Dias atrás, ao chegar em casa, me deparei com a Yasmin e a Ágatha chorando, cada qual em um canto da cozinha. Ambas haviam brigado – chegando às vias de fato, como se diz no jargão legal. E a Yasmin, embora um ano mais velha, havia levado a pior, atingida na cabeça por um golpe desferido com uma boneca.
Diante disso, passei à fase de interrogatório, começando pela suposta autora. Ágatha confessou a agressão e apresentou “a arma do crime” – uma Cinderela, com cerca de 50 centímetros de altura.
– Mas pai, a Yas-uin me chamou de burra – alegou.
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Por um lado entendi a revolta da caçula, pois a palavra “burro” também me é intragável. É um mal genético. Podem me chamar de gordo, quatro olhos, nerd… mas dói quando a inteligência é questionada. Mesmo assim, expliquei – e não foi a primeira vez – que é feio bater e nada se resolve com briga. E logo as duas estavam brincando novamente e a vida seguiu, pois é o que acontece entre irmãos pequenos. Eventualmente brigam, cabendo a nós, pais, educá-los de forma a, gradativamente, aprenderem a resolver seus conflitos de maneira civilizada.
É por isso que nos deveria causar estranheza quando adultos partem para a agressão física. Mais ainda, quando tais adultos são pessoas encarregadas de manter a paz e a harmonia. E mais ainda quando os adultos em questão pertencem a uma tropa que está entre as mais bem treinadas dentre as forças policiais gaúchas.
Confesso, portanto, ter ficado impressionado com o volume de denúncias de agressão envolvendo policiais do BOE, que vieram da Capital para atuar na segurança da Oktoberfest. Como ex-repórter de Polícia – aliás, um dos que por mais tempo atuaram nessa área aqui na Gazeta – seria hipocrisia minha dizer que nunca antes houve queixas de agressões na festa. Mas eram casos relativamente isolados: uma cassetada aqui, uma gravata ali, muitas vezes envolvendo gente que realmente provocou confusão – não que isso justifique abusos, obviamente.
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Porém, desta vez, chama a atenção o volume de denúncias que circulam pelas redes sociais. Verificamos pelo menos cinco casos de pessoas que afirmam ter apanhado feio. E são pessoas conhecidas na comunidade, empresários, um professor, trabalhadores, gente do bem. Não vou me estender no assunto para evitar prejulgamentos, mas trata-se de denúncias contundentes e que exigem a devida apuração dos fatos, para que ocorra justiça e se evite novos episódios como esses. E – se for mesmo o caso –, para distinguir o joio do trigo, não deixando sofrer com essa pecha tantos outros PMs que honram a farda, lutando diariamente em defesa do cidadão.