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JOSÉ ALBERTO WENZEL

Águas e livros

Foto: Bruno Pedry

Em recente capítulo da novela Pantanal, Juma conta a história do velho que saiu para o mar e retornou apenas com o espinhaço de seu peixe. Narra com prazer a conversa do pescador com um pássaro, que pousara na linha de pesca para descansar, o que o ajudava a não sentir-se tão sozinho na vastidão do oceano. O mesmo mar que Hemingway, o autor da obra O velho e o mar, avistava de Havana, onde escrevera o livro. Lembro que, ao visitar o local, fiquei a imaginar como letras podem unir-se em palavras, que formatam frases e parágrafos, distribuídos em páginas de livros criativos que se disseminam como águas.

Foi também O velho e o mar o livro teste, escolhido para o curso de “leitura dinâmica.” Nos anos setenta, assim como era importante você dominar o teclado da máquina de escrever usando os dedos de ambas as mãos, também praticar a leitura visual, e não a soletrada palavra por palavra, apontava para o acesso ao maior número possível de livros. O aprendizado se constituía em o instrutor ir batendo com um lápis na mesa; a cada batida, era preciso virar a página. No início, os toques eram pausados e, aos poucos, acelerados. Ao final da aula, havia que se contar o que fora lido.

Juma, imantada na natureza do Pantanal, não apenas fala da obra. Ela a vivencia no olhar, no ajeitar do corpo, no tom da voz. Desperta a curiosidade de quem suspende o que está fazendo para ouvi-la. Perguntada se compreende tudo o que lê, ela não duvida em dizer que é preciso voltar, muitas vezes, para reler a parte não entendida, ou consultar seu amado, que a ajuda na interpretação do texto. Ao mergulhar nas águas oceânicas do livro, os segredos do mar, suas criaturas e as reflexões do ancião vão se revelando sem jamais esgotar possibilidades. A leitora se compraz no universo das páginas que, à força de imaginários remos e velas, se apresentam ao sabor dos ventos nutridos por novidades e evidências, especialmente as da intimidade existencial e da natureza imensa.

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Aqui, em Santa Cruz do Sul, na Praça Getúlio Vargas, barracas e estandes também circundam águas. Estas esguichadas por chafarizes. Todavia, as águas todas se conhecem entre nuvens e subterrâneos. Se bem observarmos, perceberemos que águas e livros universalizam prodígios. Estes podem ser acessados pelas leituras, pausadas ou apressadas, ainda que as mais degustadas melhor nos alcancem.

Boa feira e cumprimentos a seus organizadores e viabilizadores.

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