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Ágatha detesta tomar xarope

Com a chegada de dias gelados, como nesta semana, volta a velha discussão sobre o que é melhor: se o frio glacial do nosso inverno ou o mormaço do nosso verão. Trata-se de um debate totalmente inócuo. Na prática não faz diferença se preferimos o verão ou o inverno, tampouco vale a pena brigar por isso. As estações vão continuar se sucedendo, como na composição de Vivaldi, quer gostemos ou não. 

Mesmo assim, gasta-se saliva, papel e tinta nesse debate. Até o Pedro Garcia abdicou de seus exímios comentários de política, semanas atrás, para defender o inverno aqui neste espaço. É um moço novo, sem filhos… 

Lá em casa, cada uma das crianças reage ao inverno a sua maneira e, no conjunto, me levam a crer que não há chocolate quente ou vinhozinho à beira da lareira que justifique gostar do frio.  

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O Ricardo Júnior, por exemplo, fica meio surdo nesta época. O fenômeno ocorre porque, no crânio, tudo está interligado. Enquanto alguns sofrem com o nariz trancado, outros ficam com os ouvidos fechados. Afirmações com determinadas frequências sonoras – tais como “vai arrumar seu quarto” ou “pare de provocar suas irmãs” – tornam-se totalmente inaudíveis ao nosso filho adolescente. E, para ouvir música, é preciso colocar o rádio no último volume. 

Já no caso da Isadora, a mais velha das gurias, as secreções vão parar nos olhos. Ela acorda desesperada, à noite, imaginando que as pálpebras vão colar e que nunca mais poderá abrir os olhos novamente. Precisamos acudi-la com urgência, esfregando-lhe nos olhos a velha receita de chá de camomila, para limpar as secreções e evitar que o pânico contagie os demais. 

A Yasmin, tadinha, sofre com a rinite. E os acessos de tosse vêm seguidos de um mau humor terrível. Mas, nesses três casos, sempre conseguimos contornar a situação, também com a ajuda dos avanços da indústria farmacêutica. Quem realmente nos dá um baile no inverno é a caçula, Ágatha. Ela detesta remédios. 

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É um fenômeno estranho. As irmãs mais velhas até encenam acessos de tosse, só pelo gostinho doce do Melagrião. Mas a Ágatha não. Ela se nega a tomar xarope ou outros medicamentos via oral. 

Vira o rosto, tampa a boca com as mãos, cospe o remédio. Passa a noite tossindo, mas não se rende. “Toma o remedinho, Ágatha. É docinho…”, argumentamos. “Não quero! Coff, coff. Não gosto. Coff, coff. Não tomo.” “Mas por que não?” “Ora…, coff, coff. Porque não!”

Até que o cansaço vence a tosse e Ágatha acaba dormindo, lá pelas 2 horas da madrugada. Chega então, finalmente, aquele momento em que podemos usufruir do que esta estação tem de melhor a oferecer: uma boa noite de sono, sob uma pilha de cobertores grossos.  

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Mas então, chegam-nos gritos tão altos que acordam até o Júnior: “Paiiiiii, mãeeeee, socorro! Meus olhos estão colando…”

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