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“Ainda Estou Aqui” leva público a testemunhar um dos crimes mais brutais da Ditadura Militar

Em cartaz no Cine Santa Cruz, Ainda Estou Aqui explora um horror diferente do que o público está acostumado a ver na tela grande. O novo filme de Walter Salles (Central do Brasil e Diários de Motocicleta) leva os espectadores a testemunhar as consequências de um dos crimes mais brutais ocorridos durante a Ditadura Militar.

No início da década de 1970, auge da repressão, agentes à paisana invadiram uma casa no Leblon para prender e interrogar o ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva. Sem oferecer resistência, informa a esposa, Eunice, de que em breve voltaria para casa, promessa também feita pelos oficiais, que permanecem na residência enquanto o político entra em seu carro e segue para prestar depoimento.

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Contudo, Paiva jamais retornaria. Oficialmente, na época, foi dado como desaparecido pelo Estado. Essa versão, contudo, não convenceu Eunice, que passou então a buscar informações sobre o paradeiro do marido. Não bastassem o medo e o desespero provocados pela incerteza quanto ao destino de Paiva, ela precisa criar os cinco filhos e protegê-los. Isso porque, mesmo após a prisão do pai, os militares continuam a vigiá-los e ameaçá-los.

Para o público sentir momentaneamente o terror vivido por Eunice, o diretor transporta os espectadores para a casa dos Paiva na década de 1970. E não só como testemunhas dos fatos, mas como integrantes da família, permitindo que vivenciem os sentimentos que perpassam a mãe e as crianças, desde a dor da ausência do pai, a falta de respostas, até a sensação de impotência perante o aparato do Estado ou o medo de que outros entes queridos sejam vítimas.

Walter Salles é bem-sucedido na empreitada ao investir tempo no desenvolvimento da família Paiva. Assim, no primeiro ato, mostra como era a rotina antes da prisão. Vivendo em uma enorme casa, a poucos metros da praia, costumavam fazer festas e receber os amigos dos filhos. E essa hospitalidade faz com que os espectadores do cinema sintam-se parte do núcleo familiar.

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É por isso que, apesar de o público ter conhecimento do destino de Rubens, é fácil esquecer por um instante que ele será preso e jamais será visto novamente. Também não é difícil alimentar uma falsa esperança de que, a qualquer instante, ele possa entrar pela porta.

Isso porque, ao adaptar fielmente a história retratada no livro de Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, Ainda Estou Aqui acerta ao não mostrar o destino do preso político. Ao focar a narrativa em Eunice, Salles faz com que o público veja (e sinta) o mesmo que ela, e nada mais. Isso ajuda a entender o motivo de ela passar a lutar por respostas e se tornar uma defensora dos direitos humanos e denunciar os crimes da ditadura.

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Por esses motivos, Ainda Estou Aqui demonstra a importância de existirem as salas de cinema. É uma obra que deve ser vivenciada na tela grande, na companhia do público. Pela maneira com que envolve os espectadores, acaba formando um vínculo entre o grupo, como se todos estivessem testemunhando uma experiência cinematográfica marcante. Após os 126 minutos de duração, as pessoas no interior da sala já não são mais desconhecidas. Percebe-se pelas trocas de olhares que ninguém sairá de lá da mesma forma como entrou.

A tristeza de quem não pode chorar

Por se tratar de um filme tão intimista, Ainda Estou Aqui não seria bem-sucedido sem o elenco correto. E Walter Salles e sua equipe acertaram na escolha. A começar pela escolha de Selton Mello no papel do ex-deputado Rubens Paiva. O carisma e o humor que acompanham a carreira do ator são fundamentais para que o público tenha empatia pelo personagem. Sua presença no primeiro ato do filme é tão marcante que, após sua prisão, o espectador sente o impacto da sua ausência.

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O grande destaque, entretanto, é Fernanda Torres como Eunice. Não é à toa que seu trabalho está sendo cotado para o prêmio de melhor atriz no Oscar 2025. Ela usa todo o seu talento para desenvolver e evidenciar a fragilidade e a força da protagonista. Apesar de toda a angústia e desespero, Eunice precisa esconder esses sentimentos dos filhos. Sabendo disso, o público chora pela mãe no momento em que ela não pode demonstrar essa tristeza.

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É o talento dos atores e da equipe de Ainda Estou Aqui que faz com que o filme seja tão importante. Não só por denunciar um terror que afetou os Paiva e outras centenas de famílias durante 21 anos, mas por salientar mais uma vez o talento do cinema nacional. É obra para todo brasileiro sentir-se orgulhoso sobre uma história que não podemos esquecer para jamais repeti-la.

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Onde assistir

Cine Santa Cruz – Sala 2: 16h20, 19 horas e 21h30 (2D).


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