Venha sentir a paz que existe aqui nos campos/ O ar é puro e a violência não chegou/
O céu bem limpo e muito verde pela frente/ Uma vertente que não se contaminou/ Pela manhã o sol nascente vem sorrindo/ E os passarinhos cantam hinos no pomar/ O chimarrão tem um sabor de esperança/ E a criança traz um futuro no olhar (Ivo Brum e Miguel Marques).
De muita tertúlia participei com Miguel Marques. Este é um caso raro de instrumentista perfeito e dono de uma voz superafinada. Miguel anda mais recolhido ao seu sítio no interior de Santiago, a idade vai pegando, mas continua com suas maravilhosas composições. Toca tudo de ouvido, tem o famoso e raro “ouvido absoluto”. Certa vez, como alhures já contei, ele me convidou para ajudar, numa Califórnia, em Uruguaiana, a tocar uma obra musical sua. Eram vários instrumentistas. Estávamos passando o som no palco e ele chegou perto de mim e sussurrou: “dá uma levantada na tua corda mi”. E de fato, ele tinha razão.
Mas o que eu queria falar era sobre a verdadeira música nativa. Não concordo com o termo música galponeira. A música nativa se cria e se toca até numa taipa de açude. Existem os compositores que não sabem distinguir um cavalo de uma égua. Fazem um barulhaço bagual, é música para baile, tipo bate-coxa, em que os músicos rebolam mais que baiana no trio elétrico. Mas é válido, tem quem goste e é preciso respeitar.
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De outro lado, a música que descreve dores, amores, natureza, céu, estrelas, lidas, os animais, as vidas “pra fora”. A ministra do STJ Fátima Andrighi, minha querida amiga, me perguntou da razão de nossa música autêntica não ter muita acolhida de São Paulo para cima. Não soube lhe responder: talvez porque não se priorize a percussão, talvez pelos vocábulos que só aqui se usam, ininteligíveis para nossos irmãos de outras plagas, e talvez por causa da excelente temática das letras, que não contém aquelas lamúrias “kitsch” de dor de cotovelo.
O fato é que no nosso Estado há diferenças que vivenciei. As regiões coloniais e industriais têm times de futebol famosos, gostam de música de todos os tipos e gêneros. As regiões campeiras têm população rarefeita, ênfase na agricultura e pecuária, não têm grandes times de futebol. Lá o esporte é o rodeio, o tiro de laço. Até cidades pequenas têm seus locais de rodeio. A música ainda é a gaúcha, mas também tem alguma sertaneja, por incrível que pareça.
Há quem lastime que sua cidade não tenha mais de 50 mil habitantes. Penso que mais vale ficar do tamanho em que está, para que ainda se possa dormir sem grades… (ainda existem lugares assim).
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