Com o cabelo por pentear, a pequena Tamires, de 7 anos, chega com as amigas para ver o que se passa na casa de vó Clarice. “Oi”, cumprimenta a menina. Ali, no chalé sem número da Rua 2 do Bairro Progresso, é onde as crianças são geralmente recebidas com um abraço. Nesse dia é de manhã, pouco antes das 9. De férias da escola, Tamires foi tirada da cama pela mãe. A pedido de vó Clarice, que não quis aparecer sozinha na foto, as vizinhas mais próximas logo tratam de chegar.
Tamires faz pose e coloca-se bem na frente. Após o registro, é ela a primeira a fazer um pedido: “Quero uma boneca no Natal”. Depois é Stefani, de 11 anos, quem se manifesta e diz querer a mesma coisa. “Eu quero uma boneca igual à da Tami”, grita, com o braço erguido para se fazer ver. “E eu quero material escolar, porque depois das férias vou precisar”, revela Érica, de 8 anos. O único a se manter calado é Cristiano. “Ele só tem 4 anos e ‘tá’ envergonhado. Mas ele já disse que quer um carrinho grande ou o Homem de Ferro”, conta a mãe, dona Sirlei.
De pé, no meio da criançada no pátio da frente, está Maria Clarice dos Santos, 54 anos, chamada carinhosamente de vó Clarice. Pois é dali, da casa simples e cheia de goteiras que, na opinião das crianças, saem os melhores bolos, as melhores pizzas, tortas e as famosas bolachas de natal. Tudo feito por ela: Vó Clarice. Há cerca de quatro anos, desde que se mudou para o loteamento dos Eucaliptos, a vovó mais generosa do lugar assumiu um compromisso com os pequenos.
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“Minha maior alegria é ver as crianças sorrindo e me abraçando, por isso sempre faço alguma coisa doce ou salgada para elas.” Para comprar o necessário, Vó Clarice não mede esforços. Mobiliza as filhas para arrecadar latas e litrões descartáveis o ano todo, vende e, com o valor que recebe, transforma sua casa simples em um ambiente de festa. “A vó até enfeita a casa de balões”, conta Tamires. A última festa organizada por ela reuniu cerca de cem pessoas em um campinho no bairro. “Foi no Dia das Crianças. Tinha cachorro-quente, pastel e até pula-pula pra gente brincar”, recorda-se Tamires.
DOAÇÃO
De uma família de 21 irmãos, Maria Clarice nasceu em Vera Cruz e mudou-se a Santa Cruz do Sul para conseguir trabalho. Depois de se ocupar por seis anos como doméstica, atuou em empresas de fumo e, devido a uma enfermidade, parou de trabalhar. Agora, às vésperas do Natal, está mobilizando a comunidade para atender o maior número possível de crianças. “Quem quiser doar um brinquedo, que pode ser até usado, é só trazer que a gente aceita. Mas a gente quer oferecer também lanche e algumas coisas para as crianças brincarem”, explica.
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Um dos moradores do lugar, o artista plástico Éverson Souza, já se prontificou em ajudar também. “A gente quer oferecer um momento de diversão, mas de confraternização também”, diz Éverson. Quem quiser colaborar, os telefones de contato são (51) 99851 0019 e 99664 4439. “As crianças estão contando com essa festa. Por isso, preciso da ajuda de quem puder. Pra mim, não tem maior alegria do que ver essas crianças sorrindo com gestos simples”, conclui Clarice.
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