pedidos de amizade”, justifica. Contudo, hoje em dia se diz mais seletivo. “Se não conheço, se não conversei ao menos uma vez, não aceito. Não que eu nunca tenha adicionado alguém que julgasse interessante e que eu não conhecesse, mas quando fiz isso, foi para tentar estreitar algum laço de amizade”, completa.

Entre os contatos virtuais, Alex classifica como amigos apenas os que fazem parte do seu cotidiano, mas reconhece que muitos dos conhecidos da rede social também o ajudam de alguma forma. “Às vezes, quando preciso uma informação que está fora do meu alcance, basta postar na linha do tempo que, imediatamente, aparece uma porção de pessoas querendo ajudar. E, na maioria das vezes, são pessoas com as quais não tenho o mínimo contato, mas que se dispõe a perder um tempinho para ajudar. Por isso que acredito que elas também acrescentam na minha vida”, argumenta. Além disso, ele acrescenta que não foram poucos os contatos que passaram da barreira virtual para a pessoal. Porém, afirma que nem todos se tornaram pessoas confiáveis. “A confiança é uma coisa que você conquista com a convivência, mas também não é ela que vai ditar se a pessoa é confiável ou não”, salienta.

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A internet, ao invés de se tornar um facilitador de interação, acaba, por vezes, prejudicando as relações de amizade, acredita Fontoura. Para ele, algumas pessoas navegam no Facebook ou conversam através de um chat quando deveriam estar curtindo bons momentos ao lado dos amigos. “Precisamos ter cuidado com isso para que não deixemos momentos com quem está pertinho por uma simples conversa online com alguém que está longe”.

Já o estudante de Psicologia, Eduardo André Poll, de 23 anos, tem uma lista de amigos menos extensa na rede social. São pouco mais de 580 pessoas que integram o círculo de amizade virtual do vera-cruzense. Entre os critérios que utiliza na hora de aceitar ou não um novo contato estão os amigos em comum e a proximidade dos mesmos, de onde que conhece a pessoa e com qual frequência a vê. “O Facebook fala muito sobre o sujeito, permitindo que demais usuários levantem uma boa base de dados acerca de sua vida. Desconhecidos não são aceitos em meu perfil justamente por desconfiança. Foi pensando nisso que, recentemente, realizei uma ‘limpa’ em meu perfil,  excluindo cerca de 150 usuários, entre desativados e outros que não tenho proximidade alguma”, conta.

Assim como Fontoura, Eduardo acredita que a confiança se adquire com a convivência. Além disso, também reconhece a importância dos contatos virtuais. “Muitas vezes é possível ter uma conversa boa sobre assuntos que não requerem tanta proximidade”, afirma. Ele acredita que a principal diferença entre as amizades virtuais e as convencionais é o grau que uma conversa pode chegar. “Com os amigos virtuais costumo falar sobre assuntos aleatórios, que não envolvam questões emocionais e pessoais. Com as pessoas que tenho contato e maior proximidade, é possível uma conversa mais detalhada e delicada”, difere.

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AMIGO TAMBÉM É UM ESPELHO

Segundo a psicóloga Cíntia Haag Schacht, ter um amigo é importante para que a pessoa tenha uma referência de si mesma na sociedade.  “Uma relação de amizade oferece uma percepção dos seus próprios aspectos em uma pessoa que lhe serve de espelho, concordando e discordando, mostrando-lhe a realidade. Além disso, faz bem para a saúde por fortalecer a autoestima e trazer confiança. Indivíduos sem amigos não têm referências e se sentem isolados, o que é um sentimento desesperador”, explica a psicóloga.

Ela afirma que é comum as pessoas se espelharem nas outras para avaliarem suas próprias vidas. Entretanto, de acordo com a psicóloga, há um risco nas redes sociais. “Elas (as redes sociais) conseguem deixar a felicidade alheia mais sedutora, transformando pessoas e situações em ideais. Imagens de vida perfeita sempre estiveram por aí”, salienta.

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