“Acordar de manhã e não precisar dos óculos para sair da cama não tem preço”, afirma Carlos César da Silva, de 39 anos. Ele conta que desde criança conviveu com a miopia, dificuldade de enxergar à distância. Chegou a usar óculos de 20 graus. “Não podia fazer tudo o que gosto e até trabalhar era difícil!”
O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, do Instituto Penido Burnier em Campinas, livrou Silva dos óculos com o implante de uma lente intraocular sem a retirada do cristalino, únicas alternativas de correção cirúrgica para altos graus.
Hoje, cerca de 6 milhões de brasileiros convivem com a alta miopia, acima de 6 graus. Uma metanálise da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra que é a terceira causa de cegueira no mundo. O Brasil não fica atrás. A pesquisa da OMS revela que por aqui a prevalência da alta miopia saiu de 1,7% em 2000 para 7,1% em 2050.
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De acordo com Queiroz Neto o risco de perda da visão decorrente da alta miopia está relacionado ao aumento do comprimento axial do olho. “Esta alteração pode provocar o descolamento da retina, edema na mácula (porção central da retina), catarata e problemas de circulação que podem levar à degeneração da retina e ao glaucoma”. Por isso, mesmo as pessoas que, como Silva, já corrigiram a alta miopia com implante de lente intraocular devem fazer exame oftalmológico anualmente.
“O implante corrige a visão, mas não altera o comprimento do olho. Por isso, o risco de contrair estas doenças permanece”, salienta o oftalmologista. A cirurgia é indicada para miopia entre 6 e 23 graus, mas não pode ser feita em gestantes, pessoas com glaucoma, doenças na retina ou estabilidade do grau menor que um ano.
Queiroz Neto afirma que a miopia pode ser causada pela hereditariedade quando um dos pais ou ambos são míopes. Estudo conduzido pelo médico com 360 crianças de 6 a 9 anos, também mostra que pode estar relacionada ao excesso de esforço visual para perto imposto por horas em frente as telas eletrônicas.
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É a miopia acomodativa, uma dificuldade temporária de enxergar à distância que pode se tornar permanente se o hábito não for modificado. Por isso, a recomendação para crianças é descansar os olhos após uma hora de uso do celular, tablet ou computador, olhando para um ponto distante por, no mínimo, 30 minutos.
Outro estudo internacional também mostra que a falta de atividade ao ar livre pode causar miopia. Isso porque a maior iluminação dos ambientes externos faz a pupila contrair e ajuda aprofundar o foco.
Além das atividades ao ar livre, o oftalmologista destaca que as principais terapias para interromper a progressão da miopia são: lentes especiais, colírio, lente ortoceratológica e cuidado com a alimentação.
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Ensaios clínicos realizados na Ásia demonstram que o uso de lentes com grau diferente na periferia e no centro reduz em até 30% a progressão da miopia. “Isso acontece porque este tipo de lente acompanha a curvatura da retina, enquanto as convencionais formam a imagem periférica atrás da retina. Resultado: Pioram a refração”, explica o oftalmologista.
“Crianças de 5 a 15 anos que apresentem aumento de 0,5 grau a cada seis meses também podem usar colírio de Atropina com concentração de 0,01%”, pontua Queiroz Neto. O oftalmologista ressalta que o colírio de Atropina encontrado nas farmácias tem concentração de 0,1%. “O uso do medicamento nesta concentração sem acompanhamento médico pode causar glaucoma”, adverte.
O uso de lente rígida ortoceratológica durante a noite, modelo que faz pressão na córnea e altera seu formato é outra alternativa para bloquear a progressão da miopia. Para o especialista a terapia esbarra na dificuldade de adaptação da criança. “Além disso, usar lente de contato durante a noite é perigoso. A menor produção de lágrima aumenta o risco contaminação da córnea.”
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O excesso de açúcar na alimentação eleva a produção de insulina e favorece o crescimento do eixo óptico que caracteriza a miopia. Outro efeito do açúcar é dificultar o metabolismo da gordura e colesterol. Por isso, aumenta a chance de desenvolver degeneração macular, maior causa de cegueira irreversível. A dica é controlar as guloseimas das crianças, conclui o oftalmologista.
Fonte: Instituto Penido Burnier
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