Trazer uma contribuição para o debate sobre racismo no Brasil. Essa é a proposta de Produção de subjetividades raciais no Brasil: da democracia racial às políticas de identidade, novo livro do historiador e professor da Unisc Mozart Linhares da Silva. Partindo de uma análise crítica do mito da democracia racial, que, a partir dos anos 1930, tentou construir uma identidade nacional baseada na mistura étnica (miscigenação), o autor chega aos atuais movimentos antirracistas e suas estratégias.
Para Mozart, hoje é necessário ir além da chamada “pauta identitária” no combate às desigualdades raciais no Brasil. Não se trata de negar a identidade negra, mas construir um “universalismo estratégico” que fortaleça as reivindicações coletivas. Afinal, há “iniquidades sociais” que precarizam diferentes grupos, como negros, indígenas, população LGBTQIA+, pessoas em situação de vulnerabilidade social e outros. Assim, apostar no que as pessoas têm em comum torna-se mais relevante do que ressaltar diferenças incontornáveis.
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Lançado pela Pedro & João Editores, em 134 páginas, o livro convida a várias discussões. O conceito de “lugar de fala”, popularizado por ativistas do movimento negro, é visto de forma crítica. Embora reconheça a importância de dar voz e espaços de manifestação a quem historicamente não os teve, o “lugar de fala” se torna problemático quando usado para limitar debates.
“Se é verdade que um homem não pode pensar e falar por uma mulher, nem um branco falar no lugar de um negro (…) é preciso considerar os limites da experiência de vida para a análise de fenômenos mais amplos que a experiência de vida não pode alcançar”, observa o autor. Por exemplo, o fato de um homem negro não se sentir alvo de preconceito “não autoriza ninguém a afirmar que ele vive numa sociedade não racista. Nossa experiência pessoal é sempre um recorte subjetivo da realidade e não pode ser tomada como parâmetro universal”. Ele ainda condena as práticas de “cancelamento” banalizadas pelas redes sociais.
Políticas em favor de alianças e “do comum”
No último capítulo, Mozart Linhares busca contribuir na discussão sobre novas ações contra o racismo e outras mazelas sociais. Como alternativa a movimentos identitários radicais, ele defende as políticas da “aliança” e “do comum”, conforme expostas pelos filósofos Judith Butler e Achille Mbembe.
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Para a norte-americana Judith, alianças entre diferentes grupos são uma estratégia mais eficiente, pois mantêm em vista os interesses da coletividade, e não objetivos de grupos específicos. Atualmente, há uma fragmentação de movimentos sociais desdobrados em movimentos identitários – o que, em sua visão, contribui para enfraquecer os primeiros.
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Por um caminho semelhante, o camaronês Achille Mbembe propõe ultrapassar a questão da identidade (sem negá-la) para chegar a uma “política do comum”. “A identidade tende a efetivamente se tornar o novo ópio das massas”, já observou o filósofo. Um novo “universalismo estratégico” seria, portanto, a saída para que a sociedade seja capaz de enfrentar amplas injustiças que ainda precarizam grupos minoritários.
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