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LUIS FERREIRA

Ainda na vida de leitor

Os escritores têm uma data do calendário em sua homenagem, o livro tem um dia dedicado a ele. E os leitores? Também. Com pouco ou nenhum alarde, o Dia do Leitor transcorreu pacificamente em 7 de janeiro.

Lembro bem do primeiro livro não infantil que me caiu nas mãos, aos 9 anos. Chamava-se Na órbita de Aldebarã, uma antologia de quatro contos de ficção científica. Eram textos para adultos, complexos, e eu não tinha maturidade para entender aquilo, mas li. E foi o início de um fascínio pela sci-fi que me levaria em pouco tempo às obras de Asimov, Ray Bradbury, Arthur C. Clarke e tantos outros.

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Mas antes disso houve os quadrinhos. Antes de qualquer coisa: Heróis da TV número 4, de outubro de 1979, com a origem do Surfista Prateado e histórias do Capitão América, Mestre do Kung Fu e outros personagens da Marvel. HQs nessa linha me fizeram companhia até meados da década de 1980. Quase 40 anos depois, é curioso ver como todos aqueles personagens da infância – Thor, Homem de Ferro, Homem-Aranha, X-Men – transformaram-se na principal fonte de renda da indústria do cinema. Até os super-heróis da segunda divisão (quando não da terceira) ganharam filmes: Homem-Formiga e Vespa, os Eternos, Motoqueiro Fantasma…

À beira dos meus 50 anos, continuo na vida de leitor. Sem nenhum juízo de valor a esse respeito. Sempre tive reservas diante de chavões como “ler torna as pessoas melhores”, porque nunca me senti melhor do que ninguém por entender de literatura. Qualquer autoavaliação rigorosa que eu fizer desfaz essa ilusão. E, quando estudamos fenômenos históricos como a ascensão do fascismo e do nazismo, percebemos que eles tiveram o apoio de muita gente culta, de escritores e intelectuais com amplas bibliotecas em suas casas.

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Mas talvez a questão, afinal, seja o que se lê. O israelense Amós Oz, autor do livro de ensaios Como curar um fanático (em que trata dos extremismos políticos), acreditava que especificamente as obras de ficção “contêm um antídoto ao fanatismo ao injetar imaginação em seus leitores”.
Porque conhecer personagens é como encontrar novas pessoas, com pontos de vista e atitudes diferentes. Quanto menos essas personagens se parecem conosco, mais elas ampliam nosso horizonte – nossa imaginação. Algo a se pensar.

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