Elaborar planilha de custos auxilia o produtor a entender o que afeta mais seu orçamento. E quando tem isso bem definido, percebe que os insumos representam cerca de 60% do custeio da propriedade. Esse peso fica ainda maior quando se observa o reajuste nos valores de mercado. Tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz do Sul, Sérgio Luiz Reis acredita que muitos fertilizantes e defensivos agrícolas tiveram elevação superior a 100%.
“Alguns não acompanharam esse índice, como as sementes, mas o aumento foi muito expressivo”, conta. A explicação está na desvalorização do real frente ao dólar e na pandemia. “As empresas tiveram que parar a produção, devido aos protocolos, em diferentes partes do mundo, e não deram conta da demanda”, explica Reis.
LEIA TAMBÉM: “Não vamos deixar o produtor desamparado”, diz novo secretário nacional de Agricultura Familiar
Publicidade
O problema de logística, enfrentado por importadores, também influencia no alto valor. Reis entende, no entanto, que as plantações com fins comerciais devem sofrer um peso menor, pois os valores das commodities têm se mantido elevados desde o último ano. “Claro que esse é um caso que aumenta o risco, caso haja algum tipo de perda, mas em se tendo uma safra cheia, a lucratividade pode ser mantida”, salienta.
Não é o caso de quem produz para a subsistência, como a família de Júlio Francisco Mello, em Arroio do Couto, Santa Cruz do Sul. Ele planta milho, feijão e batata, e viu o investimento com ureia e adubo aumentar de R$ 98,00 em 2020 para R$ 147,00 neste ano. “A gente acaba tendo que reduzir a plantação, porque não dá para continuar assim. Alguém precisa olhar por nós”, lamenta.
Com seu vizinho Jair Nascimento, Mello sugere que o Município, assim como faz com o projeto de subsídio de sementes – como o Milho Troca-Troca –, possa apoiar com insumos. “Uma outra forma de nos apoiar seria usar da força política com os deputados”, acrescenta Nascimento. “Cheguei a encaminhar pedido para vereador interceder por nós, porque está muito difícil”, diz. Eles se preocupam com a consequência desses altos valores.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Produtores comemoram bom movimento nas feiras de agricultura familiar
“Quem tem condições de ainda manter a produção terá que repassar isso para os produtos. A tendência é de que os preços subam muito para os consumidores”, antecipa Mello. Apesar das incertezas, porque a base dos insumos químicos costuma ser, em sua maior parte, importada, a expectativa é de que os preços estejam em fase de estabilização.
“Não se vê perspectiva de redução, mas também não vejo chance de elevação significativa”, diz o tesoureiro do STR. O que ameniza a situação é que, mesmo no limite da demanda, não deve ocorrer desabastecimento.
Publicidade
Com cuidados, produtor pode reduzir gastos
O chefe do escritório da Emater/ RS-Ascar de Santa Cruz, engenheiro agrônomo Assilo Martins Corrêa Júnior, ressalta que pode haver um achatamento no rendimento do produtor. Justifica sua projeção tendo como base os números do último ano. “A soja seria vendida a R$ 80,00, acabou em R$ 170,00, com o insumo a R$ 80,00 a saca. Agora deve ser vendida a R$ 160,00, mas o insumo subiu para R$ 180,00 ou até R$ 200,00”, exemplifica.
Ele avalia que a única possibilidade de mudança de rentabilidade na venda da safra é alguma quebra de produção em outros países exportadores. Isso ampliaria o valor pago pela colheita dos brasileiros. Como a previsão meteorológica é de chuva abaixo da média, mas em quantidade superior à do ano passado, o agrônomo acredita que o Brasil deva ter bons resultados em relação à produtividade.
Publicidade
LEIA TAMBÉM: Mulheres e jovens se destacam no Pavilhão da Agricultura Familiar da Expointer
Os agricultores podem seguir algumas dicas para minimizar os custos e otimizar o uso dos insumos. “É preciso estar muito atento para evitar qualquer desperdício, aplicar no momento correto, com os equipamentos calibrados”, ensina Corrêa. Manter a qualidade do solo também é um fator importante para garantir que a planta absorva melhor os produtos.
“Vi que o pessoal investiu na correção do solo com o calcário. É importante fazer a análise, que define o que deve ser realmente necessário, evitando o uso de algo que o solo não precisa”, orienta o engenheiro agrônomo. Uma opção para incrementar a qualificação do solo e das plantas, sem que isso represente aumento do custo, é a mesclagem da adubação química com a orgânica. “Alguns têm optado por esse método, comprando o estritamente necessário.”
Publicidade
De olho no clima
Morador de Linha Marechal Floriano, em Venâncio Aires, Rudolf Battein está preocupado. Ele contabiliza o aumento dos valores dos insumos ao mesmo tempo em que fica de olho nas condições climáticas. “Se tiver problema de clima, a conta não fechará, porque os custos ficaram muito altos”, justifica.
A expectativa, no entanto, é de que sejam mantidos bons valores pela colheita, sobretudo na soja, milho e tabaco, que formam a diversificação em sua propriedade. “Espero que os valores fiquem em bom patamar, porque não lembro desse tipo de situação, com aumentos tão expressivos no custeio.” Battein exemplifica a diferença de valores, entre 2020 e 2021.
No último ano, comprou adubo entre R$ 80,00 e R$ 90,00. Agora, não baixa de R$ 160,00. “Além disso, o combustível do maquinário também aumentou muito”, acrescenta. Para piorar, nessa terça-feira, a Petrobras anunciou novo aumento no diesel. O litro subiu R$ 0,25 na refinaria, chegando a R$ 3,06.
This website uses cookies.