O distrito de Alto Paredão revela paisagens deslumbrantes e encantadoras entre seus morros e vales. Localizada no interior de Santa Cruz do Sul, a comunidade está situada a uma elevação de 673 metros, sendo o ponto mais alto do município e o mais distante da área urbana.
Na quarta-feira, a estrada que dá acesso ao local estava em boas condições de trafegabilidade, não apresentando problemas. Pelo percurso, no entanto, ainda há cicatrizes da recente enxurrada, que causou estragos imensuráveis no Rio Grande do Sul. A comunidade não registrou enchentes, mas deslizamentos de encostas; algumas, visíveis até hoje.
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Chegando ao pequeno vilarejo, é possível observar empreendimentos locais, campos verdejantes e lavouras que se estendem até onde a vista alcança. O produto principal na agricultura, que faz a economia girar no distrito, é o cultivo de tabaco. Na região, também faz muito frio durante o inverno. Segundo os moradores, neste ano já foi registrada chuva congelada em alguns pontos.
Por estar distante de áreas urbanas, Alto Paredão teve que se desenvolver ao lado de sua comunidade. No “centro” do distrito, chama a atenção uma pequena praça, rodeada por comércios, serviços de saúde e educação, banco, uma subprefeitura, mercados, posto de combustíveis e outros. Apesar de toda a estrutura, não há sinal de telefonia. A comunicação apenas é possível com o uso de sinal de internet via Wi-Fi.
A vida em Alto Paredão também é marcada pelas tradições rurais, que enriquecem a identidade local. Festas típicas, como quermesses na Comunidade Católica Santa Catarina, e atividades no Centro de Tradições Gaúchas (CTG) José Antônio Severo, fazem parte do dia a dia dos moradores. Em 2021, a 5ª Região Tradicionalista (RT) deu início aos Festejos Farroupilhas daquele ano em um ato realizado no CTG da comunidade, com a geração da chama crioula.
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O distrito de Alto Paredão conta com uma subprefeitura. À frente dela está Euclides Miguel Henn. Ele e sua equipe de 12 funcionários são responsáveis por garantir a assistência aos moradores e a conservação de infraestrutura, como os 300 quilômetros de estradas. Anexo ao prédio, está um ponto dos Correios onde as pessoas retiram cartas e encomendas.
Durante as intempéries climáticas, o distrito sofreu estragos com pontes caídas e deslizamentos de encostas. Dois meses depois, a equipe ainda atua em locais com danos. A estrutura do local conta com operador de máquina, motorista, estagiário e escritório. Além dos veículos, como dois caminhões caçamba, patrola, retroescavadeira, rolo, e pá carregadeira.
Recentemente, em Linha Paredão, a prefeita de Santa Cruz, Helena Hermany, assinou o termo de autorização de pavimentação de um trecho de 1.160 metros de extensão da estrada da localidade. A melhoria está orçada em R$ 1.816.547,42 e será executada pela Secretaria de Obras e Infraestrutura (Seoi).
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A natureza e as belas paisagens de Alto Paredão foram cruciais para a empresária Bruna Rodrigues da Costa Alves, de 35 anos, investir no local. Em um cenário onde a natureza exuberante proporciona conforto e hospitalidade, ela transformou sua paixão por arquitetura e viagens em um refúgio único no 12º distrito de Santa Cruz do Sul. Em um vale privilegiado com vista panorâmica, foi construída a Oca Cabana, que se tornou o destino perfeito para casais em busca de momentos especiais.
Natural de Minas Gerais, Bruna, junto com seu marido, encontrou inspiração durante uma de suas viagens de aniversário de casamento. “Sempre quis construir uma cabana que combinasse natureza e conforto, algo de que eu sentia falta na região de Santa Cruz. Se um casal quisesse fazer algo diferente, precisava ir para outro lugar, como na Serra Gaúcha”, explica. O ramo de hospedagem foi uma novidade para o casal, que possui uma empresa de equipamentos hospitalares.
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“Chegamos a morar cinco anos no Rio Grande do Sul, e percebi que faltava esse segmento na região. Após ter a ideia, o segundo passo foi conseguir um terreno para construir a cabana. Nisso, fizemos uma parceria com um proprietário que possui um terreno com uma linda vista para o vale,” conta ela.
O projeto, inicialmente planejado para ficar pronto em um prazo de três meses, acabou se estendendo por dez meses, devido aos desafios logísticos para levar o material da obra até o ponto onde seria construída a cabana. No entanto, a espera valeu a pena. “A aceitação do público superou nossas expectativas”, ressalta Bruna, que atualmente mora em São Paulo. A cabana, projetada para proporcionar uma experiência única, oferece amenities, como roupões, toalhas e produtos de banho de qualidade.
O café da manhã, inicialmente oferecido, foi transformado em uma opção à parte, enquanto um miniempório e uma adega complementam a experiência gastronômica dos hóspedes. Também há uma cozinha e uma banheira. A cabana não apenas atrai turistas locais, mas também visitantes de outras partes do Estado, como Porto Alegre e Santa Maria. Além de pessoas de outros estados brasileiros e do exterior, que conheceram o local por meio de amigos e por influenciadores digitais.
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Outro destaque é uma cachoeira próxima, que pode ser visitada, além da diversificação de pássaros no local, como tucanos. “Acreditamos no potencial do ecoturismo nesta região de Alto Paredão. Santa Cruz possui uma natureza exuberante, que, muitas vezes, passa despercebida pelos moradores locais”, comenta Bruna, que vê na Oca Cabana uma oportunidade de impulsionar o turismo sustentável na área.
Para se hospedar na Oca Cabana, há duas opções: entrar em contato pelo número de WhatsApp (51) 99538 9836; ou pelo aplicativo de reservas AirBnb, buscando por “Oca Cabana em Santa Cruz do Sul”. Por estes contatos, é possível conferir valores e datas disponíveis para reserva. É recomendado ao hóspede levar o que deseja para preparar o jantar. Caso a pessoa não queira o café da manhã, oferecido à parte no local, também deverá levar os alimentos. O trajeto entre o Centro da cidade e o local é de quase 1 hora de carro, em quase 40 quilômetros de estrada. Pelo caminho, há placas indicativas.
A expressão “frio de renguear cusco” faz referência a dias de frio extremo e é muito usada pelos gaúchos durante o inverno. Em Alto Paredão, não é diferente para os moradores locais. Por lá, como eles comentam, é o “frio mais gelado de Santa Cruz”. O morador José Armindo Padilha, 69 anos, antes de se aposentar, cultivava tabaco. Agora, aproveita o tempo livre para conversar com os amigos.
“Eu nasci e me criei aqui e não troco a localidade por nada”, afirma.
Em relação aos últimos dias, de intenso frio, ele brinca que só falta cair neve. “Assim como é frio agora, no verão faz forte calor.” Padilha ressalta que não troca o lugar por outro. “Tudo o que eu preciso, tenho aqui.” Nessa intensa onda gelada que atua na região, o morador comenta que já houve registro de chuva congelada.
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No pequeno povoado de Alto Paredão, onde se concentra o comércio local, está a loja de móveis e eletrodomésticos do administrador Daniel Henrique Ferreira, de 33 anos. O estabelecimento começou sua jornada como um pequeno mercado e hoje é uma referência no setor, na localidade. Ferreira conta que o começo da Lojas Brunel foi por iniciativa de sua mãe. “Ela trabalhava na Certel, como vendedora, e tinha o desejo de entrar para a venda de móveis com algo próprio. Inicialmente, ela vendia os móveis por comissão, de uma loja de Sinimbu, até que ela decidiu abrir o próprio negócio.”
Em 2003, o empreendimento ganhou um novo prédio. Segundo Ferreira, ter uma loja de móveis no interior apresenta desafios. “Aqui, o movimento é mais intenso até cerca das 15 horas, devido ao funcionamento do banco. O que diferencia nosso estabelecimento é que quem entra aqui já vem decidido a comprar, ao contrário das cidades, onde as pessoas tendem a pesquisar antes de decidir.” Além de clientes da comunidade, pessoas da cidade vizinha, Boqueirão do Leão, também vão até o comércio. “Sou natural de lá, e mantenho relações com amigos e parentes. Um dos pontos fortes de vendas é durante a comercialização do tabaco.”
O empresário, natural de Boqueirão do Leão, assumiu a loja dos pais em 2018, e viu a oportunidade de diversificar o negócio. “Além de móveis, incluímos eletrodomésticos, artigos de cama, mesa e banho, e ferragens. Na época, trabalhava como motorista de ônibus, até que minha mãe me fez a proposta para eu gerir a loja. Decidi investir e expandir para melhor atender à demanda local.”
A Associação Pró-Desenvolvimento de Alto Paredão (Aprodap) atua em diversas frentes para o bem da comunidade. Segundo o atual presidente, Ademar Pedro Henn, 55 anos, um dos serviços principais ofertados é a disponibilidade de horas/máquinas para o agricultor associado realizar alguns serviços em sua propriedade, como fazer um açude.
A Aprodap foi fundada em 29 de julho de 1997, e, desde então, registra conquistas importantes para a localidade, como a rede hídrica de água potável. “Uma vez por ano ocorre uma reunião para prestação de contas, mas poucas pessoas comparecem”, comenta. Conforme Henn, as maiores demandas estão relacionadas à saúde, com a Estratégia de Saúde da Família (ESF) Alto Paredão, e as estradas. “Temos uma equipe formada por um médico, uma enfermeira e uma dentista, essa uma vez por semana. Acredito que essa estrutura poderia ser maior, devido à distância a que estamos para chegar à cidade.”
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