Preocupado com a faceirice do juiz Sérgio Moro, ainda na ativa, decidi mandar-lhe um e-mail no dia 31.10.2018. Com efeito, presenciei alguns casos de colegas que, deslumbrados com seu fulgor, aposentavam-se para se atirarem no colo daqueles que tanto os louvavam. Acontece que sem suas togas já não eram mais importantes.
Alguns não tiveram a experiência necessária para entrar no campo espinhoso da advocacia ou da política.
Eis o e-mail que lhe enviei:
“Amigo Sérgio Moro!
Nasceste em 1972, ano em que eu assumi meu cargo de Juiz de Direito. Tenho idade para ser teu pai.
Tomo a liberdade de sugerir que não aceites o cargo de Ministro da Justiça. A enorme maioria do povo não sabe que o Ministério da Justiça é órgão do Poder Executivo, não sendo, portanto, um ente judiciário. Nós, juízes, temos uma formação jurídica, onde não entram condicionantes políticas. A qualquer momento poderá acontecer algo que force o governo federal a te defenestrar. E aí, como é que fica?
Não te iludas com as luzes da política. É outro departamento, regido por outros algoritmos.
Permito-me sugerir que aguardes um pouco, porque é certo que serás indicado para o Supremo Tribunal Federal. Lá, sim, estarás no teu campo e farás História. Continuarás juiz, o que é muito importante.
Aguarda que em breve vão se abrir duas vagas no STF!).”
Às vezes o juiz se inebria com seu poder e, ao sair, acredita que pode fazer quase tudo. Ledo engano.
Um amigo meu, que escreve sob o pseudônimo de Tito Guarniere (mas é o ex-senador, por Santa Catarina, Nelson Wedekin), observou:
“O ex-juiz Sérgio Moro foi da ascensão à queda em pouco tempo. Mas não pode culpar ninguém, a não ser ele mesmo. Descobriu tarde demais que a glória é efêmera, que os aplausos de hoje podem se tornar os apupos de amanhã. Duvido que Moro, hoje em dia, ande com a mesma pose nos lugares públicos, e receba os mesmos aplausos de quando viajava em aviões de carreira e frequentava bons restaurantes.
O primeiro dever do juiz é a imparcialidade: como aceitar que ele faça combinações com a autoridade policial, com o Ministério Público? Fazer arranjos com o Ministério Público, como fez Moro sem medo de ser feliz, é a mesma coisa que fazer arranjos com os advogados de defesa.”
Moro quis colocar Bolsonaro contra a parede, mas não deu certo. Entrou na política achando que seria um passeio sua condução à presidência da República. Doce ilusão. Quis passar por cima das raposas, levou um sofrenaço.
Como se diz na campanha, talvez fique “sem mel e sem porongo”.
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