Nossa caçula, Ágatha, anda meio desconfiada do Papai Noel. Especula que talvez ele sequer exista e que – vejam que absurdo – seja apenas uma invenção dos adultos para agradar (ou, eventualmente, assustar) as crianças. As suspeitas começaram no ano passado, durante um evento natalino, quando ela viu um sujeito vestido de Bom Velhinho ajustando a barba, visivelmente postiça. Mas após um ano de profundas reflexões, concluiu que isso ainda não era prova cabal da inexistência do Noel.
– Aquele era um Papai Noel falso, não é o que vem aqui em casa – confidenciou, tempos atrás.
Ainda assim, um fio de desconfiança persiste. Há alguns dias, enquanto recolhia guloseimas deixadas pelo Bom Velhinho aos pés da árvore de Natal, insinuou que talvez a surpresa não tenha sido obra dele.
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– Será que é mesmo o Papai Noel quem deixa os doces no pinheiro? Ou seriam, talvez, certas pessoas que vivem aqui em casa? – Inquiriu, escrutinado a mim e a Patrícia com olhos firmes, em busca de alguma reação que nos denunciasse.
Com esforço, mantive o semblante neutro, típico dos inocentes injustamente acusados. Mas Ágatha insistiu.
– Acho entranho que os doces só apareçam no pinheiro depois que vocês vão ao mercado…
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É mesmo uma coincidência estranha. Sabe-se lá quantos inocentes já foram condenados por coincidências estranhas…
Felizmente, com a aproximação do dia de Natal, Ágatha deixou as desconfianças de lado. Talvez seja uma estratégia que adotou para o caso de suas suspeitas estarem erradas. Afinal, considerando a hipótese de que o Papai Noel realmente exista – e espione as crianças escondido atrás das árvores do quintal, com intuito de anotar em sua caderneta eventuais traquinagens –, demonstrar publicamente tais desconfianças seria um risco. O Papai Noel certamente ficaria profundamente aborrecido com essas suspeitas, o que poderia comprometer a entrega dos presentes.
Inclusive, Ágatha já escreveu há bastante tempo sua cartinha com os pedidos. Por mera curiosidade, tratei de interceptar a carta para espioná-la, antes que Papai Noel a levasse, e constatei que ele terá que prestar muita atenção para evitar deslizes. A carta é bem específica: uma Barbie Fada (ou seja, não pode ser uma Barbie qualquer), um slime cor-de-rosa e um unicórnio de pelúcia.
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Mas, por outro lado, é possível que Ágatha tenha simplesmente se rendido à magia do Natal e concluído que é bem mais divertido esperar ansiosa pela chegada do Papai Noel do que desconfiar dele. Prova disso é que desenhou um calendário em uma folha ofício e, toda noite, risca o dia que passou, para saber com precisão quando será o Natal, data da ceia, da celebração pelo nascimento de Jesus e, claro, da visita do Bom Velhinho – no caso, o verdadeiro, não o da barba postiça.
Yasmin, a irmã um ano mais velha, decidiu fazer o mesmo. Porém, Yasmin é mais dada ao estético do que ao pragmático e elaborou, com papel, cola, tesoura e caneta hidrocor, um engenhoso calendário que é uma verdadeira obra de arte. Para cada dia há uma janelinha a ser aberta, que esconde um desenho de Natal: pinheirinhos, toucas, guirlandas, pacotes de presente, sininhos e até um panetone. Há mais, atrás das janelas ainda fechadas.
Aliás, a Yasmin, que já completará 9 anos dia 17 de janeiro, ainda não abre mão de também escrever, por via das dúvidas, sua cartinha ao Noel. Este ano, pediu apenas um par de pés-de-pato – com os quais planeja enfrentar o oceano durante as férias – e ainda justificou, ao final: “Por enquanto é só, pois logo vem meu aniversário.” Papai Noel gostou da carta. Afinal, Natal também é tempo de renovar os bons sentimentos, dentre os quais a simplicidade e a austeridade.
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