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Ágatha desconfia do coelho

Andaram me cobrando mais histórias da nossa caçula Ágatha, de 4 anos, neste espaço. Disseram que é ela quem dá graça as minhas crônicas. Chegaram ao cúmulo de afirmar que eu não preciso expor aqui minhas filosofias e devaneios, bastando contar mais causos envolvendo a Ágatha. Se é para ser assim… vamos ao mais recente episódio, quando a traquinas demonstrou todo o seu ceticismo em relação ao Coelhinho da Páscoa. 

Foi na noite de segunda-feira passada, depois que a Patrícia encontrou na despensa uma fantasia de coelho, toda feita em espuma, dos tempos em que o Ricardo Júnior ainda acreditava no dito cujo. Como a Páscoa se aproxima e as irmãs mais velhas já dormiam, resolvemos testar o efeito da fantasia sobre a caçula. 

Enquanto fiquei de olho na Ágatha, que brincava na salinha da bagunça, a Patrícia foi até a varanda, no lado de fora, de onde apareceria na janela com a fantasia. A operação, porém, começou de forma tensa e estranhei a demora até o surgimento do coelho. Conforme a Patrícia me contou depois, nosso boxer custou a recolhecê-la. “Calma, Hércules, sou eu”, teve que sussurrar, enquanto ele rosnava, ensaiando um ataque ao Coelhinho da Páscoa.  

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Na hora da aparição deu tudo certo. A escuridão da noite criou um efeito curioso e, de dentro de casa, só se via a silhueta, com as enormes orelhas. Ágatha ficou paralisada e arregalou os olhinhos. “Paiiii”, chamou baixinho. “Acho que é o coelho…” 

Quando a silhueta abanou, Ágatha retribuiu. Quando jogou doces para dentro, ela até sorriu. Mas achou prudente não chegar muito perto. “Estou com um pouco de medo”, confidenciou, baixinho. 

Depois que o coelho se foi, a pequena passou a narrar à Patrícia a estranha visita, exibindo os doces como prova do que relatava. Mas então parou, com ar pensativo, e encarou a Patrícia. “Mãe, onde você estava?”, interrogou. “Eu? Ah, tomando banho…” Ágatha, porém, adotou um ar inquisitório: “Tem certeza de que não estava na janela, com uma fantasia?”, pressionou. 

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Diante das negativas, passou a elaborar outras hipóteses para explicar a aparição. “Será que foi alguma vizinha?” “Quem teria uma fantasia dessas aqui na rua?” “As mãos não eram peludas…”

Foi duro convencê-la de que poderia ter sido o verdadeiro Coelho da Páscoa. Na minha época, aceitávamos mais facilmente essas histórias. Em uma quaresma, fui enganado por um chumaço de algodão colocado entre arbustos. Talvez não fôssemos tão astutos porque não tínhamos tamanho  acesso a informações como as crianças de hoje. Mas, por outro lado, talvez por isso nossa infância tenha sido mais mágica e… – opa, já estou filosofando, não era esse o combinado.
 
Enfim, no dia seguinte Ágatha relatou o ocorrido às irmãs. E a Yasmin, dois anos mais velha, franziu o cenho, preocupada, antes de sentenciar: “Pelo visto, alguém invadiu nossa casa…”

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