Símbolo da cultura gaúcha, o chimarrão está presente no cotidiano de boa parte da população. Além disso, tem reconhecida importância econômica, devido à grande quantidade de indústrias do mate. Mas o que poucos sabem é que sua matéria-prima pode ser cultivada e beneficiada diretamente em propriedades rurais, como vem acontecendo no interior de Ibarama.
É o que se encontra na casa de Mário Jaci Raminelli, que optou pela produção de erva-mate artesanal para a comercialização. Antes, ele vendia a produção para as ervateiras a cada dois anos. “Foi então que surgiu essa ideia. Foi passado um documentário em Sobradinho sobre carijos de erva-mate (o equivalente ao processamento) que os índios faziam. Então, aceitamos fazer aqui”, conta. O trabalho começou no dia 7 de novembro e deu certo. “Para nós foi uma espécie de curso”, explica. A iniciativa contou com o apoio da Emater/RS-Ascar.
Ex-produtor de tabaco, Mário Raminelli, ao lado da esposa Renilde, planta erva-mate desde a época do Projeto Pró-Guaíba, do governo estadual, nos anos 1990. Ele lembra que a iniciativa visava evitar a poluição do Rio Guaíba, que fornece água para toda a Grande Porto Alegre. “A ideia era reflorestar. Muitos aqui plantaram eucaliptos e mudas nativas. Eu, como iniciava minha plantação de laranja, optei pela erva-mate”, lembra.
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Na época, Raminelli teve o auxílio da Emater para a atividade. “Entre 400 pés de laranja, deu para plantar em torno de 1,1 mil mudas de erva-mate”, comenta. Atualmente, o agricultor tem uma lavoura com cerca de 2 mil pés de erva-mate, intercalados com os pomares.
Pesquisa
A atividade desenvolvida em Ibarama despertou o interesse de quatro estudantes universitários. Acadêmica de Agronomia da UFPel, Giovana Santin, 19 anos, explica que os colegas integram o Grupo de Agroecologia (GAE) e a intenção de visitar a propriedade surgiu após um convite de Diego da Silva, mestrando em Agricultura Familiar e que trabalha na mesma localidade.
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Além dela, visitaram a propriedade os acadêmicos de Biologia da UFPel, Murilo Cabral, Kagiane Klien e Betina Bertoni, além da mexicana Karina Yescas, que estuda Agronomia na UFSM. Todos puderam conhecer, na prática, como tudo é realizado.
Referência
Um dos pioneiros da Associação dos Guardiões das Sementes Crioulas de Ibarama, Mário Raminelli conta que sua propriedade é conhecida por atrair visitantes da região, turistas e, principalmente, estudantes de cursos de graduação e mestrado na área rural. Até mesmo pessoas de outros países já estiveram no local. “Eles vêm, ficam aqui e também ajudam nas despesas”, comenta.
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Técnica é aposta para conquistar o mercado regional
Para iniciar a produção de erva-mate artesanal, Raminelli contou com uma ajuda especial. Natural de Panambi, Luiz Pires, 74 anos, foi a Ibarama para ensinar e ajudar o agricultor. E experiência nisso ele tem de sobra. “Estou há 65 anos nesse ramo. Comecei com o meu pai, nos tempos de criança.” A ideia de processar a erva-mate direto na propriedade surgiu quando a mãe de Pires foi diagnosticada com diabetes. Um médico recomendou que ela continuasse bebendo chimarrão.
A carijada que resultou no documentário inspirador para Raminelli, inclusive, teve a participação de Luiz Pires em São Miguel das Missões, com os índios de Giruá. Raminelli, ao absorver o aprendizado da produção nos carijos, pretende seguir com a atividade e já pensa no futuro. “Aprendemos muito com eles. Vou fazendo aos poucos, até acertar e conseguir uma erva de boa qualidade, ecológica e orgânica para colocar no mercado”, projeta. Experiência nisso não lhe falta. Afinal, lida diretamente com a venda de seus produtos para supermercados, restaurantes e merenda escolar.
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