Durante cerca de três horas, um agricultor de 54 anos, do interior de Vera Cruz, foi mantido na mira de um bando na manhã dessa quarta-feira. Armados e encapuzados, os bandidos ingressaram na propriedade da vítima nas proximidades da RSC-153. Pouco tempo antes eles tinham tentado atacar um caminhão e roubar uma carga de fumo. No entanto, o caminhoneiro jogou o veículo sobre o carro do bando, que teve que fugir a pé.
O produtor rural foi obrigado a transportar os cinco criminosos até Barros Cassal. No trajeto os bandidos ainda o fizeram parar em um posto para abastecer. Após ser libertado, ele procurou ajuda na Brigada Militar. Ainda assustado, o agricultor, que não quer ser identificado, conversou na tarde desta quarta-feira com a Gazeta do Sul. Confira a entrevista.
Gazeta – Quando eles chegaram, o senhor estava onde?
Agricultor – Eu estava embaixo do galpão. Dois chegaram direto em mim, e três queriam ir na casa porque achavam que tinha mais pessoas. Quando viram que não tinha mais ninguém lá, um deles me chamou. Queriam um carro pra fugir.
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Gazeta – E todos armados?
Agricultor – Sim, todos armados. Eram quatro armas compridas e uma pistola. Eu acho que eram duas 12, uma pistola, e uma parecia ser uma metralhadora, pelo carregador.
Gazeta – Eles queriam fugir logo?
Agricultor – Sair daqui era uma grande preocupação pra eles. Pra mim, se levassem só a Kombi era melhor. Meu grande medo era eu levá-los e não voltar. Eu disse: “Só tenho uma Kombi. Isso é só uma condução”. Mas eles queriam que eu fosse o motorista. Eu disse: “Rapaz, nem banco não tem”. Eu tirei os bancos de trás porque faço uns fretes. “É melhor pra nós.” Porque eles queriam ir sentados dentro. Quatro foram na caixa do veículo, e um na frente. Os quatro estavam com capuzes.
Gazeta – E foram por onde?
Agricultor – Quando a gente saiu daqui, queriam ir em direção ao trevo, mas eles mesmos não sabiam qual era o trevo. Eu perguntei, “É 287?”. Eles estavam comentando que queriam ir pra Soledade. Aí eu disse: “Vocês querem ir pra 287 ou subir a Serra?”. “Subir a Serra”. Na hora que chego ali, eu enxergo a Brigada. Eu disse: “Nós temos que ir por fora”. E eles: “É melhor em estrada de chão, vai, vai”. Lá no Vale do Sol, nós subimos. Foi quando eu falei: “Eu estou com pouca gasolina na Kombi, não sei até onde vocês vão querer ir”.
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Gazeta – E o que eles fizeram, então?
Agricultor – Perguntaram: “Quantos quilômetros dá?”. “Uns 15 ou 20 quilômetros eu consigo fazer.” “Então vamos até o primeiro posto”. Até ofereci: “Pega a kombi e vão”. Mas não. Antes do posto, lá à direita, descarreguei os quatro que estavam atrás e o de cara limpa foi junto comigo no posto. “Já que tu está fazendo essa viagem pra nós, vamos te pagar essa viagem.” Eu estranhei, “pagar a viagem”. Mas ele puxou o dinheiro e me deu R$ 250 pila. O cara que foi junto no posto falou: “Tu não desliga a kombi lá e abastece”. Antes do posto, ele disse assim: “Aqui 100 pila pra abastecer”. Abasteci e tive que voltar pra buscar eles. Eles ficaram antes do posto, num matagal. Um quilômetro antes do posto. E daí fomos embora.
Gazeta – Um deles estava sempre junto com o senhor?
Agricultor – Ele estava acho que com uma metralhadora, dava pra ver o carregador. Depois ele trocou, deu a metralhadora pra outro que ficou escondido e colocou uma pistola na cintura. A minha ideia era ir no posto e, como era só um, eu queria saltar fora. Mas não sei explicar. Não consegui.
Gazeta – E onde o senhor deixou eles?
Agricultor – Nós saímos do asfalto e acho que deu mais uns quatro ou cinco quilômetros de estrada de chão. Lá no Passo da Laje. Eles avisaram: “Lá adiante nós vamos descer, porque vai ter um cara nos esperando”. O meu medo era que me dessem um tiro. Mas eles disseram: “Nós vamos ficar aqui. Um cara vai nos pegar. Volta tranquilo. Não corre e não registra queixa, porque nós sabemos onde tu mora”.
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