O ano que vai começar traz consigo um clima de grande expectativa para nossa caçula, Ágatha, e para a irmã um ano mais velha, a Yasmin. Não só pelas atividades detalhadamente planejadas para as férias de verão ou pelas mudanças que virão depois – novas turmas e profes, novo material escolar, novas disciplinas –, mas também pela possibilidade de tomarem a vacina contra a Covid. Ambas já sabem que a vacinação de crianças deve começar em janeiro, e garantem: não têm medo da injeção.
– Eu, pelo menos, não tenho – assegurou-me a caçula, toda gabolas. – Já a Yasmin… não sei… – acrescentou, em tom zombeteiro.
Claro, na hora em que estiverem frente a frente com a agulha, certamente vai bater-lhes um frio na barriga. Mas então será tarde demais, não haverá como fugirem do posto de saúde. Uma fuga dessas, avançando em desabalada carreira por corredores e salas de espera, esquivando-se de médicos e enfermeiros, seria até vexatória para as gurias, que se orgulham de sua coragem. Ainda assim, se tal ideia lhes passar pela cabeça, estarei lá, vigilante, para garantir que tudo corra bem. Deixar de vacinar as duas traquinas está totalmente fora de cogitação.
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Desde a descoberta da vacina, tenho insistido, inclusive nesta coluna, sobre a importância de imunizar as crianças, relegadas ao último lugar da fila de vacinação – em parte, compreendo, pela necessidade de mais testes para afastar os riscos de efeitos adversos. Agora que a ciência deu sinal verde, sinto-me não só tranquilo, como também na obrigação de levar as pequenas ao posto de saúde. Trata-se de uma obrigação prevista, inclusive, no Estatuto da Criança e do Adolescente. O texto afirma, no artigo 7, que os menores “têm direito à vida e à saúde”.
Diante disso, fico estarrecido com o zum zum zum sobre pais que planejam negar aos filhos o direito à vacina, sob pretextos político-ideológicos. Vivemos em uma democracia – vale sempre lembrar – e todos têm direito a nutrir suas preferências político-ideológicas. E tais preferências, sejam quais forem, sejam de direita, de centro ou de esquerda, merecem – vale também sempre lembrar – respeito. Seja nas urnas, nas arenas de debate ou nas manifestações públicas, a política cobra respeito e civilidade para com quem pensa diferente de nós. É assim que a democracia funciona.
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Contudo, não me parece que preferências político-ideológicas estejam acima da defesa da vida. Principalmente, quando se trata da vida das crianças. E o argumento de que tal decisão se embasa no receio de supostas reações adversas em um futuro longínquo, sinceramente, não cola. Não depois que a ciência, com todos os seus protocolos de pesquisa, de revisão por pares, de testes rigorosos, chega e suplica aos pais que vacinem seus filhos.
Negar a ciência é ignorar os méritos de uma tradição que, ao longo de milênios de pesquisa e descobertas, alçou o homo sapiens ao status que tem hoje, o de um quase super-homem, cercado por tecnologias e possibilidades inimagináveis a nossos ancestrais. Negar a ciência é ignorar a própria história da humanidade.
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Essa discussão toda passa batida entre as gurias lá de casa. Ágatha e Yasmin, crianças que são, ainda não dão a mínima para polêmicas e debates político-ideológicos. O que querem é tomar a vacina o quanto antes, para sentirem-se mais seguras – e isso foram elas mesmas que me disseram.
Querem, também, o carimbão na caderneta, para esfregá-lo na cara de quem insinuar que ainda não estão minimamente protegidas contra a Covid. Querem comprovar que atingiram o mesmo status dos adultos e dos dois irmãos adolescentes, já vacinados.
Talvez por isso, desta vez as marotas não fizeram nenhuma menção de cobrar certos subornos – agrados ou mimos tradicionalmente solicitados, às vezes de forma sutil, às vezes ostensiva, em troca de comportarem-se bem na hora da injeção.
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O que elas querem, mesmo, é a vacina no braço.
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Aos amigos leitores, vai o meu desejo de um feliz Ano Novo. Creio que 2022 será, sim, um ano melhor do que foi 2021.
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