A estufa de secagem repleta de varas de tabaco dava mostras de que mais uma safra chegava ao fim na propriedade da família Cunha, na noite de 14 de fevereiro. O produto, cultivado em 6 hectares na localidade de Colônia Nova, no interior de Dom Feliciano – a cerca de 150 quilômetros de Santa Cruz do Sul –, sempre foi o ganha-pão da família. Erni Pereira da Cunha, de 42 anos, o patriarca, foi jantar com a sensação de dever cumprido. Mal sabia que momentos mais tarde seria dopado pela própria esposa e colocado para morrer na fornalha da estufa.
O caso, que chocou o Rio Grande do Sul, veio à tona nesta semana, com a confissão do crime e prisão da esposa de Erni, de 35 anos. Uma investigação da Polícia Civil identificou os passos da acusada. A mulher misturou o medicamento Diazepam no suco de laranja do marido e deu para ele tomar. Mais tarde, por volta de 2 horas da madrugada de 15 de fevereiro, arrastou o homem ainda dormindo até a fornalha da estufa de tabaco, nos fundos da residência do casal, onde a vítima ficou queimando.
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“Com o auxílio de uma tábua, a vítima foi colocada para dentro do forno, onde permaneceu por três dias”, revelou a delegada Vivian Duarte, em entrevista à Gazeta do Sul. A assassina foi encaminhada para a Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O filho do casal, de 20 anos, também investigado como suposto participante, chegou a ser levado ao Presídio Estadual de Camaquã. Contudo, segundo Vivian, por ora não há elementos para indiciá-lo. “Por esse motivo, estou pedindo que ele seja liberado da prisão.”
De acordo com a delegada, o trabalho de investigação precisou ser minucioso, uma vez que os envolvidos criaram dificuldades durante os últimos meses. “A história que eles contavam era de que ele (Erni) saiu a pé de casa e nunca mais foi visto. A partir daí, a gente começou a desconfiar que poderia ter a participação do núcleo familiar, ainda sem saber exatamente de quem”, explicou a delegada. No mesmo dia do crime, a companheira foi até a delegacia para registrar uma ocorrência de desaparecimento.
“Tínhamos até outras linhas de investigação, como latrocínio, pois ele teria saído com uma quantia em dinheiro. Também falaram que ele tinha uma amante, várias situações que fomos investigando até chegar nesse desfecho.” A reportagem apurou com familiares da vítima que a acusada chama-se Elizamara Moura. Em seu depoimento à polícia, após confessar o crime, ela relatou que vinha sendo vítima de agressões e ameaças do marido. Entretanto, conforme a delegada Vivian Duarte, antes do fato não havia nenhum registro de violência doméstica contra Erni na delegacia.
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Os investigadores também descobriram que a autora, tempos antes, havia pesquisado na internet sobre como matar uma pessoa utilizando veneno. Embora tenha trabalhado em outros crimes chocantes, a delegada revelou espanto com o caso de Dom Feliciano. “Assim, dessa maneira, de queimar uma pessoa viva, eu ainda não tinha visto.” Segundo ela, o inquérito deve ser remetido ao Poder Judiciário na semana que vem.
Elizamara Moura disse ainda que não teve ajuda para executar o crime, no entanto, a Polícia Civil busca apurar se houve a participação de outras pessoas na execução. O caso é investigado como homicídio doloso, qualificado por recurso que impossibilitou a defesa da vítima e premeditação. O casal estava junto há 21 anos. Além do filho de 20, tinham uma filha de 16 anos. Todos moravam no mesmo local.
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Familiares de vítima pedem justiça
Ainda chocados com o crime, os familiares de Erni clamam por justiça. A reportagem da Gazeta do Sul conversou na tarde dessa quinta-feira, 13, com a irmã dele, Ilsa Cunha da Silva, de 44 anos. Ela mora em Encruzilhada do Sul e cuida da mãe, que ainda não foi avisada de que seu filho foi assassinado. “O médico orientou que não contássemos, pois ela sofreria e poderia ter algum problema grave. Nossa mãe é acamada, toma remédio controlado para o coração. Pensem na minha situação. Ontem ela me perguntou por que eu estava tão triste, aí eu disse que estava gripada”, afirmou Ilsa.
A irmã da vítima conta que, no dia do crime, Elizamara ligou para ela, por volta das 13 horas, perguntando se Erni estava lá. A acusada disse à cunhada que o marido teria mandado uma mensagem de WhatsApp às 7h30, afirmando que “iria embora e ser feliz”. Essa mensagem teria sido enviada pela própria Elizamara, do celular do marido, pois aquela hora ele já estava morto. “Ela tinha em casa o Diazepam, pois toma de forma controlada para dormir”, disse a irmã.
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Ilsa começou a desconfiar da cunhada quando percebeu que não havia interesse dela em encontrar o marido. “Quando meus irmãos e os amigos dele começaram a procurar, foram em tudo, açudes, matos, pensaram que ele podia ter se matado. Mas ela nunca foi procurar. Ao contrário, começou a tirar tudo da casa, querendo se mudar. Aí eu vi que tinha algo errado”, contou a irmã.
Na opinião dela, não havia violência entre o casal. “Ele não era agressivo. Fazia mal só pra ele, pois bebia.” Erni tinha 42 anos. No dia 12 de março, teria completado 43. “A gente foi na casa deles várias vezes, nunca os vimos brigar. Jamais iríamos imaginar que isso poderia acontecer. O que ela fez não tem perdão. Nós, familiares, e os amigos estamos todos revoltados. Queremos justiça”, finalizou.
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