Na propriedade de Nestor Fritzen, em Linha João Alves, em Santa Cruz do Sul, o calor associado à escassez de chuva já se traduz em prejuízo na lavoura. Além de danificar a produção de hortaliças, que mesmo irrigadas não resistem à secura do verão, o plantio de milho para silagem vai ter quebra. “Perdemos cerca de 10% desta produção. A safrinha, que deve ser plantada agora para colher em março, não vingará se continuar sem chuva”, conta o produtor.
O milho plantado na propriedade da família é utilizado como complemento na alimentação do rebanho bovino. A família Fritzen não vende gado de corte, cria os animais para o próprio consumo. Entendem que a quebra na silagem representará um aumento no custo da carne produzida para a subsistência. “O churrasco ficará mais caro, mesmo sendo criado aqui na propriedade.”
Nestor conta que teme pela falta de água para o consumo humano e de animais. Segundo ele, a ideia é economizar para usar o mínimo possível a água dos poços que abastecem a comunidade de Linha João Alves. “Todos precisam se conscientizar que está tudo muito seco e evitar o desperdício.”
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A preocupação do agricultor foi assunto de uma reunião realizada ontem na Secretaria de Agricultura. O encontro, que reuniu técnicos da pasta e da Emater e a coordenação da Defesa Civil, serviu para avaliar a situação do município. Segundo o coordenador da Defesa Civil, tenente José Joaquim Dias Barbosa, os dados ainda são insuficientes para definir se será necessário decretar situação de emergência, como já fizeram Encruzilhada do Sul e Venâncio Aires.
De acordo com o Secretário da Agricultura, Delsio Meyer, a avaliação começou na semana passada a pedido do prefeito Telmo Kirst. “Tivemos chuva de alguns minutos, o que não resolve a estiagem porque ela não chega a infiltrar no solo. Já estamos utilizando maquinário para amenizar o problema e levando água transportada, porque os poços secam”, explica.
Desde dezembro a pasta está atendendo, de forma emergencial, as propriedades que precisam de água potável e para os animais. Entre os locais mais afetados estão São Martinho, Monte Alverne, Alto Paredão, Linha Nova, São José da Reserva e a Reserva dos Kroth. “Estamos fazendo esse levantamento e teremos essa avaliação. Estamos trabalhando em cima da situação de emergência durante esta semana, e diversas entidades farão levantamentos para apresentar.” Na manhã desta quarta-feira, uma reunião do Conselho Agropecuário e secretarias municipais vai decidir a respeito do decreto.
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Prejuízo acentuado na região produtora
O tesoureiro da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Marcílio Dreschler, disse em entrevista à Rádio Gazeta que a situação é drástica, com prejuízo acentuado na região produtora de tabaco. “Ainda não sabemos o quanto isso vai afetar na produção gaúcha e brasileira. Vieram algumas chuvas, mas com índices muito aquém da normalização. É dramático em algumas propriedades, que estão com índices bem grandes de prejuízo”, conta. O sol forte e a falta de chuva afetam não só a quantidade colhida, mas a qualidade do produto. No entanto, os valores exatos só serão conhecidos ao fim da safra.
Segundo Delsio Meyer, a média geral é de 20% na quebra da produção agrícola em Santa Cruz do Sul. Os prejuízos estimados somam 20% para o milho, 40% para o feijão, 10% na fruticultura, 30% em hortigranjeiros, 15% para o leite, 25% para o fumo, 20% para a soja, 15% para o arroz e 10% no gado de corte.
Sinimbu
A prefeita de Sinimbu, Sandra Backes, assinou ontem o decreto que determina situação de emergência no município em razão da estiagem. Nas últimas semanas, a prefeita vem acompanhando o trabalho da equipe da Defesa Civil, secretarias municipais, Emater e Afubra no levantamento de dados para dimensionar os prejuízos causados pela falta de chuva.
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Conforme Sandra, os efeitos negativos vão muito além da falta de água no centro e interior do município. “Lavouras de milho e tabaco, entre outras culturas, também estão sendo afetadas. Mesmo que chova nos próximos dias, a produção não poderá mais ser recuperada”, ressalta.
Nas lavouras, conforme relatório da Emater e da Secretaria de Agricultura, as perdas são significativas nas para milho, soja, feijão, culturas de subsistência, tabaco e pastagens. O prejuízo está estimado em mais de R$ 35 milhões. Além disso, o município enfrenta problemas com a falta de água. A Prefeitura iniciou sistema de racionamento, e as bombas da rede de água estão sendo desligadas em determinados momentos para economizar água.
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