Em 2024 o Brasil celebra 200 anos de Imigração alemã – imigração de forma planejada e organizada pelo governo imperial. Para as celebrações do bicentenário foi criada uma comissão nacional. Esse grupo reúne pessoas e entidades Brasil afora, com o objetivo de pensar, planejar, organizar eventos alusivos à participação e presença alemã nas mais diferentes áreas. Paralelamente foi criada uma comissão científica voltada às questões acadêmicas que envolvem, principalmente, pesquisas, edição e reedição, tradução de livros voltados para a imigração, dentro de uma perspectiva histórica e cultural. Essa comissão reúne pesquisadores de universidades brasileiras e alemãs. Faço parte de ambas.
No entanto, a história brasileira registra a participação de alemães no Brasil desde a sua descoberta. Os primeiros vieram junto com Pedro Álvares Cabral. Meister Johann, de Emmerich, astrônomo e cosmógrafo, foi conselheiro náutico e médico de Cabral. Foi Meister Johann quem nomeou e descreveu cientificamente as estrelas que compõem a constelação do Cruzeiro do Sul. Também acompanharam Cabral 35 soldados alemães. Até mesmo um dos cozinheiros foi um alemão e outro astrônomo que acompanhou Cabral em sua viagem foi o alemão Johannes Varnhagen. Assim iniciou uma relação com o Brasil que perdura até hoje.
Entre os pioneiros, aos quais se seguiram muitos outros alemães, vieram principalmente cientistas, nomeadamente naturalistas e antropólogos. Entre os mais conhecidos se destacam Theodor Koch-Grünberg, Ulrich Schmiedel, Johann von Spix, Friedrich Sellow, Martius Staden e Hans Staden. Já nos idos de 1557, Hans Staden escreveu o primeiro livro sobre o Brasil, editado em alemão – Die Wahrhaftige Historia. Desde 1938 existe em São Paulo o Instituto Martius Staden, uma entidade sem fins lucrativos. Em homenagem a Hans e Martius Staden – dois famosos naturalistas que empreenderam viagens para conhecer, identificar e descrever a vida no novo mundo – a instituição preserva e cultiva as relações entre Brasil e Alemanha e disponibiliza ao público um imenso acervo sobre a imigração alemã no Brasil.
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Em Grünberg, no Estado de Hessen, pude conhecer (na companhia de Deisi Steil e Dieter Becker de Gieβen) o museu da cidade que dedica o primeiro andar ao antropólogo Theodor Koch-Grünberg. Durante o final do século 19 ele fez amplo estudo dos povos indígenas, entre eles os da região Amazônica. Grünberg estudou a história desses povos, suas lendas, sua mitologia, sua etnologia. Narrativas do antropólogo foram mencionadas por Mario de Andrade em 1928, na sua obra Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.
Uma participação especial diz respeito ao médico e botânico alemão Leonhart Fuchs, que foi professor da universidade de Tübingen, entre 1535-1566. Fuchs é conhecido como o pai da botânica, por ser dele a primeira obra a descrever sistematicamente diferentes tipos de plantas e ervas curativas. Na biblioteca histórica da universidade tive acesso ao seu livro original, publicado em 1543. Em honra a Leonhart Fuchs, a flor símbolo do Rio Grande do Sul – Brinco de Princesa – foi batizada com o nome científico de Fuchsia.
Tudo isso ilustra um pouco as relações existentes entre Brasil e Alemanha desde os primórdios de nosso país. E o nome científico da flor símbolo de nosso Estado, em homenagem a um alemão, representa emblematicamente as relações existentes entre o Rio Grande do Sul e a Alemanha.
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