Para garantir o presente, nossa caçula, Ágatha, está tramando aplicar uma mentira no Papai Noel. Acontece que, embora já tenha 4 anos, ela mantém um curioso vício… em leite materno. Obviamente que uma criança tão grande, ainda mamando no peito, gera muitos aborrecimentos à Patrícia. Por isso, com a aproximação do Natal, resolvemos tentar mudar esse hábito apelando para o lado obscuro do bom velhinho.
Afirmamos que Papai Noel vai perguntar quem ainda toma “titi”, pois estes não ganhariam presentes. “Então vou mentir para ele”, foi a pronta resposta que escutamos. “Quando Papai Noel perguntar” – e aqui Ágatha engrossou a voz –, “‘hô, hô , hô, você ainda toma titi?’, eu vou responder: ‘ora, é claro que não!’” O golpe é tão elaborado, que ela planeja passar maquiagem no rosto para evitar que fique corado na hora da mentira.
Tal ousadia da pitoca talvez sugira que Papai Noel está ficando mole. Não impõe mais o mesmo respeito que tinha em nossa infância, quando espreitava escondido as travessuras, avaliando quem merecia ganhar presentes. Muito menos emana o medo de seus velhos tempos de Santa Claus, de túnica verde e, segundo alguns, vara de marmelo sempre à mão. Já não anda na má companhia do Pelznickel, um tipo maltrapilho que metia os malcriados em um saco.
Graças a Deus. Fruto de uma fusão de lendas de diferentes partes do mundo – talvez melhorado pelo pessoal da Coca-Cola –, o Papai Noel pode ser encarado como uma espécie de herói mítico contemporâneo. E, na qualidade de herói mítico que se preze, cabe a ele evoluir juntamente com nossos conceitos de bem e mal. Enquanto até o final do século passado o senso comum incentivava os castigos físicos como pedagogia e tolerava a violência para fazer prevalecer certas visões, hoje compreendemos que a educação vem do diálogo e não há nenhum caminho para a paz que não seja a própria paz.
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Portanto, o Papai Noel de hoje é compreensivo, caridoso, guia-se pelo politicamente correto e prefere uma conversa franca a varadas, mesmo sob risco de ser enganado. O Noel de hoje é fruto de nossa evolução cultural, que, embora nem sempre seja colocada em prática, existe.
O mérito desta evolução cultural, claro, não é do Papal Noel. É de gente de carne e osso, que fez ou faz a diferença – Gandhi, Luther King, Madre Tereza, Mandela, Betinho, Dalai-Lama, aquele seu amigo que não fica em silêncio diante das desigualdades e aquele vizinho que jamais deixa na mão quem bate a sua porta em busca de ajuda. Sem falar no milenar exemplo deixado pelo aniversariante desta semana.
Enfim, perdão ao leitor que chegou aqui concluindo que divaguei demais. Mas é Natal. Que época melhor para divagações e reflexões? E quanto à Ágatha e seu plano? Bem, teremos que ter uma boa conversa.
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