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OPINIÃO

Aidir Parizzi: “Patriotismo e independência”

Um memorial: o Monumento à Independência, em São Paulo, foi concluído em 1926 | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Uma frase de 1775 do pensador Samuel Johnson é seguidamente mal interpretada. “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas.” A intenção do inglês não era criticar o patriotismo, que, como a religiosidade ou a tecnologia, pode servir para diferentes fins. O principal alvo da frase são os velhacos
que, para avançar agendas que beneficiam a si e aos seus, apelam para um patriotismo ufanista que, quase sempre, enaltece territórios e bandeiras, acima dos compatriotas, enquanto cria inimigos falsos ou imaginários.

Guardo um amarelado impresso de 1922, encimado pelos brasões da república e do império, com uma oração cívica pronunciada por meu bisavô, o cientista Pedro Goulart dos Santos, durante as festividades
do centenário da independência. Lê-se no último parágrafo: “Benditas sejas, benditos sejam teus destinos, pátria amada, alma e vida dos brasileiros, augusta soberana, onde tudo, no concerto imenso da civilização e do progresso, mostra e traduz o que és e o que vales!”.

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Meu ancestral, se vivo estivesse, não estaria exultante ao ver que, um século depois, os desejos da maioria dos brasileiros são de ter uma eleição pacífica em que o eleito tome posse, de que um contingente maior do que toda a população do Brasil de 1922 não passe fome, e de evitar que uma minoria sonora, raivosa e armada torne realidade a pretensão absurda de ressuscitar uma ditadura militar sempre à espreita.

Como neste ano, 1922 foi ano de eleição presidencial. Consta que foi uma das mais agressivas e sujas da história, carregada de fake news, conhecidas na época como mentira e enganação. Artur Bernardes, fazendeiro rico de Minas Gerais, derrotou Nilo Peçanha, que já havia sido presidente e permanece como o único chefe não branco do poder Executivo no Brasil. O autoritário e vingativo Bernardes, que criou até um campo de concentração para prender inimigos políticos, aparece geralmente na disputa pelo indesejável título de pior presidente da história. Ultimamente, diga-se de passagem, é possível que a alma descanse mais tranquilamente.

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Em pleno século 21, urge perguntar: que tipo de patriotismo apropria-se da bandeira nacional, associando-a a uma pessoa, a um partido ou a ideias retrógradas alimentadas por discórdia e medo? Que espécie de patriota se veste de verde e amarelo para, com ódio e truculência, vociferar contra instituições
do Estado, atacar a democracia, maldizer professores, cientistas e humilhar aqueles que proporcionam
arte e inspiração a um povo privado de dignidade?

O patriotismo que busca o bem da população e enxerga o curto e o longo prazo pede por professores
bem pagos e motivados, livros e bibliotecas, e não por armas e clubes de tiro; pede escolas com caráter acadêmico e pensamento crítico, e menos tempo e energia perdidos em bolhas multiplicadoras de mentiras e tolices; pede agricultura familiar, cooperativas, preservação ambiental e alimento para os brasileiros, e menos latifúndios que geram lucros da exportação para poucos e parca geração de impostos; pede pesquisa científica e um governo laico, e menos enganação pseudorreligiosa que só beneficia uma oligarquia de exploradores do povo.

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Uma ideia de pátria que não seja baseada em divisão e morte, mas em solidariedade e união. Precisamos seguir exemplos como os do padre Júlio Lancellotti e de Zilda Arns, e não de alguns reacionários
e caricatos empresários da comunicação e do comércio. Carecemos das palavras de Laurentino Gomes, Roberto Campos e Darcy Ribeiro, e não das sandices de Olavo de Carvalho e seus discípulos.

O Brasil realizará seu potencial com políticos e com iniciativa privada que tenham foco no bem comum, na industrialização e no desenvolvimento científico. Não avançaremos enquanto formos uma economia
apoiada em minérios e commodities da exportação primária.

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A independência, assim como a proclamação da república, não foi movimento popular. Uma partiu
do próprio regente colonizador e a outra se deu em atropelado golpe militar, a primeira das ditaduras
fardadas da república. A falta de participação pública nos dois casos pode ter ajudado a solidificar a busca por soluções baseadas em um salvador da pátria e não em mudanças estruturais. O patriotismo produtivo é baseado na cidadania e na solidariedade.

A pátria é o povo e não o território, a bandeira ou alguma ideologia. No dia em que revertermos as seculares mazelas sociais, os privilégios históricos e a ansiedade agressiva em que mergulhamos, poderemos finalmente comemorar, com orgulho e serenidade, a independência do Brasil.

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